Como elaborar um plano de negócios para uma incubadora de empresas
1. Introdução
O número de incubadoras de empresas tem crescido rapidamente nos últimos
anos, tanto no exterior, como no Brasil. Nos EUA, até o início dos anos 80 havia
apenas cerca de 10 incubadoras. Esse número cresceu rapidamente na década
seguinte e, em 1997, já havia mais de 500 incubadoras naquele país [1], [2]. No
Brasil, mais recentemente, vem ocorrendo algo semelhante. A primeira incubadora
de empresas do país foi criada em São Carlos-SP, em 1984, e está vinculada à
Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos, entidade mantenedora da
incubadora. Desse período até os dias atuais, o número de incubadoras de
empresas no país aumentou consideravelmente. Atualmente, principalmente no
Estado de São Paulo, cria-se, em média, uma incubadora de empresas por mês. É
importante ressaltar que essas incubadoras são de caráter bastante eclético, ou
seja, tecnológicas, convencionais e mistas. Em todo país, o número de
incubadoras de empresas ultrapassa uma centena, sendo o Brasil o país que
experimenta a maior taxa de crescimento em todo o mundo. No Estado de São Paulo
existem cerca de 40 incubadoras de empresas, correspondendo a quase 40% do total
de incubadoras do país. A principal justificativa para esse explosivo
crescimento do número de incubadoras paulistas, nos últimos três anos, deve-se
ao fato do SEBRAE-SP ter financiado grande parcela dessas incubadoras nascentes,
com renovação anual dos convênios firmados. Outra entidade que participa como
mantenedora de dezenas de incubadoras paulistas é a FIESP Federação das
Indústrias do Estado de São de Paulo.
Quando um movimento como este cresce tão rapidamente, faz-se necessário
adotar medidas de controle, acompanhamento e avaliação das ações empreendidas,
com o intuito de se nortear as atividades de cada incubadora em particular, rumo
a um objetivo comum de criação de empresas competitivas. Não se pode correr o
risco de apenas promover a criação de um grande número de incubadoras de
empresas sem a indução de ações que efetivamente garantam o sucesso dessas
incubadoras e das empresas incubadas. Sendo assim, este artigo trata de um
aspecto extremamente importante quando da criação de uma incubadora de empresas
e do acompanhamento do estágio inicial de seu crescimento: a análise de
viabilidade de implantação da incubadora em uma determinada região e a
elaboração do plano de negócios da incubadora, que servirão de base para todas
as ações, tanto de caráter estratégico e mercadológico, como operacional do
negócio incubadora de empresas.
2. Incubadoras de Empresas como Agentes de Desenvolvimento Regional
É interessante analisar o papel das incubadoras de empresas como agentes do
desenvolvimento econômico e como participantes do processo de formação de
empreendedores e empresas. Mas, antes disso, é importante também entender como
funciona o processo empreendedor, principalmente quando há inovação tecnológica,
e assim, entender onde a incubadora exerce seu papel neste processo. O
desenvolvimento econômico é dependente de quatro fatores críticos que, em
conjunto, possibilitam a criação de negócios de sucesso (vide Figura 1).
Segundo Dertouzos [4], a inovação tecnológica possui quatro pilares, os quais
estão de acordo com esses fatores acima apresentados:
1) Investimento de capital de risco;
2) Uma infra-estrutura de alta tecnologia;
3) Idéias criativas;
4) Uma cultura empreendedora focada na paixão pelo negócio.
Ainda segundo Dertouzos, esses quatro ingredientes são raros, pois em sua
concepção, antes vem a paixão pelo negócio e depois o dinheiro, o que contradiz
a corrente de análise econômica, a qual pressupõe que deve haver um mercado
consumidor e conseqüentemente possibilidades de lucro com o negócio. Dertouzos
conclui afirmando que as invenções tecnológicas não ocorrem assim. Na verdade, o
que ocorre é um meio termo: tanto as empresas buscam nos centros de pesquisa
tecnologias inovadoras que, agregadas ao seu processo ou produto, promovam uma
inovação tecnológica, como os centros de pesquisa desenvolvem tecnologias sem o
comprometimento econômico, mas que posteriormente poderão ser aplicadas nas
empresas.
