Em pouco mais de um mês, quase 3 mil internautas nos enviaram suas dúvidas
sobre os mais diversos assuntos que mexem com o bolso: problemas com dívida,
família, defesa do consumidor, planos de saúde e... investimentos.
O que fazer com o dinheiro neste momento de forte instabilidade no cenário
financeiro é a causa da angústia da maioria dos leitores que nos procuraram.
Comprar mais ações ou se refugiar na renda fixa? Comprar dólares ou investir na
poupança? Não mexer em nada ou mudar todas as aplicações?
Para responder a algumas destas dúvidas mais freqüentes, conversei com o
professor de Finanças da FGV-SP William Eid, com o também professor do Ibmec-SP
Ricardo Humberto Rocha e com o administrador de investimentos Fábio Colombo.
Elegi algumas das perguntas mais representativas do período, transcritas com
pouquíssimas modificações. Espero que as respostas possam aliviar a muitos dos
nossos aflitos internautas.
1) "Sou marinheira de primeira viagem e logo de saída pego um
maremoto. Investi R$ 5.000,00 em uma Bolsa animada com a alta que acontecia nos
primeiros meses do ano, mas já perdi um terço do dinheiro. O que faço? Tiro tudo
e assumo o prejuízo ou espero as coisas se acalmarem e a Bolsa voltar a subir?
Tem chance de a médio ou longo prazo recuperar e ainda ganhar um pouco sobre o
que investi?
Internauta Teresa F. Sales
"É bom manter os investimentos em ações ou é melhor mudar?"
Internauta: João Ribeiro
"Possuo aplicações em fundos de ações, Petrobras e Vale, o que vocês
me aconselham a fazer?"
Internauta Pedro Paulo
"Investi em ações para longo prazo, mas depois de um ano a soma do que
tenho é menor do que investi. Devo mudar ou conservar?"
Internauta Claudinei Turatti
Resposta: Para o professor Ricardo Humberto Rocha, quem está dentro da Bolsa
deve continuar e quem está fora deve aguardar uma sinalização melhor para
entrar. O motivo é que a forte instabilidade não permite que as pessoas acertem
qual é o momento em que vão perder mais ou ganhar. William Eid, da FGV, ensina
que as pessoas que querem investir em Bolsa devem compreender que não estão
apostando em uma loteria, mas se tornando sócios de empresas. "Por isso, o
investimento deve ser de longo prazo", diz.
Quem olha os fundamentos das empresas e escolhe companhias bem administradas,
que pagam bons dividendos, não costuma se arrepender no longo prazo. "Quem
investiu em 2000, quando a Bolsa estava em 8 mil pontos, já obteve um ganho de
900%", diz Eid.
A volatilidade deve continuar por tempo indeterminado. Os analistas acreditam
que em dois anos a Bolsa deve recuperar as perdas, mas é impossível avaliar com
precisão. Por isso, quem opta pela renda variável deve separar uma parte do seu
capital que não fará falta de jeito nenhum. "Ainda não conheci ninguém que
acerta todas as vezes de entrar e sair da Bolsa", diz Eid.
2) "Vou viajar para os Estados Unidos na segunda quinzena de novembro. Devo
comprar os dólares que vou levar na viagem agora ou espero mais um pouco para
ver se a cotação cai?"
Internautas Camila
"Olá, vou viajar para os Estados Unidos no começo de janeiro e gostaria de saber
se devo comprar dólares já ou se devo esperar."
Internauta Simone T.
Resposta: Conselho unânime dos professores William Eid, da FGV-SP, Ricardo
Humberto Rocha, do Ibmec, e do consultor de investimentos Fábio Colombo: se a
despesa em dólar é certa; não espere, compre. "Se eu tenho R$ 6 mil reais e sei
que com esse dinheiro consigo pagar a viagem e as despesas hoje, compro os
dólares e fico tranqüilo", diz William Eid. Ele lembra que as instituições
financeiras gastam milhares de reais pagando para consultores avaliarem como
será o comportamento do câmbio e poucas vezes acertam. "Não adianta ficar
tentando especular com a moeda", resume.
3) "Sophia, fiz um investimento em fundos de ações em janeiro, mas nesse
momento estou perdendo em função dessa instabilidade nas Bolsas de Valores do
mundo inteiro. Mesmo assim, seria esse o momento de investir mais dinheiro?
Minha intenção é um investimento a médio prazo."
Internauta Thiago Andrade
"Olá! Gostaria de saber se agora é um bom momento para comprar ações na
Bolsa, pois os preços das ações estão mais baixos devido à crise internacional.
