A professora Alba Terezinha Fusco dava aulas a crianças com idades entre oito
e nove anos quando, em 2003, descobriu que estava com câncer de mama. Optou pela
radioterapia e pela quimioterapia e, a certa altura, por ordem médica, teve de
ficar 40 dias afastada do trabalho.
"Mas eu ficava toda hora perguntando para os médicos: quando posso voltar a
trabalhar?". Talvez por insistência, os médicos acabaram por liberá-la.
Ao retornar, teve uma surpresa: foi recebida por crianças preocupadas e
carinhosas. Quando Alba entrava na sala de aula, elas abriam as janelas, pois
sabiam que a professora não podia ficar em ambientes fechados. Quando alguém da
turma estava com gripe, se mantinha afastado. "As crianças me protegiam",
recorda Alba, com alegria.
O apoio também partiu das colegas de trabalho e da diretoria do colégio
particular. A paciente faltava duas vezes por mês para fazer o tratamento e, por
vezes, era internada. Em cada internação, ficava quatro dias afastada. "A escola
nunca descontou do meu salário e havia uma professora substituta para ficar com
a turma".
O papel do trabalho
"Eu quis trabalhar", lembra Alba, para quem o trabalho é muito importante no
combate a problemas de saúde. "Eu sentia cansaço, mas ficar dentro de casa,
tendo condições de trabalhar, era pior. Com o trabalho, a pessoa pensa em outras
coisas, se distrai um pouco daquele momento pelo qual está passando. Para mim,
foi a salvação, ajudou muito na minha recuperação. Precisamos enfrentar a doença
com bom humor e positivismo", diz.
Ela nunca escondeu a doença. "Antigamente, as pessoas escondiam. Tive sorte de
não ser vista com olhares de pena ou compaixão. Tive apoio total dos colegas,
que me deram forças para lutar", garante. "Sei que não é fácil, quando recebemos
o diagnóstico, descobrimos que temos câncer, pensamos que iremos morrer. Mas
hoje câncer tem cura".
Alba venceu essa batalha. O tratamento terminou em 2004 e, até hoje, ela toma
remédios. Mas, em março, fará nova avaliação, e é possível que já possa parar de
tomar remédios. Ela diz que conhece pacientes que foram dispensados pela empresa
quando descobriram que estavam com câncer. Seu recado: "É preciso não desistir e
procurar outro emprego. Além de lutar contra a doença, devemos lutar pelos
nossos direitos. Conhecer nossos direitos e brigar por eles".
Os direitos
A psico-oncologista Luciana Holtz, presidente do portal Oncoguia, explica que,
quando a pessoa está empregada e descobre que está com câncer não pode ser
demitida, embora o fato de ela estar com a doença não lhe dê estabilidade.
"Segundo a legislação, com exceção das doenças provocadas por um acidente de
trabalho, o profissional não tem estabilidade no emprego. No entanto, se ficar
comprovado que ele foi mandado embora por conta do câncer, pode recorrer à
Justiça e entrar com uma ação contra a empresa. Pode ser difícil de provar, mas
o fato é que ninguém pode ser demitido por causa da doença".
Mercado de trabalho
De acordo com Luciana, a maioria dos pacientes optam por continuar trabalhando
ao receber o diagnóstico, mesmo fazendo quimioterapia. "Aqueles que se afastam e
precisam voltar passam por certa insegurança. O jeito como as pessoas olham pode
incomodar. Ainda hoje, as pessoas têm medo da palavra câncer, apesar de a doença
ter cura".
Para ela, o melhor a ser feito é não esconder a doença da empresa, conversar e
chegar a um acordo. É possível que, por conta do tratamento, o profissional
tenha que faltar uma vez por semana ou ainda duas, pois, no dia seguinte, pode
sentir os efeitos colaterais. Mas dá para compensar, trabalhar no fim de semana,
por exemplo.
"A questão é que as faltas são previsíveis, logo dá para as duas partes (empresa
e paciente) chegarem a um acordo", garante a psico-oncologista.
"Se a pessoa pode trabalhar, não tenho dúvida de que continuar trabalhando
ajuda. Muitos pacientes relatam que não agüentam mais viver o mundo do câncer.
Então, o emprego ajuda essas pessoas a se envolverem em outros assuntos, a
recuperarem a auto-estima", finaliza Luciana.