Entendendo esses fatores, torna-se mais claro o papel que as incubadoras de
empresas, principalmente as de base tecnológica, podem exercer para facilitar a
sua convergência em um mesmo local, proporcionando assim uma overdose de
inovação tecnológica, e a criação de empresas de sucesso. As incubadoras de
empresas podem então ser um importante elo de ligação entre os empreendedores,
especialmente os voltados a empreendimentos de alta tecnologia, e a
comercialização de seus produtos e serviços. Para que isso ocorra, existem
alguns fatores críticos de sucesso para o desenvolvimento das incubadoras (ver
Figura 2).
Analisando-se a Figura 2 e fazendo-se um paralelo com o rápido crescimento do
número de incubadoras de empresas no país, nota-se que esses fatores críticos de
sucesso nem sempre estão sendo considerados quando da criação dessas
incubadoras. Em sua maioria, essas incubadoras de empresas estão sendo criadas
sem observação de alguns critérios básicos, predominando fatores políticos,
entre os quais a forte pressão para a criação de empregos, que poderão levá-las,
em pouco tempo, ao fracasso. A criação de empregos deve ser encarada como uma
conseqüência da criação de incubadoras e não como seu objetivo principal, que
deve ser a criação de empresas competitivas. Na verdade, grande parte dessas
incubadoras são condomínios de empresas convencionais, onde as despesas comuns
são divididas entre as empresas participantes, o que diverge do conceito de
incubadora de empresas, que é mais amplo. Isso pode, a médio ou longo prazo,
trazer graves conseqüências para o desenvolvimento econômico regional,
provocando um certo descrédito ao movimento de criação de incubadoras de
empresas e, em conseqüência disso, trazer prejuízos às empresas nascentes e seus
empreendedores, que não encontrarão as facilidades e incentivos necessários para
impulsionar seu negócio. Porém, quando esses fatores críticos são observados, há
a criação de incubadoras de empresas de base tecnológica que acabam se
sobressaindo entre as demais, como ocorre com algumas incubadoras do Estado de
São Paulo, como as de São Carlos, Campinas, São José dos Campos, Barretos, e da
Capital Paulista. Nesses casos, em que houve algum tipo de sucesso prévio de
criação de empresas de base tecnológica, promovendo efetivamente a inovação
tecnológica através de parcerias entre os centros de pesquisa e universidades
com as incubadoras e empresas incubadas, deve-se dar atenção à continuidade do
processo, reiniciando novos ciclos de incubação de empresas e não se prender aos
sucessos do passado, promovendo inovações na gestão da incubadora e procurando
outras formas de crescimento e sustentação, bem como procurar atrair novos
empreendedores visionários, dando-lhes o devido suporte para estabelecer seus
negócios.
3. Estudo de Viabilidade Econômica para Implantação de uma
Incubadora de Empresas
Uma incubadora de empresas, como qualquer negócio, requer um planejamento
cuidadoso de sua implementação, incluindo um estudo de viabilidade. Meeder [5]
identifica razões que mostram porque um estudo de viabilidade é essencial para o
sucesso de uma incubadora:
- Estimula o consenso e motiva os líderes da sociedade envolvidos no processo;
- Gera modos criativos para superar obstáculos;
- Conduz à elaboração de um plano de negócios;
- Evita que o projeto contenha erros críticos na seleção das instalações,
estrutura de gestão etc;
- Promove uma melhor conscientização da comunidade a respeito do movimento de
incubadoras de empresas;
- Permite, desde o início, manter-se um histórico das atividades do projeto e
provê um ponto de referência para o pessoal que futuramente estará gerindo o
projeto;
- Permite estreitar o relacionamento com outras incubadoras de empresas
prósperas de outras comunidades.
Como um aspecto de planejamento inicial e preparação, o estudo de
viabilidade envolve a identificação de demanda regional em geração de novos
negócios, capacidade da incubadora, localização física, e conscientização da
comunidade. De posse desta informação, o grupo de pessoas que planeja uma
incubadora deve estar capacitado a entender os processos pelos quais as
incubadoras de empresas prosperam e amadurecem, compreendendo seu ciclo de
desenvolvimento. Allen [6] propôs um ciclo de vida de três fases para as
incubadoras de empresas:
- Fase start-up, caracterizado por um estudo de viabilidade, identificação do
espaço físico, e culminando na criação da incubadora;
- Fase de renovação das instalações e de desenvolvimento inicial;
- Fase de desenvolvimento empresarial, onde os gerentes de incubadoras
trabalham com um conjunto de potenciais empresas a serem incubadas e as
empresas incubadas atuais, na preparação de um plano de negócios coerente
com as expectativas de crescimento da incubadora.
