Os colegas de trabalho de Marcos Brito, coordenador de sistemas da Ford
Credit, braço financeiro da montadora americana, notaram que ele passou a ficar
mais desenvolto nas suas exposições e sereno no dia-a-dia da empresa. Só não
imaginavam que a mudança vinha de um treinamento pouco convencional: o teatro.
"Eu me perguntava se havia algum curso para desenvolver habilidades de controle
emocional, desenvoltura e comunicação", conta ele, que encontrou nas artes
cênicas justamente as técnicas que precisava para se sentir mais seguro no
contato com outras pessoas.
Brito, no entanto, só topou encarar o desafio de ter aulas de teatro porque o
curso estava longe da visão que a maioria possui sobre o tema. "Quando nos
ligam, os executivos são arredios e muitos até querem ter aulas particulares
para não se exporem", conta Leonardo Calixto, diretor da escola de teatro Eit,
que promove cursos exclusivos para este tipo de público.
Sem se concentrar na interpretação de personagens e atuação em público, as aulas
procuram passar as técnicas que ajudam o ator a ter uma boa impostação de voz,
postura e autocontrole. "Também provocamos a reflexão e ensinamos a pessoa a ser
ela mesma, como lidar com sua voz, seus sentidos."
Na Oficina Teatral, o curso ganhou ênfase corporativa e se chama Business
Evolution - em português, Evolução dos Negócios. "Trabalhamos até questões
comportamentais, como construir um diálogo e fazer com que o executivo tenha
prazer em falar, porque quanto mais tensa a comunicação, pior ela fica", explica
Mauro Toledo, dramaturgo e diretor de marketing da escola.
Por isso mesmo é que o supervisor de controles internos do banco Itaú, Carlos
Aveline, também foi atrás de aulas particulares de teatro. Ele sentia que sua
carreira estava em um ponto em que saber se expressar bem e demonstrar muita
segurança na hora de expor idéias era mais importante do que simplesmente ter
conhecimentos técnicos. "Tinha uma certa dificuldade de comunicação, medo de me
expor, e desejava ficar mais aberto aos relacionamentos", conta ele, que acabou
recebendo indicação do próprio RH do banco para procurar um curso deste tipo.
O resultado, afirma, foi positivo: "Você fica muito mais à vontade nas
apresentações profissionais e aprende a ser você mesmo com naturalidade e mais
autoconfiança", diz.
O mesmo aconteceu com André Ávila, consultor de tecnologia da informação da HP,
que teve o curso pago pela companhia. Mas o problema dele não era timidez.
Acostumado a dar palestras para grandes platéias, queria aprender técnicas de
palco e improvisação. "Aprendi a falar mais pausadamente e técnicas de
respiração para que a minha comunicação ficasse mais fácil", diz.
Na escola em que estudou, foi até filmado para ver o resultado depois.
"Analisamos depois todos os erros e acertos e percebi que era muito formal, o
que não costumo ser no cotidiano", conta ele, que agora é mais solto durante as
palestras.
Os advogados também estão recorrendo cada vez mais ao teatro. A Faap até incluiu
no currículo da graduação de direito dois semestres com a disciplina, para
ajudar alunos a se expressarem melhor. O teatro Tuca, da Puc-SP, também lançou
um curso só para advogados. "A idéia é fugir das fórmulas passadas em cursos de
oratória, que acabam sendo estereotipadas", conta Ana Salles Mariano, diretora
do Tuca e coordenadora do curso.
Ela ainda ressalta que o objetivo não é interpretar: "Passamos técnicas para
facilitar a fala e que podem ser úteis tanto numa audiência quanto no cotidiano
dos advogados, com entrevistas e reuniões."