As empresas estão encontrando saídas criativas para desafiar o discurso de
personalidades como David Henderson, ex-economista-chefe da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em "Falsas noções de
responsabilidade social corporativa", publicação lançada no início do ano pelo
Institute of Economic Affairs de Londres, Henderson descrevia a boa cidadania
empresarial como um desvio dos princípios capitalistas e dos propósitos de uma
empresa criada para gerar lucros a seus proprietários.
Longe de representar um desafio à lógica capitalista, investimentos sociais que
envolvem a atividade principal de uma companhia provam-se capazes de beneficiar
diretamente as suas operações e ainda promover a expansão de seus mercados
consumidores no médio e longo prazo. Um exemplo é o programa do Pão de Açúcar
para doação de mercadorias que sofreram danos na embalagem mas continuam aptas
para consumo. Todos os dias, instituições cadastradas no programa vão às lojas
da rede para retirar suas doações. "Substituímos os custos que teríamos com o
transporte dessas mercadorias por gastos que viabilizam o programa e beneficiam
pessoas carentes", afirma Rosangela Bacima, diretora do Instituto Pão de Açúcar.
A Telemar também promove benefícios sociais utilizando o seu próprio negócio. No
programa Telemar Educação, a companhia busca, entre outros objetivos, motivar o
acesso de crianças carentes ao mundo digital. Através de laboratórios de
informática instalados em 51 escolas dos 16 estados em que atua, a Telemar
conecta um total de 36 mil alunos à Internet.
Além do acesso à toda a rede mundial de computadores, os alunos aprendem com um
portal na Internet dedicado apenas a essas comunidades. Os computadores e os
professores que auxiliam as escolas no uso da Internet são patrocinados pela
Telemar. "Hoje estamos educando crianças que estavam excluídas do mundo digital
e que são potenciais consumidoras da nossa tecnologia no futuro", diz Maria
Arlete Gonçalves, coordenadora do Instituto Telemar.
A Cemig também mantém projetos relacionados ao uso de energia. Um deles,
previsto para ser implementado nos próximos meses, prevê a instalação de
sistemas de aquecimento solar para os chuveiros de um conjunto habitacional de
baixa renda.
Segundo Antonia Sonia Cardoso, coordenadora do projeto Luz Solar, as doações
contribuirão para reduzir o uso de energia elétrica em horários de pico. "É um
programa de benefício social associado a um investimento em nossa eficiência
energética", afirma a executiva.
Ainda no âmbito desse mesmo projeto, a companhia vem promovendo, através de um
sistema ativado pela luz do sol, a eletrificação de comunidades dispersas em
regiões rurais isoladas da rede elétrica. "O programa também gera benefícios
para a Cemig, à medida que permite o acesso de pessoas carentes a equipamentos
como rádio e televisão e promove maior uso dessa energia no futuro", diz.
Moysés Pluciennik, ex-presidente da Globocabo e hoje no comando de uma fundação
social, avalia que os benefícios à sociedade promovidos por meio da atividade da
companhia contribuem para a consolidação da ética nos seus processos
operacionais. "Além de atender pessoas carentes, quem investe desta forma agrega
valor ao seu negócio, aos seus funcionários e acionistas."