O primeiro prédio escolhido para o teste já foi a atração
principal dos programas policiais da televisão, dois meses atrás. Na época, 18
apartamentos foram invadidos por um grupo de ladrões, que levaram R$ 85 mil em
dinheiro, celulares e carros. Os bandidos entraram no edifício no momento em que
uma moradora saía pelo – lento – portão da garagem.
Uma consulta na lista telefônica bastou para escolher o nome de um morador
qualquer para dizer ao porteiro. Um buquê de rosas, um toque no interfone: “É
uma entrega para o apartamento 92.” O rapaz abre o primeiro portão que guarnece
a entrada.
“Pode colocar as flores aí no chão que depois eu pego”, diz, com o segundo
portão fechado. Mas basta um sorriso para quebrar a resistência: “Se eu colocar
no chão, vai amassar o buquê e a pessoa presenteada não vai gostar. Abre só um
pouquinho e o senhor pega as flores.” E ele abre.
A repórter se identifica. E se fosse um assalto? “Eu só abri porque uma
empregada ia sair com o cachorro.” O porteiro, que recebe um salário de R$ 500,
estava ali mesmo, dois meses atrás, quando os ladrões invadiram o prédio.
“Entraram porque o portão da garagem demora demais para fechar”, explica. “Eu
tenho medo, mas não ia deixar você entrar. Falei para deixar as flores no chão.”