Vendas - Vender não é uma arte. É criatividade e organização...
Não sou muito ligado a modismos e termos complexos feitos para impressionar
novatos e neófitos, procuro ser prático. Vou exemplificar dificuldades
encontradas num cliente do ramo de restaurantes que aqui preservo em respeito
aos sócios. A situação encontrada, inicialmente, parecia a correta: um ramo
específico (sim você deve se especializar em algo), boa decoração, funcionários
uniformizados, rede de fornecedores organizada, sistemas de controle bancário,
som ambiente, qualidade ímpar. Com esses atributos tudo deveria ser dar muito
certo, correto? Errado...
Após três meses convivendo diariamente naquele estabelecimento percebi os
diversos motivos pelos quais o mesmo não dava certo como deveria. Diversas
pequenas atitudes e grandes mudanças fizeram parte de um plano de reestruturação
da empresa. Inicialmente foi verificado que as funcionárias não possuíam nenhum
treinamento. O segmento de comida (e bebida) light/diet é formada de clientes
exigentes (diabéticos, pessoas com dificuldades para emagrecer, com pressão
alta, alguns atletas e outros preocupados com a saúde do corpo e da mente) e,
assim, as atendentes deixavam a desejar. Ótimas pessoas, mas sem carisma algum e
sem o refinamento que o público ali exigia. Como o tempo nem os recursos
permitiram não lhes foi ministrado um treinamento especializado mas sim, boas
conversas, rodízios e mudanças se fizeram necessárias, inclusive com duas
demissões pois, pelo movimento gerado, havia excesso de gente (e, logicamente,
de despesas). Ainda nesse setor de pessoal havia outro problema: o excesso de
pessoas facilitava o rodízio e cada dia da semana uma folgava mas sobravam
reclamações do tipo: "a funcionária A folgou sábado e eu na 3ª, me senti
prejudicada". Analisando o movimento pude verificar que, aos domingos, apesar do
bom movimento pagava-se hora extra além, claro, do stress gerado
inconscientemente pelo trabalho num dia em que a maioria folga. Resultado: duas
demissões, fechamento do restaurante naquele dia e fim do problema de rodízios,
reclamações e da fonte de stress além, claro, do descanso merecido dos sócios. O
domingo ainda gerava outro problema: era oferecido bacalhau ou salmão que (com
preço diferenciado confundindo clientes), somados às horas extras, mesmo com o
bom movimento, acabava "se trocando seis por meia dúzia" numa promoção do nome
desnecessária naquele momento. Foi analisado o risco de perda de mercado e
fortalecimento de concorrentes vizinhos mas isso foi deixado de lado,
principalmente, porque o segmento é limitado e nas redondezas não havia outro: a
clientela dali, apesar de pequena, era muito fiel.
Na área financeira foi substituída a troca de cheques pré-datados com
fornecedores que agora, profissionalmente, enviam boletos bancários. Assim, numa
eventual emergência, o atraso de um, dois ou mesmo cinco dias, é melhor do que
um cheque sem fundos na praça e desespero dos sócios: mais segurança, mais
profissionalismo e menos stress também. A emissão de dezenas de cheques
mensalmente caiu para cinco ou seis/mês. Ainda há de se somar a bagunça
administrativa que foi organizada, tudo devidamente separado em pastas
específicas, estoque controlado e acesso restrito de pessoas no setor.
Como o local dispõe de um amplo espaço no subsolo, com aproximadamente 180 m²
não utilizados, foram negociados pequenos eventos, festas e recepções diurnas e
noturnas, reforçando o caixa da empresa. As toalhas de mesas, que um dos sócios
lavava em casa, se acumulando sujas num quartinho foram substituídas na forma de
incentivo. Agora uma funcionária as lava em casa e cobra a módica quantia de R$
2,30 para lavar e passar - bem abaixo do preço de uma lavanderia e os clientes
já podem ver a diferença, somada à limpeza perfeita dos protetores plásticos de
mesa (tipo "jogo americano") e de tomadas, pisos (lavados diariamente). A
funcionária teve um reforço de aproximadamente 15% em seus salários e isso
serviu de incentivo também. O preço também se manteve fixo para todos os dias
independentemente do tipo de comida. Se um dia são servidas opções mais caras
outras mais baratas em em promoção são agregadas deixando o preço médio de custo
junto a fornecedores viável, de forma que a margem obtida seja suficiente para
os demais encargos (luz, água, gás, condomínio, aluguel, funcionários, contador,
impostos, taxas bancárias e, se sobrar para marketing e retirada de pró-labore
dos sócios).
Outros detalhes foram observados: como, no almoço, o horário de funcionamento é
de 11:30h às 15:00h, as 14:00h a cozinha é desligada e luzes diminuídas. Quem
chega após esse horário não exige comida em larga escala e fresca num
restaurante tipo self-service. Dessa forma houve economia no consumo de gás e
energia perto de 10%. Afinal também da diminuição de gastos provém o lucro.
Após essas providências outras se seguiram: negociação de preços e prazos com
fornecedores que tinham no estabelecimento um cliente fidelizado que honrava
seus compromissos em dia. Resultado: 90% deles negociaram de alguma forma
(preços ou prazos sem acréscimos). Além disso as diversas pequenas compras em
supermercados foram, na maioria, supridas com os próprios fornecedores. Isso
trouxe menor cansaço e desgaste dos sócios e economia em tempo, gasolina e, de
novo, em stress. Foram chamados, mais tarde, diversas associações e empresas
para negociação e criação de convênios e contas, algumas delas com a garantia de
desconto em folha (o risco do não pagamento caiu muito). Além disso convênios
com todos os cartões de débito e crédito e tickets (tanto em papel quanto
cartões). Alguns convênios com operadoras que oferecem descontos a clientes
fidelizados também foram assinados. Juntos aos bancos foi negociado a
antecipação automática dos cartões de crédito e "vale alimentação" diariamente
de forma que o gasto com juros de cheque especial e empréstimos sejam reduzidos.
Por fim, produtos que agregaram valor foram somados (novos tipos de bebidas e
doces, balas, sobremesas).
Tudo organizado foi-se ao marketing para se montar uma estrutura de divulgação,
baseada em baixos custos, com parcerias em meios de comunicação. Um belo site
foi criado, contendo fotos e o cardápio antecipado dos próximos trinta dias,
gerando muita confiança aos clientes. Um atendimento mais refinado e a presença
constante dos donos se comunicando com seus clientes no caixa e circulando no
salão facilitou o intercâmbio e a amizade entre os mesmos, formando um elo mais
difícil de ser quebrado entre as partes um tipo de "negócio-amizade". As
máquinas de cartões foram substituídas por novos modelos sem fios "facilitando a
vida" dos clientes que são atendidos nas mesas. Agora, no rumo certo, a empresa
procura ampliar seu conhecimento em novos tipos de pratos e parcerias com
empresas do mesmo bairro corrigindo com isso o ponto que não é o mais adequado.
Agora as vendas aumentaram, os custos foram contidos e a imagem da empresa é
reconhecida no mercado. Assim ela caminha a passos sólidos rumo a um futuro de
sucessos.
Isso tudo foi uma arte? Não... foi bom senso, criatividade e organização.
Abraços e sucessos.
Referência:
portalbrasil.net
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