A maturidade da incubadora de empresas é determinada pelo nível
crescente de demanda de empresas interessadas em ingressar na incubadora, as
quais visam usufruir dos serviços e instalações que a incubadora de empresas
dispõe. Esse deve ser um fator a ser considerado quando se deseja implementar um
processo de avaliação de incubadoras de empresas.
4. Plano de Negócios: Mitos e Realidade
Segundo Sahlman [7], importante professor da Harvard Business School, poucas
áreas têm atraído tanta atenção dos homens de negócio nos Estados Unidos como os
planos de negócios. Dezenas de livros e artigos têm sido escritos e publicados
naquele país tratando do assunto e propondo fórmulas milagrosas de como escrever
um plano de negócios que revolucionará a empresa. Isso começa a ocorrer também
no Brasil, porém em ritmo mais lento. O cuidado que se deve tomar é o de se
escrever um plano de negócios com todo conteúdo que se aplica ao mesmo e que não
contenha números recheados de entusiasmo ou fora da realidade. Nesse caso, pior
que não planejar é fazê-lo erroneamente, e o pior ainda, conscientemente.
Essa ferramenta de gestão pode e deve ser usada por todo e qualquer
empreendedor que queira transformar seu sonho em realidade, seguindo o caminho
lógico e racional que se espera de um bom administrador, o que também se aplica
no caso de gestores de incubadoras de empresas. É evidente que apenas razão e
raciocínio lógico não são suficientes para determinar o sucesso do negócio. Se
assim ocorresse, a arte de administrar não seria mais arte, apenas uma atividade
rotineira, onde o feeling do administrador nunca seria utilizado. Mas existem
alguns passos, ou atividades rotineiras, que devem ser feitos por todo
empreendedor ou gerente de uma incubadora de empresas. A arte estará no fato de
como o empreendedor traduzirá esses passos realizados racionalmente em um
documento que sintetize e explore as potencialidades de seu negócio, bem como os
riscos inerentes a esse mesmo negócio. Isso é o que se espera de um plano de
negócios. Que seja uma ferramenta para o empreendedor expor suas idéias em uma
linguagem que os leitores do plano de negócios entendam e, principalmente, que
mostre viabilidade e probabilidade de sucesso em seu mercado. O plano de
negócios é uma ferramenta que se aplica tanto no lançamento de novos
empreendimentos quanto no planejamento de empresas ou incubadoras de empresas
maduras.
A maioria dos planos de negócios resume-se a textos editados sobre um modelo
pré-determinado e que não convencem ao próprio empreendedor. Geralmente são
escritos como parte dos requisitos de aprovação de um empréstimo, ingresso em
uma incubadora de empresas, solicitação de bolsas ou recursos financeiros de
órgãos do Governo etc, e que são feitos apenas para esse fim, às pressas, sem
muita fundamentação ou, como já foi dito, recheado de números mágicos. Como
esperar que convençam a um investidor, bancos, potenciais parceiros,
fornecedores, à própria empresa internamente, esses que são, geralmente, os
públicos-alvos de um plano de negócios? Deve-se ter em mente que essa ferramenta
propõe-se a ser o cartão de visitas do empreendedor, mas também pode ser o
cartão de desqualificação do mesmo empreendedor em busca de oportunidades. As
oportunidades geralmente são únicas e não podem ser desperdiçadas. E como cartão
de visitas, o empreendedor deve sempre ter à mão o plano de negócios de seu
empreendimento, elaborado de maneira primorosa e cuidadosamente revisado.
Devido a sua importância, o plano de negócios deveria ser inserido como
disciplina regular em cursos de administração de empresas e de empreendedorismo.
