Shopping é um centro de consumo, mas se tornou opção de lazer para muitos
brasileiros, principalmente para os que vivem em grandes cidades. Nesses
verdadeiros paraísos do consumo, um simples passeio com a família pode acabar em
compras, muitas vezes, desnecessárias. Como garantir o lazer e resistir à
tentação das vitrines? A palavra-chave é autocontrole.
“Se a ideia não é comprar, existem outras alternativas de lazer”, aconselha o
especialista em educação financeira Álvaro Modernell. “O melhor é evitar lugares
onde a tentação é maior”. Mas, se não houver jeito, existem maneiras de evitar
chegar em casa com sacolas cheias, bolso vazio e contas a pagar.
Para o especialista em finanças e diretor da Human Value, Mario Kuniy,
psicologia e consumo caminham juntos e o primeiro elemento tem fator
determinante no segundo.“O consumo envolve questões emocionais”, avalia. “Mas,
se a pessoa não faz uma reflexão se ela pode ou não gastar, perde o controle”.
Criar mecanismos internos de autocontrole, tentar organizar os gastos no
final do mês e tentar agir de maneira racional são os principais fatores que os
consumidores devem considerar quando estão diante da tentadora vitrine.
“Eu mereço”. Será?
Pode parecer a parte mais simples, mas o autocontrole é a fase mais difícil
para os mais impulsivos. “Quando as pessoas estão em um período de estresse,
elas acreditam que, indo ao shopping e comprando, vão compensar o desgaste”,
explica Kuniy. Aí é quando a velha frase “eu mereço” entra em ação.
São tantos problemas ao longo do dia que aquela visita ao shopping para
comprar uma bolsa ou um celular é como se fosse um alívio. “A pessoa pensa que
não é um problema, mas ela pode perder o controle”, avalia o especialista.
Quer relaxar depois de um dia difícil? Definitivamente não vá ao shopping.
“Se a pessoa for e não puder gastar, ela tem de ter consciência de que é um
passeio apenas”, afirma Modernell. Ele explica uma tática para os mais
descontrolados.
Se a tentação for forte, entre na loja, experimente a roupa, mas diga
obrigada a vendedora, saia e vá dar uma volta. “Nesse momento, ele deve pensar
se realmente o que viu é necessário, útil”, avalia Modernell. Para Kuniy,
questionar a necessidade do produto é ponto fundamental. “Será que eu preciso
mesmo disso? É preciso fazer essa pergunta”, diz. Mas, se você for muito
compulsivo, evite a loja e o shopping.
Seu bolso também merece
Consultar o bolso também define a compra. Ele também merece sossego de vez
em quando.“Tem gente que está com o cartão de crédito estourado, no cheque
especial e ainda quer comprar”, afirma Kuniy. Nesses casos, não existe orçamento
que possa sustentar um passeio no shopping.
Mesmo aqueles que não têm uma moeda no bolso podem cair na armadilha dos
centros de consumo. E o cartão de crédito entra na história. “É fácil passar o
cartão, porque a pessoa não sente o dinheiro sair do bolso”, diz o especialista.
Com a moeda de plástico, o simples impulso pode se transformar em uma bola de
dívidas. “Hoje, nós medimos nossos gastos pelo salário que ganhamos e esquecemos
dos juros”, lembra Kuniy.
“Para comprar é preciso ter dinheiro, se você tem dinheiro para pagar aquela
compra à vista, então, ótimo”, avalia Modernell. Para ele, o consumidor utiliza
de forma errônea o cartão. “O cartão é um instrumento para facilitar as compras,
conseguir vantagens com as operadoras em bônus, e não para ser utilizado para
financiamentos de compras”, ressalta. Com o cartão, o consumidor sente que tem
um poder de compra maior. Maior até que a sua renda real. Aí é que começam as
dívidas.
Passeio em família
A situação pode piorar se o passeio no shopping for realizado em família.
Crianças e centros de consumo não geram boas consequências para o bolso dos
pais, na maioria das vezes. “Se a família for passear no shopping, os pais devem
conversar antes com as crianças”, alerta Modernell.
Conversar sobre a importância do gasto, sobre as necessidades e utilidades
dos produtos e até estabelecer acordos com os pequenos são atitudes que podem
deixar não só o passeio menos oneroso como também formar futuros consumidores
mais conscientes. “Estabeleça um limite de valor com os filhos para ser gasto no
passeio”, aconselha o especialista.
Mas não é só isso. Dar o exemplo, até na hora de consumir, é essencial. “Os
pais devem ficar atentos porque as crianças observam o comportamento deles”, diz
Modernell. Assim, não adianta falar para o filho sobre a necessidade do consumo
e na primeira esquina comprar mais uma bolsa para ficar no armário.
Para Kuniy, assim como para Modernell, o shopping não é lugar para passeios.
“Às vezes, as pessoas vão ao shopping pensando em comprar, mesmo que
inconscientemente”, afirma.