O que vocês me aconselham?"
Internauta Camila Perón
Resposta: A percepção dos estudiosos do mercado é que a volatilidade deve
continuar por um longo período. Por isso, o conselho do professor Ricardo
Humberto Rocha, do Ibmec-SP é que quem está dentro da Bolsa deveria manter os
investimentos e quem está fora deve aguardar uma sinalização melhor para entrar.
William Eid, da FGV, ensina que as pessoas que querem investir em Bolsa devem
compreender que não estão apostando em uma loteria, mas se tornando sócios de
empresas. "Por isso, o investimento deve ser de longo prazo", diz. Para quem tem
essa visão, a Bolsa em queda costuma ser uma boa oportunidade de compra. "Os
preços ficam mais convidativos", diz.
William Eid aconselha ainda a quem tem interesse em investir em ações de forma
raciocinada, que não compre os papéis, mas invista regularmente em fundos. "O
truque é ser disciplinado e aplicar sempre", diz. Antes, o investidor deve
selecionar os melhores fundos. "Entre o rendimento de um Ibovespa e de um bom
fundo as diferenças podem ser de até 500%", diz Eid. E não basta olhar o
desempenho de um fundo em apenas um ano, mas ao longo de cinco, seis anos.
"Aqueles que sempre estiveram entre os melhores colocados são os que oferecem
consistência na gestão."
4) "Olá, Sophia. Tenho R$ 3.000,00 para investir. Compro dólar ou invisto na
poupança?"
Internauta Carlos José
Resposta: Dólar não é investimento. A frase taxativa resume o pensamento dos
entrevistados, que desaconselham a compra da moeda como forma de aplicar o
dinheiro. Para eles, só deve comprar dólar quem sabe que terá uma despesa nesta
moeda, como viagens de férias ou estudos ou compras de produtos importados.
Neste caso, também não adianta ficar adiando a compra dos dólares na tentativa
de adivinhar quando a moeda vai cair, pois em situações de forte volatilidade
como as que vivemos agora não permitem esse tipo de previsão. Já a poupança é um
investimento bastante conservador, e passa longe das surpresas.
Tem a vantagem de não cobrar taxa de administração e ser isenta de impostos.
Para aplicações de pequeno porte, muitas vezes supera o rendimento dos fundos,
já que, nestes casos, a taxa de administração costuma diminuir consideravelmente
o investimento. O investimento em CDB é outra opção.
5) Tenho R$ 50 mil reais e preciso investir. O que é que eu faço, Sophia?
Internauta Edson
Resposta: Antes de decidir em que investir, é preciso saber mais sobre si mesmo.
Qual é o objetivo do seu investimento? Irá precisar do dinheiro no curto prazo?
Qual é a sua idade? Há pessoas que dependem de você ou você pode tomar mais
risco com o dinheiro? E por último: você aceita tomar algum risco ou cai em
depressão cada vez que ouve falar de queda na Bolsa?
Parece demais, mas estas perguntas precisam ser respondidas antes que o
investidor resolva colocar seu dinheiro em alguma aplicação. Intuitivamente,
fica claro que uma
pessoa jovem e sem filhos, pode tomar muito mais risco do que alguém de meia
idade, com filhos pequenos.
De uma forma geral, os especialistas aconselham a que as pessoas invistam boa
parte de seu capital em investimentos de baixo risco, como fundos DI ou CDBs de
grandes instituições, e deixem a renda variável para 10% a 20% do capital. O
tamanho da fatia deve ser proporcional ao valor que a pessoa pode deixar
intocado por no mínimo cinco anos, e deve ser um dinheiro que não irá fazer
falta se for integralmente perdido.
6) Estou pensando em investir em imóveis. É um bom momento?
Internauta Sidney
Resposta: Para o administrador de investimentos Fábio Colombo, o investimento em
imóveis pode ser interessante como alternativa de diversificação. "É
interessante para quem tem um portfólio grande, um volume razoável de dinheiro,
R$ 200 mil, no mínimo", diz ele.
O motivo é que os imóveis não têm muita liquidez (facilidade de se transformar
em dinheiro vivo), além de implicar grandes custos de administração, como
condomínio e impostos, além dos altos valores envolvidos com documentação.
"Normalmente, a pessoa consegue receber de 0,75% a 1% do valor investido", diz.
Ou seja, comprou a casa por R$ 100 mil e consegue alugar por R$ 750. "É uma
questão de gosto", diz Colombo.