Isso já vem sendo feito no país em algumas áreas, como o projeto GENESIS do
SOFTEX [8]. O importante não é mostrar o roteiro a ser preenchido pelo
empreendedor. Deve-se vender a idéia do plano de negócios e disseminar seu
conceito básico junto aos empresários das MPE Micro e Pequenas Empresas
brasileiras. E esse conceito básico é o planejamento. Outro paradigma que
precisa ser quebrado é o fato de achar-se que o plano de negócios depois de
feito pode ser esquecido. Este é um erro imperdoável e as conseqüências serão
mostradas pelo mercado que está em constante mutação. A concorrência muda, o
mercado muda, as pessoas mudam. E o plano de negócios, sendo uma ferramenta de
planejamento que trata essencialmente de pessoas, oportunidades, do contexto e
mercado, riscos e retornos [7], também muda. O plano de negócios é uma
ferramenta dinâmica e que deve ser atualizado constantemente, pois o ato de
planejar é dinâmico e corresponde a um processo cíclico.
Uma outra iniciativa que merece destaque e vem sendo implementada com sucesso
no Estado de São Paulo, é a utilização do plano de negócios pelas incubadoras de
empresas que pertencem à Rede Paulista de Incubadoras de Empresas. Atualmente, o
trabalho vem sendo desenvolvido junto a 40 incubadoras de empresas e seus
gerentes. Uma das idéias principais desse projeto é o de capacitar os gerentes
de incubadoras na elaboração e utilização do plano de negócios e também na
assessoria junto às empresas incubadas na elaboração de seu plano de negócios
[9]. O SEBRAE-SP vinculou a aprovação dos novos convênios e renovação dos atuais
à apresentação de um plano de negócios da incubadora interessada nos recursos da
entidade. Essas incubadoras estão sendo assessoradas desde o início, com cursos
de capacitação na elaboração de planos de negócios para seus gerentes,
consultorias específicas e acompanhamento contínuo das melhorias e atualizações
dos seus planos de negócios, que são periodicamente revisados e avaliados, tendo
como base uma metodologia desenvolvida pela equipe da Fundação Parqtec,
responsável pelo Projeto de Avaliação e Acompanhamento das Incubadoras de
Empresas Paulistas.
Todo plano de negócios deve ser elaborado e utilizado seguindo algumas regras
básicas, mas que não são estáticas e permitam ao empreendedor utilizar sua
criatividade ou bom senso, enfatizando um ou outro aspecto que mais interessa ao
público-alvo do plano de negócios em questão. No caso das empresas ou
incubadoras que já se encontram em funcionamento, ele deve mostrar não apenas
aonde a empresa quer chegar, ou situação futura, mas também onde a organização
está no momento, mostrando os valores dos seus atuais indicadores de desempenho.
Outra característica importante é que ele não deve estar apenas focado no
aspecto financeiro. Indicadores de mercado, de capacitação interna da empresa e
operacionais são igualmente importantes, pois estes fatores mostram a capacidade
da empresa em alavancar os seus resultados financeiros no futuro. É importante
que o plano de negócios possa demonstrar a viabilidade de se atingir a situação
futura planejada, mostrando "como" a empresa pretende chegar lá. Então, o que o
empresário precisa é de um plano de negócios que lhe sirva de guia, que seja
revisado periodicamente e que permita alterações visando vender a idéia ao
leitor desse seu plano de negócios.
Como o plano de negócios é um documento usado para descrever seu negócio, as
seções que compõem um plano de negócios geralmente são padronizadas para
facilitar o entendimento. Cada uma das seções do plano tem um propósito
específico. Um plano de negócios para uma pequena empresa pode ser menor que o
de uma grande organização, não ultrapassando talvez 10-15 páginas. Muitas seções
podem ser mais curtas que outras e até ser menor que uma única página de papel.
Mas para se chegar ao formato final geralmente são feitas muitas versões e
revisões do plano de negócios até que esteja adequado ao público-alvo do mesmo.
Não existe uma estrutura rígida e específica para se escrever um plano de
negócios, porém, qualquer plano de negócios deve possuir um mínimo de seções as
quais proporcionam um entendimento completo do negócio. Estas seções são
organizadas de forma a manter uma seqüência lógica que permita a qualquer leitor
do plano entender como a empresa está organizada, seus objetivos, seus produtos
e serviços, seu mercado, sua estratégia de marketing e sua situação financeira.
