Passamos cada vez mais tempo no trabalho. Aliás, passamos tanto tempo
trabalhando que nossas vidas acabam sendo definidas pelo trabalho. Logo, seria
de esperar que as pessoas (e empresas ) valorizassem a realização pessoal
decorrente do lado profissional.
Mas infelizmente o que mais vemos são pessoas estressadas, infelizes,
descontentes com seu emprego, sua empresa, o
mercado , o governo, a vida. Porque isso acontece?
Porque algumas pessoas são ótimas vendedoras, vivem felizes e ainda ganham
bem? Porque outras não conseguem vender nada e se arrastam pela vida, esperando
que algo mude ou que sejam demitidas?
Outra pergunta, talvez ainda mais importante: porque tantos líderes permitem
que isso aconteça com gente trabalhando na sua equipe?
O pior é que alguns até estimulam o stress e a insatisfação. Têm problemas
crônicos de rotatividade e insatisfação na equipe, mas jogam a culpa nos
vendedores.
Só que existe uma grande verdade: as pessoas pedem demissão por causa de seus
chefes, não da empresa.
Parece que Marcus Buckingham e Curt Coffman, da Gallup Organizaton,
descobriram a resposta. Eles são autores do livro First, Break All the Rules:
What the Greatest Managers do Differently ( Primeiro, Quebre Todas as
Regras: O que os Maiores Gerentes do Mundo Fazem Diferente ainda sem
tradução no Brasil).
Os membros de uma equipe e os funcionários de uma empresa querem de seus
superiores a mesma coisa que crianças esperam de seus pais: alguém que
estabeleça expectativas claras e consistentes, se preocupe com eles, valorize
suas qualidades únicas e encoraje seu crescimento e desenvolvimento.
Buckingham e Coffman desenvolveram um questionário de 12 perguntas, que
deveria ser aplicado em qualquer empresa, para todos os funcionários.
As respostas podem variar de 1 (Discordo totalmente) até 5 (Concordo
totalmente). Quanto maiores os resultados no questionário, chamado de Q12 pelos
autores, menos gente você perderá, menos problemas trabalhistas terá, fidelizará
mais clientes e, por conseqüência, aumentará seus lucros.
Vejamos um exemplo prático, citado pelos autores no livro. Numa grande cadeia
varejista norte-americana, com mais de 300 lojas, todos os funcionários foram
avaliados usando o sistema. As lojas onde a equipe dava notas altas nos 12
quesitos excediam as metas de lucratividade em 14%, enquanto as que tinham notas
baixas davam prejuízo: em média, 30% abaixo da meta estabelecida.
O mais interessante é que as lojas eram idênticas. Mesmo assim, nas lojas
mais lucrativas 45% dos funcionários diziam que tinham o material e equipamentos
necessários para trabalhar. Nas deficitárias, só 11% concordavam com isso.
Veja que curioso: todo mundo tinha o mesmo material e equipamento disponível!
Alguns achavam que tinham tudo o que precisavam e estavam felizes; outros
reclamavam que a empresa não os apoiava nem lhes dava condições de produzir.
O que muda então? Para os especialistas, muda a percepção e o conceito das
pessoas em relação à empresa, atitudes que são fortemente influenciadas, muitas
vezes de forma determinante, por supervisores, gerentes, etc. Ou seja, pelo
chefe.
Um bom líder entende que sua equipe precisa ser tratada de forma
diferenciada, e não homogênea. Se aceitamos o fato de que todos são diferentes,
porque tratamos todos iguais? Porque é mais fácil. Só que não é mais
lucrativo .
É bem comum, por exemplo, criar uma campanha de vendas onde o grande prêmio é
algo que o gerente, o diretor ou o dono da empresa na verdade gostariam de
ganhar, ou que acham legal como prêmio. E os vendedores não são nem consultados.
Será que isso é realmente motivador para todos? Será que um final de semana
num hotel fazenda ou uma TV de 35 polegadas é realmente o que vai fazer todos os
vendedores ou vendedoras superarem suas metas?
Um líder tem que jogar xadrez, e não damas. No jogo de damas, todas as peças
são iguais e se mexem da mesma forma. Já no xadrez não: cada peça é diferente
das outras, com um jeito diferente de se mover.
E nos sistemas de treinamento, então? Segundo os autores do livro, as pessoas
rarissimamente conseguem mudar. Algumas coisas podem ser treinadas, mas
características pessoais básicas, como empatia, pensamento estratégico, lógica,
atenção a detalhes e criatividade não podem.
Para eles não existe nada melhor para constranger e enfraquecer alguém do que
estabelecer 27 competências necessárias para um cargo, testar essa pessoa,
descobrir suas fraquezas e depois dizer que ela tem que desenvolver suas 7
piores competências para ser mais completa.
Na imensa maioria das vezes não funciona, terminando por quebrar a pessoa
psicologicamente. Ela acaba tão desestimulada que geralmente pede demissão. E
você perde um grande vendedor só porque ele não desenvolveu uma característica
qualquer que agora entrou na moda.
Mudar é extremamente difícil para o ser humano, mesmo com todas as condições
disponíveis. É muito melhor, de acordo com os dois, colocar seu foco em nutrir
talentos do que ficar remendando fraquezas dos subordinados.
Mas o que acontece na prática é o contrário, já que para a maioria dos chefes
é mais fácil ficar apontando erros do que elogiando resultados.
Outro erro comum, para Buckingham e Coffman, e eles são muito claros com
isso, é tratar os outros como você gostaria de ser tratado. Você tem que tratar
as pessoas como elas querem ser tratadas.
Se um chefe não é muito organizado, por exemplo, ele não pode esquecer de que
algumas pessoas precisam de regras e organização para crescer, enquanto outras
gostam de muita liberdade. O grande segredo é conseguir navegar nessa mistura de
águas.
Mas por onde começar? Pelo começo, obviamente perguntando aos interessados o
que acham. Se você quer realmente saber o que sua equipe pensa da empresa,
aplique o questionário e deixe as pessoas serem francas e honestas.
As respostas vão ajudá-lo a ver o que precisa ser melhorado e, talvez o mais
importante, abrir portas para você entender porque às vezes sua equipe não
alcança os resultados esperados, ou porque algumas pessoas são bem mais
produtivas (e lucrativas) do que outras.
A lógica também se aplica à análise de filiais, equipes com lideranças
diferentes, etc. Basta aplicar o questionário, analisar as respostas e depois
arrumar o que precisa ser arrumado.
Note que para tudo isto dar certo um líder tem que ter a humildade e
inteligência de admitir que algumas coisas precisam mudar, se não vai continuar
tudo igual!
O questionário Q 12 de Buckingham e Coffman
1. Eu sei o que se espera de mim neste trabalho?
2. Tenho os materiais e equipamentos que preciso para realizar meu
trabalho corretamente?
3. No trabalho, tenho todos os dias a chance de fazer o que sei fazer
melhor?
4. Nos últimos sete dias, recebi elogios ou parabéns por ter feito um bom
trabalho?
5. Meu supervisor, ou alguém com quem trabalho, parece se importar comigo
como pessoa?
6. Existe alguém na empresa que estimula meu desenvolvimento?
7. No trabalho, minhas opiniões são valorizadas?
8. A missão/propósito da empresa na qual trabalho me faz sentir
importante?
9. Meus colegas dedicam-se a produzir trabalho de qualidade?
10. Tenho um bom amigo no trabalho?
11. Nos últimos 6 meses, alguém da empresa falou comigo sobre meu
progresso?
12. Tive oportunidades no trabalho de aprender e crescer neste último
ano?