Chega um momento da vida em que as pessoas costumam fazer um balanço das
conquistas e dos erros. Na carreira não é diferente. Em determinada fase da
trajetória profissional, é preciso pesar o que deu certo e o que precisa mudar.
E, para muitos, as mudanças não são tão simples, mas são possíveis.
Foi assim com Thiago Samuel, 31 anos. Depois de trabalhar sete anos em um
grande banco, ele resolveu mudar, ainda que a estabilidade do cargo –
gerente-geral – e da empresa contribuísse para que ele continuasse onde estava.
O problema é que, para ele, não dava mais. E embora muitos digam que mudanças
radicais na carreira são difíceis, ele resolveu buscar o que queria. “A
estabilidade foi importante por um determinado momento da minha carreira. E o
banco me proporcionou um aprendizado enorme. Mas eu senti que estava na hora de
fazer algo que eu realmente queria fazer”.
Foi então que, em 2009, Thiago resolveu ser o dono do próprio negócio. E deu
certo. Hoje, ele é CEO da Laserstar Brasil – uma rede de franquias de estética.
Mas até chegar a esse ponto, o profissional fez um planejamento de mais de dez
meses. E para qualquer um que queira fazer uma mudança na trajetória de
carreira, analisar os motivos e fazer um planejamento são os primeiros passos.
“As mudanças acontecem, normalmente, por uma revisão de carreira e por
mudanças no objetivo de vida do profissional”, avalia a colaboradora da área de
Search da Kienbaum – empresa de seleção e recrutamento de executivos –, Katya
Cristiane Hepper. Para a especialista, ao contrário de anos atrás, o mercado de
trabalho está mais flexível hoje – o que facilita até mudanças muito bruscas na
trajetória profissional.
Tempo e esforço
Katya acredita ser possível realizar uma mudança como a que ocorreu com
Thiago em qualquer fase da carreira. Mas é mais difícil quanto maior o tempo em
que o profissional atua na área atual. “´É mais fácil você efetuar uma mudança
quando você não tem tantas responsabilidades, como família, por exemplo. E
mudanças radicais exigem um esforço muito maior”.
“Quanto mais tarde ocorrer essa mudança, maiores serão os investimentos e o
planejamento”, completa o presidente da De Bernt Entschev Human Capital,
Bernardo Entschev. E ele sabe do que está falando. Bernado é médico de formação
e atuou durante 15 anos na área em Curitiba. Na sua carreira, ele atingiu o auge
com 34 anos – quanto liderava três áreas diferentes em um hospital. Nessa hora,
ele sentiu que não tinha mais para onde crescer. “Eu saí da faculdade cedo, com
21 anos, e tinha uma vontade enorme de entrar no mercado logo. Mas chegou uma
hora em que não havia mais espaço em Curitiba. Eu tinha vontade de fazer coisas
maiores”, conta.
E contrariando amigos e família, Entschev deixou a Medicina para investir na
carreira de headhunter. “A notícia foi mal recebida por todos”, diz. Na época,
já com família formada, ele deixou Curitiba para abraçar seu novo projeto em São
Paulo. Revisitando a história de carreira do headhunter, porém, tudo parece que
ocorreu naturalmente e de maneira simples. Mas não foi bem assim.
Para efetuar a transição de carreira, Bernardo fez um planejamento minucioso,
que lhe garantiu estabilidade financeira nos primeiros dois anos após a mudança.
Para ele, é possível trocar de caminho profissional em qualquer fase. Mudam
apenas os cuidados.
Planeje sua nova trajetória
Os especialistas concordam que, quanto mais cedo ocorrer a decisão, maiores
são as chances de a mudança dar certo. “Quando você é jovem, dá para se
recolocar no mesmo nível, mesmo se a área for diferente. Isso porque, nessa
fase, as empresas estão mais preocupadas com o seu potencial”, afirma Entschev.
Com 35 anos, explica o especialista, o profissional já tem um histórico de
carreira e a dificuldade de realizar a troca aumenta. “Nesse caso, é preciso
buscar cursos de imersão e formação para a nova área”, afirma o headhunter. Já
na faixa dos 40 anos, a transição é mais difícil. “É preciso uma reestruturação
financeira”.
Antes de colocar o planejamento no papel, porém, Entschev alerta aos
profissionais terem a certeza de que querem mesmo a mudança. “Ele tem de ter
certeza de que se identifica com a nova área”, afirma. Depois disso vem, o
planejamento financeiro e o de tempo. Thiago Samuel teve de pesquisar sua nova
área dez meses antes de definir a mudança. E, para ele, a pesquisa foi
fundamental para firmar a decisão.
Outro ponto importante para a mudança, afirma o especialista, é suportar a
pressão dos amigos e da família ou mesmo a descrença de muitos deles. “As
pessoas podem dizer que você está louco. Isso aconteceu comigo”, afirma
Entschev. Ficar preparado para se frustrar também faz parte do jogo. No caso de
Thiago, dúvidas sobre se o novo negócio daria certo surgiram, mas ele insistiu
no planejamento que fez. “Foi um risco calculado”.