O que é?
Este tipo de pneumonia ocorre quando acontece a entrada de líquidos,
secreções do próprio corpo ou outras substâncias, da via aérea superior ou do
estômago para dentro dos pulmões. A partir daí, é desenvolvida a pneumonia que,
geralmente, é causada por um anaeróbio – bactéria que pode viver na ausência de
oxigênio. Muitas vezes o conteúdo que é aspirado para um ou ambos pulmões é o
suco gástrico do estômago, o qual, por ser ácido, inicialmente causa uma
pneumonite (inflamação) nos pulmões; após isso, ocorre o desenvolvimento da
pneumonia propriamente. Consideramos via aérea superior o trajeto que se situa
entre o nariz e as cordas vocais.
Esta doença é mais freqüente em pacientes muito jovens ou nos idosos.
Como se adquire?
Geralmente, existem duas condições predisponentes para que ocorra a aspiração
do inóculo para os pulmões. Uma delas é uma falha nos mecanismos de defesa que
protegem os pulmões, e a outra acontece porque o inóculo que alcançou o pulmão
(ou pulmões) tem de ser suficientemente deletério para iniciar o processo
inflamatório da pneumonia.
Dentre os principais mecanismos de defesa está o reflexo da glote, o qual
funciona como uma fenda que se fecha ao nível das cordas vocais para que nenhum
líquido ou outra substância chegue, inadvertidamente, até os pulmões. Existe
também o reflexo da tosse, o movimento ciliar e a fagocitose dos macrófagos dos
alvéolos, quando o fechamento da glote não funciona de maneira eficaz.
Então, se o reflexo da tosse não expulsar o líquido ou substância que está
indo na direção dos pulmões, um movimento de cílios iniciará a “limpeza” destes.
Os cílios revestem a parte interna dos brônquios – “tubulações” que espalham o
ar dentro dos pulmões – e funcionam como cerdas de uma escova que trabalha de
uma maneira unidirecional, levando a “sujeira” dos pulmões em direção à boca.
Se, porventura, todos estes mecanismos forem vencidos e o inóculo alcançar os
alvéolos, ainda terá a fagocitose dos macrófagos para combater aquela bactéria
deletéria contida no inóculo aspirado. Os alvéolos são diminutos sacos onde
ocorrem as trocas gasosas dos pulmões (entra o oxigênio e sai o gás carbônico).
Já os macrófagos são as células que englobam (combatem) as bactérias que chegam
até os alvéolos. Portanto, para que ocorra a pneumonia aspirativa, a bactéria
agressiva que está no inóculo aspirado da via aérea superior para os pulmões
terá que vencer todos os mecanismos de defesa supracitados.
Normalmente, as bactérias que comumente causam este tipo de pneumonia são as
anaeróbicas que fazem parte da flora (“ambiente”) normal da cavidade oral (boca)
e, nos pacientes que adquiriram a doença durante internação hospitalar, os
germes mais comuns são os bacilos gram-negativos e o Staphylococcus aureus –
bactérias muito agressivas.
Usualmente, o motivo da falha nos mecanismos de defesa do organismo é a perda
de consciência ou a presença de algum distúrbio de deglutição (da comida ou da
saliva) – como em alguns indivíduos que sofreram derrame cerebral, por exemplo.
Dentre os indivíduos que costumam ter perda de consciência estão os
alcoólatras, abusadores de drogas, seqüelados por doença neurológica, doentes
mentais, idosos, pacientes de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), epilépticos
ou pacientes que tenham feito anestesia geral recentemente ou que tenham sofrido
algum traumatismo craniano.
Devemos lembrar também que existem vários estudos demonstrando aspirações em
indivíduos sadios que se resolvem espontaneamente, não causando complicações
pulmonares como a pneumonia.
O que se sente?
Este tipo de pneumonia poderá ter um curso agudo, crônico ou intermediário.
Calafrios, febre, tosse e dor torácica são algumas das alterações que podem
ocorrer nesta doença. Geralmente, a tosse é seca nos primeiros dias, mas costuma
apresentar expectoração (catarro) nos dias subseqüentes. Este catarro poderá ter
a cor amarela, verde ou até raias de sangue. O odor da secreção expectorada nos
casos de pneumonia aspirativa por bactérias anaeróbias é típico: tem cheiro de
podre (fetidez característica).
A dificuldade respiratória poderá ocorrer devido à dor causada por cada
movimento respiratório – a dita “pontada”. Se a pneumonia for muito extensa,
poderá ou não estar associada à cianose – coloração azulada da pele em torno da
boca, nos lábios, nas orelhas ou extremidades dos dedos. A cianose traduz, neste
caso, um sinal de gravidade.
Já os idosos, na maioria das vezes, não apresentam o quadro pneumônico típico
descrito acima. Poderão apresentar uma piora no seu estado geral (mental
inclusive), com adinamia, diminuição do apetite e, em muitos casos, sem febre.
Nas crianças pequenas, as alterações que costumam aparecer, afetam o estado
geral destas. Comumente não surgem sinais ou sintomas específicos de pneumonia.
São crianças que, geralmente, estão febrís, com diminuição na ingestão de
alimentos (não querem mamar ou comer), choram bastante e a mãe ou responsável
pode até notar a dificuldade respiratória da criança.
Algumas vezes, os indivíduos afetados apresentam sintomas por um longo
período, com perda de peso e, até, anemia.
Como o médico faz o diagnóstico?
Normalmente, não é difícil para o médico definir tal diagnóstico. Usualmente,
são indivíduos sabidamente alcoólatras ou com distúrbios neurológicos prévios
que apresentaram, recentemente, algum episódio de perda de consciência –
desmaiaram, dormiram bêbados, tiveram uma crise convulsiva ou dormiram e
vomitaram deitados. Boa parte destes indivíduos, durante o curso da doença,
apresenta odor pútrido na expectoração ou os demais sinais e sintomas de
pneumonia.
A radiografia do tórax solicitada pelo médico costuma mostrar algumas
particularidades da pneumonia por aspiração, confirmando tal diagnóstico. Exames
laboratoriais poderão auxiliar o médico neste sentido.
Como se trata?Os antibióticos representam a parte mais importante do
tratamento. Normalmente, o antibiótico é definido de acordo com a suspeita do
médico em relação a qual seria a bactéria causadora.
Certamente, a fisioterapia respiratória e a aspiração com sonda através do
nariz e da boca, auxiliam na retirada de secreções que estão indo dos pulmões em
direção à boca. Serão medidas importantes para a melhora dos pacientes –
principalmente, naqueles com déficits neurológicos que não conseguem cooperar
para sua melhora.
Como se previne?
A medida mais importante é o uso da posição semi-reclinada ou mais
verticalizada naqueles indivíduos mais propensos à infecção pulmonar por
aspiração. Conforme avaliação médica, pacientes com dificuldade de deglutição ou
reflexos de defesa diminuídos poderão ser alimentados através de sondas que
entram pelo nariz e chegam até o estômago ou intestino, para diminuir as chances
de aspiração. Existem procedimentos cirúrgicos que, em alguns casos, podem ser
úteis na prevenção deste problema.