Carreira / Emprego - Carreira interrompida: meu parceiro está se mudando, devo acompanhá-lo?
A mobilidade dos profissionais brasileiros aumenta a cada dia. Além de serem
bem cotados no exterior, graças à capacidade de inovação e à flexibilidade -
leia-se resiliência -, eles também estão acompanhando o movimento de suas
empresas, que ora mudam de estado, em busca de impostos menores; ora precisam
enviar alguém competente às suas unidades em outros países.
Aliás, nos próximos anos, o número de profissionais enviados a outros países com
a responsabilidade de gerenciar as unidades no exterior deve se intensificar, de
acordo com uma pesquisa realizada pela ECA International, realizada com mais de
200 empresas de diversas regiões e portes.
Essa tendência vai ao encontro com os contínuos impactos da globalização, com
inúmeras empresas expandindo suas operações para o exterior. A questão é que a
decisão de mudar de cidade, estado ou país envolve não só o profissional, mas
também seu parceiro ou parceira e seus filhos. A mudança deve, portanto, ser
ponderada por todos os envolvidos.
Cenários prováveis para o casal
Para o consultor da LCZ Desenvolvimento de Pessoas e Organizações, Paulo
Celso de Toledo Júnior, existem três situações: na primeira, o parceiro(a)
trabalha, mas tem chances altas de continuar no ramo mesmo se mudando.
Na outra, que seria a ideal, mas também é a mais rara, tanto ele quanto ela
conseguem pedir transferência na empresa para a mesma localidade. O último caso
é o do casal no qual um dos dois tem uma carreira bem-sucedida em andamento, por
exemplo, ocupa um cargo alto e tem um bom salário, e sabe que não conseguirá o
mesmo quadro se acompanhar o parceiro. Em outras palavras, sua carreira será
interrompida.
"Nesse último caso, se a pessoa acompanha o parceiro, pode se sentir infeliz
futuramente e a relação familiar ficar conturbada. Isso porque a mudança
atrapalha seu desenvolvimento profissional", diz Toledo.
Quando a relação desaba
Pessimista, o diretor-executivo do Insadi (Instituto Avançado de
Desenvolvimento Intelectual), Dieter Kelber, afirma que os casamentos acabam
porque um dos parceiros não dá espaço para o outro se realizar
profissionalmente.
"Todo mundo precisa de espaço para realização. Quem acompanha o parceiro que
está de malas prontas abre mão de sua carreira. O mesmo ocorre com aquele que
recusa a proposta de mudança. Quando se desiste da carreira, as chances são
grandes de o relacionamento desabar, não dar certo, porque um sempre culpará o
outro por sua insatisfação. Caso o casal tenha filhos, as variáveis se
multiplicam. É por isso que quem recebe a proposta deve pensar no todo, e não
somente em si".
Ele lembra que cada caso é um caso, que depende muito do perfil dos envolvidos.
Por exemplo, segundo Kelber, ainda existem muitas mulheres que não se importam
em ficar em casa cuidando dos filhos, ao mesmo tempo, há aquelas que se
importam, e muito. "O ideal seria os dois conseguirem se mudar e dar
continuidade à carreira, mas se ocorre o não ideal, o relacionamento ainda pode
dar certo. Depende da disponibilidade de cada um para gerenciar o relacionamento
e fazê-lo funcionar".
Distância não é empecilho
O consultor da LCZ lembra que, hoje em dia, é muito comum encontrarmos
casais que vivem separados, até mesmo em países diferentes. "Um foi transferido
e o outro ficou. Não tem uma regra, não se pode afirmar que essa situação é boa
ou ruim. É verdade que, se a relação não for sólida, ela pode acabar. O fato é
que acompanhar o parceiro não pode ser uma obrigação".
Kelber concorda. De acordo com ele, se os casais que vivem separados e se vêem
de tempos em tempos conseguirem manter a estabilidade, o que pode ser difícil,
tudo bem.
Na opinião de Toledo, caso a mudança seja de país, é uma oportunidade para o
acompanhante fazer um curso de especialização. "Ele pode aproveitar para fazer
uma pós-graduação, um mestrado ou um MBA e ainda aprender sobre uma cultura
diferente, e um idioma diferente. Acaba sendo uma oportunidade de crescimento na
carreira", afirma.
Como decidir
O diretor-executivo do Insadi explica que a mudança de estado ou de país é
um passo importante, cuja decisão implica autoconhecimento e cautela por parte
de todos os afetados.
"Quem recebe a proposta não pode olhar somente para o dinheiro. O salário é
importante, mas dinheiro não é suficiente para conseguir tudo na vida. Às vezes,
a ganância das pessoas as leva para situações muito piores. Já aqueles que não
sabem se devem acompanhar o parceiro na mudança devem saber o que querem para si
e pesar se interromper a carreira não afetará sua auto-estima".
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