Outra questão muito discutida é sobre qual deve ser o tamanho ideal de um
plano de negócios. Não existe um tamanho ideal ou quantidade exata de páginas
para o plano de negócios. O que se recomenda é escrever o plano de negócios de
acordo com as necessidades do público-alvo que lerá o plano de negócios. Se o
leitor for um gerente de banco ou um investidor, por exemplo, ele dará mais
ênfase para a parte financeira do plano e as pessoas que estão no negócio. Se o
leitor for uma instituição de fomento ou governamental, esta enfocará porque se
está requisitando a quantidade de recursos solicitada, onde aplicará e como a
empresa retornará o capital investido. Se for um parceiro, este atentará mais
para a sua análise de mercado e oportunidades de grandes lucros. Se for um
fornecedor, este atentará para a saúde financeira da empresa, sua carteira de
clientes, a taxa de crescimento do negócio. Enfim, é importante ressaltar
novamente que a estratégia e a quantidade de páginas do plano de negócios
dependerão de qual será o seu público-alvo. Como exemplos, encontra-se a seguir
descrições de alguns tipos e tamanhos sugeridos de planos de negócios [10].
- Plano de Negócios Completo: é utilizado quando se pleiteia uma grande
quantidade de dinheiro, ou se necessita apresentar uma visão completa do seu
negócio. Pode variar de 15 a 40 páginas mais material anexo;
- Plano de Negócios Resumido: é utilizado quando se necessita apresentar
algumas informações resumidas a um investidor, por exemplo, com o objetivo
de chamar sua atenção para que ele lhe requisite um plano de negócios
completo. Deve mostrar os objetivos macros do negócio, investimentos,
mercado, e retorno sobre o investimento, devendo dar ênfase nas informações
específicas requisitadas. Geralmente varia de 10 a 15 páginas.
- Plano de Negócios Operacional: é muito importante para ser utilizado
internamente na empresa pelos diretores, gerentes e funcionários. É
excelente para alinhar os esforços internos em direção aos objetivos
estratégicos da organização. Seu tamanho pode ser variável e depende das
necessidades específicas de cada empresa em termos de divulgação junto aos
funcionários.
Independente do tamanho e tipo do plano de negócios, sua estrutura deve
conter as seções anteriormente apresentadas não de forma isolada e sim com
estreito relacionamento, de maneira a completar o ciclo de planejamento do
negócio, com ações coerentemente definidas e com projeções de resultados viáveis
de se obter, com base em uma análise criteriosa de mercado e da situação atual
da empresa. Assim, o plano de negócios deixará de correr o risco de ser apenas
um mito e se tornará uma ferramenta fundamental que, certamente, auxiliará o
empreendedor a alcançar o sucesso almejado, ou ainda, mostrará a esse mesmo
empreendedor que o momento não é propício para o negócio vislumbrado, evitando
decepções futuras.
Finalmente, para que o plano de negócios possa se tornar um instrumento
eficaz de gerenciamento, é importante que as informações nele existentes possam
ser divulgadas internamente à empresa de uma forma satisfatória. Boas
informações trancadas em uma gaveta ou perdidas em uma montanha de papéis na
mesa de um executivo não são propriamente utilizáveis e acabam fatalmente por
cair no esquecimento. Sendo assim, as informações apresentadas no plano de
negócios também devem ser utilizadas internamente, guiando e validando os
esforços de melhoria da empresa. Para que isso aconteça, é necessário que exista
um monitoramento periódico da situação atual em relação aos números previstos,
ou metas, do plano. Desta forma, o plano de negócios pode se transformar em um
instrumento dinâmico de implementação da estratégia da empresa.
5. Implantação do Plano de Negócios nas Incubadoras Paulistas
Uma das principais atividades desenvolvidas pela equipe do Projeto de
Avaliação e Acompanhamento das Incubadoras de Empresas Paulistas foi o
desenvolvimento e aplicação de uma metodologia de implantação do plano de
negócios junto às incubadoras de empresas do programa em questão. Inicialmente,
desenvolveu-se um modelo de plano de negócios adequado à realidade das
incubadoras de empresas, tendo como base diversas pesquisas efetuadas
internacionalmente, onde foram analisados mais de 10 (dez) modelos de planos de
negócios utilizados tanto por empresas, como por instituições sem fins
lucrativos e outras organizações.
