Investimentos / Fundos - Fique atento: juros mais altos nos EUA podem, sim, afetar o seu bolso!
Quando o banco central dos EUA sinalizou a possibilidade de novas elevações
do juro básico para conter a inflação naquele país. Como de costume, as palavras
do Federal Reserve Bank mexem com os mercados financeiros em nível
mundial.
A reação dos grandes investidores não representa uma grande novidade.
Comentários, decisões ou meras sinalizações do banco central dos EUA são sempre
acompanhadas de perto por este grupo de pessoas.
Ocorre, porém, que os efeitos de um juro maior nos EUA vão além da interpretação
imediata do grande público, que, por vezes, nem se preocupa com a política
monetária norte-americana, se esquecendo de que taxas de juros maiores naquele
país podem ter impacto direto e significativo sobre seu bolso. Ou seja, o
pequeno investidor é, sim, diretamente afetado pelas decisões do Federal
Reserve Bank.
Ruim para Bolsa
Se você tem investimentos em ações, o efeito é imediato. Juros maiores nos EUA
significam remunerações mais elevadas dos ativos norte-americanos, que,
portanto, ficam mais atrativos relativamente na comparação com papéis de outros
países, como o Brasil.
Desta forma, com retornos mais altos dos títulos públicos dos EUA - resultado da
elevação da taxa básica de juro -, tende a haver uma migração do capital
estrangeiro em direção aos papéis norte-americanos, penalizando as Bolsas de
outras nações.
Uma ressalva: não significa um completo abandono das aplicações em outros
mercados que não o norte-americano, mas a expectativa de um aumento da alocação
dos investidores estrangeiros nos ativos financeiros dos EUA diante de uma
política monetária mais restritiva.
Impactos também sobre a renda fixa
Mas não são somente os investidores em ações os afetados pelas decisões do
Fed. Os detentores de aplicações em renda fixa - incluem-se títulos
públicos, fundos referenciados DI e de renda fixa, e até mesmo a poupança -
também podem sentir efeitos colaterais.
As remunerações dos ativos de renda fixa internamente são determinadas, de forma
direta ou indireta, pela taxa Selic. No entanto, no longo prazo, a Selic está
ligada à taxa básica de juro da economia norte-americana.
Detalhando a questão
Isso porque o juro de equilíbrio de um país - no caso brasileiro, a Selic que
deve vigorar no longo prazo - deve ser igual, para uma mesma taxa de câmbio, a
uma taxa livre de risco mais um prêmio de risco. Usualmente, o juro básico dos
EUA é utilizado como referência de taxa livre de risco.
Sendo assim, um juro norte-americano maior significa uma taxa livre de risco
também maior e, portanto, o juro de equilíbrio internamente torna-se superior.
Com uma Selic de longo prazo mais elevada, os retornos pagos pelos investimentos
em renda fixa, no longo período, passam a ser mais atrativos.
Como o atual contexto brasileiro é de queda das taxas de juros, caso a política
monetária norte-americana futura seja mais restritiva vis-à-vis o anteriormente
esperado, pode haver uma maior dificuldade de cortar a Selic frente ao que se
previa. Obviamente, o efeito não seria visto neste ou no próximo mês, mas num
horizonte temporal mais dilatado.
E quem tem dólar
Já para quem possui dólares, juros maiores nos EUA podem representar um alívio,
na medida em que tendem a arrefecer a tendência de queda da taxa de câmbio vista
desde o ano de 2003.
Conforme já fora dito, uma elevação da Fed Funds Rate tende a
redirecionar os portifólios em prol dos ativos norte-americanos, penalizando os
mercados de outros países, como o brasileiro. Uma fuga de recursos reduziria a
oferta de dólares internamente, contribuindo para amenizar a pressão sobre o
câmbio.
Mais uma vez cabe uma ponderação. Não se trata aqui de recomendar a compra de
dólares diante de um possível aperto monetário nos EUA, mesmo porque os
fundamentos econômicos parecem sugerir um espaço adicional para mais apreciação
do real. Contudo, caso se confirme, um juro mais alto naquele país poderia
estancar ou, ao menos, diminuir a intensidade da queda do dólar.
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