Confesso que acho difícil mensurar e separar vantagens de desvantagens deste
método de análise de ações. Eu o considero muito interessante e ele se encaixa
bem com o meu perfil, mas como disse no artigo anterior, “Ações no Longo Prazo
com Análise Fundamentalista”, as vantagens e desvantagens de cada escola acabam
sofrendo uma “classificação”, indo de positiva a negativa dependendo de cada
perfil (fundamentalista ou técnico). Resulta que ser melhor ou pior representa
uma opinião.
Sendo assim, eu diria que as vantagens da Análise Fundamentalista (AF) podem
ser também as desvantagens deste método. Ou seja, seus princípios e exigências
representam enormes diferenciais na avaliação de uma empresa ou setor, mas
exigem esforço e dedicação, além de conhecimento específico de finanças
corporativas e temas correlatos (contabilidade, economia etc.).
Listo aqui algumas características principais que podem ser interpretadas
positivamente ou não:
- Conhecimentos específicos requeridos: uma boa análise
significa olhar as empresas como negócios. Logo, entender as características
setoriais de cada empresa é também desejável. A contabilidade também é
fundamental na análise econômico-financeira da empresa. Logo, os números e o
que eles representam deverão ser parceiros do analista. Trata-se de
conhecimento específico relacionado à análise de balanços;
- Prazo de investimento: uma boa análise vai demandar um
pouco mais de trabalho. Esse é um dos motivos que o fará segurar o papel na
sua carteira por um tempo mais longo (não vale o trabalho se for pra vender
em curtíssimo prazo). Além disso, ao verificar que o papel está barato, o
investidor irá aguardar até que o patamar do mercado se eleve e faça a sua
ação se tornar cara. Aí é hora de analisar novamente, fazer novas projeções
e decidir sobre a venda ou não;
- Movimento do mercado: o bom analista não precisa seguir
fielmente o movimento do mercado (ou seguir a manada). Diferentemente da
Analise Técnica, que muito se utiliza do efeito manada para suas
estratégias, a AF muitas vezes prega justamente o comportamento oposto, como
nos ensinam as decisões de compra e investimento de Warren Buffett em plena
crise financeira. Quase sempre, a regra é essa: quando muitas pessoas
vendem, os preços tendem a cair e talvez seja bom comprar (e vice-versa);
- A fama das empresas: a boa análise pode concluir que as
empresas mais famosas, que estão presentes na seleção do Índice Bovespa por
exemplo, podem ser investimentos não tão bons por estarem muito caros ou por
serem empresas com menor potencial de crescimento, apesar de serem bem
conhecidas. Nessa hora, as empresas de “segunda linha”, ou small caps, podem
representar minas de ouro por serem empresas sólidas, mas ainda não tão
valorizadas pelo mercado.
Um exemplo simples, mas prático
José de Souza recebeu uma herança não esperada, uma quantia razoável, e quer
investi-la. Para isso, está pesquisando a situação e as finanças das empresas
com a ajuda da Análise Fundamentalista. Com as notícias recentes sobre a
descoberta de jazidas subterrâneas de petróleo em potencial, o mercado em geral
está comprando os papéis da principal empresa petrolífera estatal, mesmo com a
divulgação de que os projetos só terão início em 5-6 anos e os lucros somente
serão incluídos em 7-8 anos.
Entretanto, José descobriu uma empresa de máquinas e equipamentos industriais
que não é tão coberta pela mídia em geral e seus índices indicam que o preço
está muito baixo, apesar dos lucros crescentes nos últimos 3 anos. Seus custos
de produção estão caindo cada vez mais, a dívida não ultrapassa metade do
patrimônio com juros em moeda nacional. O setor está em crescimento e parece
promissor. Agora, ele terá de fazer uma escolha.
Esse é um exemplo de algumas experiências pelas quais passará o analista
fundamentalista. Apesar de simplista, o exemplo pretende ser didático. Comprar o
que está na onda do mercado pode não ser tão interessante, mas ser sócio de uma
empresa menor e com potencial ainda inexplorado pode valer a pena. Ou não. Para
quase tudo na vida podemos começar de um nível mais básico e evoluir ao longo do
tempo. Aprenda, invista em estudo, crescimento pessoal e prática.