Quem esteve desempregado nos últimos anos provavelmente acabou colocando seu
currículo na Internet, em sites que auxiliam na busca de um novo emprego. Este é
um caminho cada vez mais utilizado por profissionais à procura de oportunidades.
Mas e quando a exposição do profissional na rede traz abordagens inesperadas e
até mesmo desagradáveis?
Por exemplo, quando empresas de assessoria à recolocação profissional ligam e
oferecem uma vaga exatamente com o seu perfil, deixando entender que um novo
emprego está batendo à sua porta? O que fazer?
Já parou para pensar o que isso causa na cabeça de quem está desempregado? Nessa
hora, é certo que esta empresa cobre para oferecer serviços de recolocação
profissional?
Como presidente da Curriculum.com.br, trabalhando com Recrutamento Online há
mais de 8 anos, meu posicionamento é claro: é errado, antiético e ilícito iludir
um candidato que busca recolocação profissional com falsas promessas de emprego
e, nesta hora, vender-lhe qualquer serviço relacionado à sua recolocação
profissional, baseando-se na falsa promessa de recolocá-lo.
Por outro lado, é correto, sim, receber por serviços que auxiliam o candidato no
seu processo de recolocação profissional na busca de um novo emprego.
Mas então, onde está a diferença?
A diferença está no seguinte fato: quando uma consultoria de Recursos Humanos
realmente tem em suas mãos uma vaga para ser preenchida, ela já está sendo paga
por uma empresa que a contratou justamente para encontrar um bom candidato.
Já uma consultoria de recolocação profissional, prestando serviços que auxiliam
na busca de um novo emprego, nunca tem vagas em aberto em suas mãos. Os clientes
desta consultoria são os candidatos que buscam emprego, e não as empresas que
oferecem vagas.
Em poucas palavras: a consultoria que tem a vaga não auxilia o candidato a
arrumar emprego, pois sua cliente é a empresa. A consultoria que auxilia o
candidato a encontrar um emprego não tem a vaga, pois seu cliente é o candidato.
É importante neste momento deixar claro que é lícita, sim, a prestação de
serviços que auxiliam na recolocação profissional, bem como cobrar por estes
serviços.
Numa análise de currículo, por exemplo, profissionais com experiência em
recolocação e Recursos Humanos podem ajudar o profissional a melhorar seu
currículo. Isso porque as pessoas em geral não sabem como dispor as informações
num currículo, o que colocar e o que não colocar. Erram no português, na forma
de se expressar, deixam de salientar pontos importantes e dizem coisas que não
deveriam ser ditas. Não é mentir, é apenas salientar as qualidades de forma
correta. E é justo para quem presta esta assessoria receber pelo serviço.
Da mesma forma, é lícito e correto orientar uma pessoa sobre como se portar numa
entrevista de emprego. Que roupa usar, o que falar e o que não falar, o que
fazer e o que não fazer. Nesta linha, existe até algo chamado role play, que é
uma entrevista de emprego simulada em que o consultor contratado pelo candidato
age como se fosse a pessoa do RH que vai entrevistá-lo. No final, o consultor
faz uma entrevista devolutiva com o candidato, informando onde ele acertou, onde
errou e o que precisa melhorar.
Mesmo a cobrança de testes psicológicos é lícita, pois quem os aplica deve
comprar e pagar por tais testes, além de poder, por direito, cobrar pelo ato de
aplicá-los e interpretá-los. Tudo isso é correto, honesto e ajuda muito os
candidatos a melhorar seu desempenho nas entrevistas.
A titulo de exemplo, uma grande empresa treinou 120 jovens numa determinada
função de TI. Depois, estes jovens foram procurar emprego. Sabe quantos
conseguiram? Nenhum! Por quê? Não sabiam “se vender”, ou vender suas qualidades!
Em outras palavras, estavam totalmente despreparados para uma entrevista de
emprego.
Por outro lado, não existe a circunstância em que uma empresa tem uma vaga e,
aí, cobra do candidato para indicá-lo a esta vaga. Isso é picaretagem.
Quando a consultoria é contratada por uma empresa para selecionar candidatos e
preencher uma vaga, ela deve selecionar o melhor candidato para esta vaga.
Iniciará um processo de recrutamento e seleção que irá apontar o melhor
candidato. Quem paga por este processo é a empresa. Portanto, consultorias assim
jamais podem receber para favorecer algum candidato em especial.
Isso é o que distingue uma consultoria boa e ética de uma ruim e picareta:
vender a ilusão de que existe uma vaga em aberto e cobrar do candidato para lhe
vender serviços ou mesmo prometer de que irá recolocá-lo profissionalmente.
No entanto, é isso que vem acontecendo. Portanto, todos aqueles que buscam
emprego precisam se precaver. Há de se tomar muito cuidado com abordagens deste
tipo, pois neste momento, as palavras utilizadas e o encanto provocado são
extremamente atraentes para quem procura oportunidades de trabalho.
Por exemplo, imagine uma secretária de diretoria bilíngüe, desempregada. Ela
recebe um telefonema de uma consultoria, dizendo “Olá, dona Beltrana, tenho aqui
uma vaga de secretária de diretoria bilíngüe, numa multinacional. A senhora se
interessa por esta vaga?”
Como você acha que isso soa no ouvido da candidata? Como música!
É aí que a consultoria picareta cobra do candidato a participação dele no tal
“processo seletivo” para concorrer a uma vaga fantasma, que não existe de fato,
mas é inventada e mencionada apenas para atrair o pagamento por alguns serviços
que a consultoria deseja vender. Mas ainda pior é que tais serviços, na maior
parte das vezes, nem sequer são efetivamente realizados.
Percebe a diferença? Isso é picaretagem!
No entanto, como já disse, um candidato em busca de orientação pode, sim, pagar
uma consultoria para aprimorar seu processo de recolocação. Isto é lícito e
correto. Ele paga para melhorar seu currículo e a si mesmo, como profissional,
na busca de emprego.
A linha é tênue, mas é muito importante distinguir corretamente o certo do
errado, de modo que o candidato não entre numa fria nem deixe de ser
competitivo.