Um planejamento financeiro, quando bem elaborado, tende a fornecer resultados
muito positivos como: a aquisição de um patrimônio capaz de conferir segurança
durante toda a vida, inclusive na fase da aposentadoria, conquista de objetivos
como uma viagem, o custeio da educação da escola dos filhos, a manutenção de um
padrão de vida agradável, a troca de um carro ou de um imóvel, tudo isso com
segurança financeira. Para isso, um planejador financeiro pessoal qualificado e
a utilização dos diversos instrumentos financeiros de que se dispõe atualmente
provavelmente contribuirão para tais resultados.
Porém, talvez mais importante do que a fase de elaboração seja a etapa de
implantação deste planejamento financeiro. No papel, tem-se a impressão de ser
tudo um pouco mais simples - economizando determinada quantia por mês,
investindo corretamente e atentando para algumas questões tributárias e
sucessórias, quase tudo se transforma em uma questão de tempo. Contudo, na
prática, todos são obrigados a tomar decisões constantemente, já que os desejos
são ilimitados, mas os recursos, finitos.
Para complicar um pouco mais, os consumidores são bombardeados por uma série de
informações para consumir e, de preferência, antecipar esta etapa em prol do
pagamento futuro (comprar a prazo, geralmente com juros). A evolução dos
instrumentos financeiros permite acesso ao crédito de forma cada vez mais
simples - com uma mera ligação à instituição financeira ou efetuando poucos
cliques em um caixa eletrônico ou na internet.
Os mais jovens ainda precisam encarar um novo paradigma: desde a implantação do
Plano Real, em meados de 1994, e com o controle inflacionário, consumir qualquer
custo deixou de ser necessariamente a melhor opção. Se antes a ordem era comprar
o máximo possível antes do próximo reajuste, atualmente esta máxima não é mais
verdadeira.
Como se não bastasse, a educação financeira é ainda um tema pouco conhecido de
muitos consumidores, o que também dificulta ainda mais a implantação do
planejamento financeiro pessoal ante às inúmeras decisões a serem tomadas.
Desta forma, surgem desafios tanto ao planejador financeiro como aos clientes.
Os primeiros devem estar cada vez mais cientes da importância da implantação do
planejamento financeiro e, desta forma, levar em consideração aspectos menos
racionais e mais emocionais de seus clientes. Cabe ao planejador realizar
aconselhamento de investimentos e elaborar planejamentos financeiros condizentes
não somente com aspectos numéricos, mas também com fatores individuais dos
clientes - idade, histórico de decisões, composição da família, grau de
envolvimento e comprometimento dos parentes com o planejamento financeiro,
preferências individuais e da família do cliente.
Neste sentido, muitas vezes pouco importa provar matematicamente que alugar pode
ser melhor que comprar à vista quando a esposa do cliente não abre mão de
adquirir o imóvel próprio. Da mesma forma, o resultado tende a ser pífio quando
o planejador foca somente em números quando seu cliente passa, por exemplo, por
um momento emocional delicado, como o fim do casamento, turbulências no âmbito
profissional ou mesmo a perda de um ente querido.
Para os clientes, também emergem novas tarefas, como procurar se conhecer melhor
como consumidor, aprendendo com os erros; tentar evitar encarar o planejador
como aquele que impõe apenas corte de gastos e tê-lo como parceiro para superar
descontroles pontuais; se comprometer com o trabalho e estar ciente da finitude
dos recursos, o que implicará tomada de decisões e, conseqüentemente, frustração
ante objetos de desejo que não serão adquiridos no momento, em prol da busca por
objetivos futuros contemplados no planejamento financeiro.
Para ambos, fica cada vez mais claro, da mesma forma, o fato de o planejamento
financeiro ser um processo em constante aprimoramento e revisão, não somente por
conta das prováveis mudanças de cenários econômicos, mas também em função das
vicissitudes características da vida humana.
Dessa forma, tão importante quanto as ciências matemáticas para realização de
projeções financeiras corretas, é levar em consideração a arte dos aspectos
emocionais e intangíveis relacionados aos clientes interessados em algum tipo de
serviço de um consultor financeiro pessoal. Caso contrário, corre-se o sério
risco de se assistir a implantação de o planejamento financeiro não sair do
papel.