Muitos autores já compararam a equipe de trabalho a uma corrente: para ser
forte e servir aos objetivos propostos, é preciso que todos os seus elos estejam
inteiros e fortemente unidos. Se um desses elos se romper, a corrente – até que
seja recomposta – terá perdido sua finalidade.
Há outro aspecto nessa analogia que também se aplica a uma equipe de
trabalho: numa corrente, não há um elo-chefe, um elo mais importante que outro.
Todos são absolutamente iguais e são igualmente necessários para manter a
integridade e a eficácia da corrente.
Assim deveria funcionar uma equipe: uma só cabeça pensante, um só corpo
executante e um só coração pulsante buscando os mesmos resultados.
Imaginem a importância da integridade de uma corrente, qualquer que seja seu
tamanho. Assim como os grupos humanos, há correntes pequenas e correntes
grandes, com poucos ou muitos elos. Visualizem essa corrente segurando,
sustentando ou puxando algo enorme e valioso: um navio, uma carga, um foguete
espacial, uma pessoa, um piano, uma ambulância, um avião. É fácil imaginar as
dramáticas conseqüências causadas pela eventual quebra de apenas um dos elos. E
se essa corrente estiver segurando, sustentando ou puxando uma empresa, não
serão menores as conseqüências negativas.
Se todos os profissionais aceitassem essa analogia como válida, certamente
teriam um cuidado maior para com cada elo e evitariam, a todo custo, que
qualquer um deles se rompesse, quebrando a harmonia e a eficácia do conjunto.
Ao transpor esse simbolismo da corrente para uma equipe de profissionais,
certamente temos que considerar, neste caso, algumas variáveis especificamente
humanas quando ocorre o rompimento: havia um “elo” distorcido ou enfraquecido,
comprometendo a harmonia e eficácia do conjunto – e que, para o bem geral devia
ser substituído? Ou havia um “elo” descontente em fazer parte daquela corrente e
tomou, ele próprio a decisão de deixá-la?
No primeiro caso, estamos falando da decisão do gestor em demitir um membro
da equipe. No segundo caso, quando um colaborador toma a iniciativa do
desligamento.
Como o efeito negativo de ambas as ações é o mesmo – a quebra do conjunto –
estas decisões só deveriam ser tomadas por qualquer das partes mediante o uso
pleno e absoluto da razão, da emoção e do espírito.
Quando ocorre uma união empresa/colaborador, é de se supor que, de início,
tenha havido uma admiração mútua e um desejo recíproco de constituir uma
parceria harmoniosa e produtiva. A partir daí, muitas boas ações e muitos bons
resultados terão sido conseguidos e essa relação pode durar muito tempo. Ou não,
já que empresas e pessoas são entidades dinâmicas, sofrem periódicas alterações
e transformações das mais variadas causas e motivações. E, a uma certa altura,
uma das duas partes pode tomar a iniciativa de deixar o conjunto.
Este é o ponto central deste artigo.
“ Que seja infinito enquanto dure ” – disse o poetinha referindo-se
ao Amor e isso faz todo o sentido do mundo. Mas acrescento: quando não mais
durar, deixou de ser infinito, mas não perdeu a validade, a intensidade e a
dignidade da relação, a lembrança dos bons momentos e a mágica das emoções
vividas. E por tudo isso terá valido a pena. E se valeu a pena, merece respeito
mesmo na hora de ser desfeita a parceria.
O que quero dizer é que nenhum profissional vira desonesto ou mau caráter de
repente, apenas porque deixou o time. Assim como nenhuma empresa vira injusta,
desumana ou antiética apenas por ter sido deixada.
Independentemente de quem tenha sido a decisão de deixar a corrente com um
elo a menos, é preciso respeitar os fundamentos e os sentimentos que deram
origem à parceria. É preciso que, a todo custo, seja preservada a dignidade, a
auto-estima e o respeito de ambas as partes.
Acima de tudo, há o lado humano a ser considerado: poucos acontecimentos
abalam tanto a estrutura de um profissional quanto o fato de ser demitido.
Misturam-se à dor da perda e da insegurança o sentimento de inutilidade. Isso
machuca a razão, a emoção e o espírito – o que nenhum gestor e nenhuma empresa
têm o direito de provocar no elo que está sendo afastado. Da mesma forma, quando
a iniciativa é do colaborador, a equipe tem sentimentos análogos de perda,
abandono, ingratidão e fragilidade.
Certamente no grande palco do mercado de trabalho, demissões fazem parte da
cena. Mas não precisam fazer parte desse espetáculo a falta de respeito e amor
para com quem está sendo abandonado.
Portanto, a responsabilidade de manter esse elevado padrão de dignidade e
profissionalismo, é de ambos os lados.
Que eles compreendam que nenhuma justificativa do mundo poderá ser aceita
para as ações que façam com que anos de um produtivo passado de parceria seja
esquecido e desprezado com uma simples e fria assinatura que decreta a quebra
dolorosa de uma corrente que um dia já foi gratificante.