Em termos de empresa, produtos e serviços, hoje, imagem é tudo. Ou pelo menos
quase tudo. De uma forma ou de outra, todas as empresas procuram conquistar
novos clientes e manter os antigos mostrando sua melhor face para o consumidor.
O interessante é observar como cada empresa busca (re)construir essa imagem.
É evidente que, hoje em dia, diante das conhecidas limitações e incapacidades de
alguns órgãos governamentais, uma forte atuação em responsabilidade social,
fornecendo ajuda a comunidades carentes, põe a empresa sob os holofotes da
admiração popular e isso, direta ou indiretamente, se reverte em mais vendas e
mais lucro. Agora os consumidores se interessam em saber como os fabricantes
empregam o dinheiro do lucro que ele, consumidor, proporciona ao comprar seus
produtos e serviços.
A realidade tem mostrado que fazer o bem faz bem. Que o diga o crescimento do
chamado Terceiro Setor. Conforme pesquisa feita pelo The John Hopkins Center for
Civil Society Studies - realizada em 35 países, incluindo o Brasil - o setor
emprega atualmente 39,5 milhões de pessoas e só no Brasil esse número chega a
1,2 milhões de trabalhadores. Aqui há cerca de 250 mil ONGs (organizações não
governamentais) que movimentam aproximadamente R$ 12 bilhões por ano.
No Brasil já há muitas empresas que, por vantagens fiscais, por consciência da
cidadania ou por um real sentimento de solidariedade humana, investem nas mais
diversificadas ações sociais. Não deve ser por acaso que aquelas organizações
classificadas pela revista EXAME como "as 100 melhores empresas para você
trabalhar" atuam com destaque nessa área. Ou seja, a conquista pelas boas ações
não funciona só junto ao consumidor, mas também junto ao próprio cliente
interno, o funcionário.
Naturalmente, o público não é bobo e sabe quem está sendo "bonzinho" por mera
manipulação e quem está sendo verdadeiro em suas intenções. O consumidor está
atento porque sabe que nem todo mundo é bem intencionado.
A seção "Mídia & Marketing" do jornal Gazeta Mercantil do dia 3 passado, sob o
título "Consultorias americanas mudam de nome para ocultar parentesco", informa
que "os recentes escândalos contábeis envolvendo grandes grupos empresariais
junto com suas auditorias e consultorias, estão virando uma demonstração pública
do caminho mais fácil para se destruir uma marca." Ou sair pessimamente na
foto....
Olhem só: a PwC Consulting vai mudar o nome para Monday, a Deloitte Consulting
avisou ao mercado que passará a chamar-se Braxton. Lembram da KPMG Consulting?
Vai mudar o nome para BearingPoint e deve gastar até cerca de US$ 40 milhões em
campanhas publicitárias de divulgação da nova assinatura. Por que será? Se o
motivo for ressuscitar a antiga marca que existia há 20 anos, será que a
estratégia funcionaria com a Enron? E com a WorldCom?
Lá estou eu outra vez me metendo em praias que não a minha, que é o
comportamento nas empresas. Mas já que comecei, não custa pegar carona nessa
introdução. Sabe aquele colega (chefe ou não) tido como intragável, enfezado ( !
) e azedo? Pois é. Ele assistiu a uma palestra ou participou de um seminário
(vai ver que um dos meus....) e decidiu mudar a imagem. Quer ser visto como um
"cara legal". Quer sair bem na foto... E agora? Quantos colegas você conhece
que, por causa de queixas dos companheiros de equipe ou até de clientes, depois
de serem advertidos pela empresa (através das chefias), ou até mesmo aconselhado
por amigos, decidem mudar de comportamento para melhorar a imagem na foto?
Todo ser humano tem a capacidade de promover mudanças, porque todo ser humano é
dinâmico em essência. As vezes tenho a impressão de que algumas pessoas não
sabem disso - ou não acreditam nisso - e permanecem como estátuas ao longo da
vida. "Eu sou assim mesmo e quem quiser gostar de mim TEM QUE me aceitar como
sou!" Tá bom. Conta outra.
O que quero lembrar ao leitor é que é muito mais fácil criar uma imagem pessoal
do que desfazer-se de uma já disseminada. Sabem aquela história da primeira
impressão é a que fica? Pois é. Depois o sujeito tem fama de chato, grosso,
mandão, maria-vai-com-as-outras, marcha-lenta...e não sabe porque.
Não é porque eu sou psicólogo, mas sempre achei que todo mundo, durante um certo
período da vida, deveria submeter-se a uma breve psicoterapia. "Conhece-te a ti
mesmo", recorda? É maravilhoso, quando necessário, exercer o poder de promover
mudanças internas e para isso o primeiro passo é o auto-conhecimento.
Mudar interiormente é um dos mais revolucionários atos que uma pessoa pode
praticar. Mas isso requer firmeza de decisão, empenho e esforço. A teoria da
Análise Transacional - meu principal instrumento de trabalho - propõe que todo
comportamento é aprendido na infância - às vezes adequada, outras vezes
inadequadamente. Usando da sua autonomia e livre arbítrio, o indivíduo pode
mudar, desde que queira, julgue conveniente e se esforce para isso. Somos
responsáveis pelo nosso comportamento, apesar de existir quem adote a cômoda
posição de culpar os outros pela péssima imagem na foto.
Faz bem aparecer bem na foto, mas para isso, convém não confiar só no fotógrafo,
só na opinião alheia. Alguns deles desfocam ou borram sua imagem -
voluntariamente ou não. Além disso, fotos enganam porque podem ser retocadas.
Ao invés de trocar de nome ou mostrar falsas atitudes de bondade e simpatia,
talvez o melhor caminho seja investir mais nas próprias competências
comportamentais, entre as quais se destacam a educação, a ética, a
responsabilidade, a afetividade, o bom humor, a espiritualidade. Se assumida com
convicção, não há quem possa arranhar ou desfocar essa imagem. E certamente você
nunca precisará mudar seu nome para parecer que é outro.