De posse desses modelos, chegou-se a um modelo final que, no entendimento da
equipe responsável pelo projeto, melhor se adequou ao caso das incubadoras de
empresas brasileiras. O modelo adotado focou os principais aspectos que devem
ser abordados em uma incubadora de empresas, sendo estruturado como segue. Esse
modelo de plano de negócios é composto por várias seções que se relacionam e que
permitem um entendimento global do negócio de forma escrita e em poucas páginas.
Cada seção deve ser abordada sempre visando a objetividade, sem perder sua
essência e os aspectos mais relevantes a ela relacionados.
1. Capa A capa, apesar de não parecer, é uma das partes mais importantes
do plano de negócios, pois é a primeira parte que é visualizada por quem lê
o plano de negócios devendo, portanto, ser feita de maneira limpa e com as
informações necessárias e pertinentes.
2. Sumário O sumário deve conter o título de cada seção do plano de
negócios e a página respectiva onde se encontra, bem como os principais
assuntos relacionados em cada seção. Isto facilita ao leitor do plano de
negócios encontrar rapidamente o que lhe interessa. Qualquer editor de
textos permite a confecção automática de sumários e tabelas de conteúdo e
que são bastante apresentáveis.
3. Sumário Executivo (1 página) O Sumário Executivo é a principal seção
do plano de negócios. Através do Sumário Executivo é que o leitor decidirá
se continuará, ou não, a ler o plano de negócios. Portanto, deve ser escrito
com muita atenção, revisado várias vezes e conter uma síntese das principais
informações que constam no plano de negócios. Deve ainda ser dirigido ao
público-alvo do plano de negócios e explicitar qual o objetivo do plano de
negócios em relação ao leitor (ex.: requisição de financiamento junto a
bancos, capital de risco, apresentação da incubadora para potenciais
parceiros etc.). O Sumário Executivo deve ser a última seção a ser escrita,
pois depende de todas as outras seções do plano para ser feita.
4. Planejamento Estratégico do Negócio A seção de planejamento
estratégico é onde são definidos os rumos da incubadora, sua situação atual,
as potencialidades e ameaças externas, suas forças e fraquezas, suas metas e
objetivos de negócio, bem como a descrição da visão e missão da incubadora.
É a base para o desenvolvimento e implantação das demais ações descritas no
plano.
5. Descrição da Incubadora Nesta seção deve-se descrever a incubadora,
seu histórico, crescimento, sua estrutura legal, impostos, estrutura
organizacional, localização, parcerias, serviços terceirizados, instalações
etc.
6. Serviços Oferecidos Esta seção do plano de negócios é destinada aos
serviços oferecidos pela incubadora, como são produzidos, recursos
utilizados, o ciclo de vida, fatores tecnológicos envolvidos, pesquisa e
desenvolvimento, principais clientes atuais (empresas incubadas e graduadas)
etc.
7. Análise de Mercado Na seção de Análise de Mercado, o autor do plano de
negócios deve mostrar que os executivos da incubadora conhecem muito bem o
mercado consumidor do seu serviço (através de pesquisas de mercado): como
está segmentado, o crescimento desse mercado, as características das
pequenas empresas e empreendedores e sua localização, se há sazonalidade e
como agir nesse caso, análise da concorrência, a sua participação de mercado
e a dos principais concorrentes, os riscos do negócio etc.
8. Plano de Marketing O Plano de Marketing apresenta como a incubadora
pretende vender seus serviços e conquistar seus clientes, manter o interesse
dos mesmos e aumentar a demanda, bem como qual o método utilizado para a
seleção de novos incubados. Deve abordar seus métodos de vendas,
diferenciais do serviço oferecido para o cliente, política de preços,
estratégias de promoção/comunicação e publicidade, bem como projeções de
receitas.
9. Plano Financeiro A seção de finanças deve apresentar em números todas
as ações planejadas para a incubadora e as comprovações, através de
projeções futuras (quanto necessita de capital, quando e com que propósito),
de sucesso do negócio. Deve conter demonstrativo de fluxo de caixa com
horizonte de, pelo menos, 3 anos; balanço patrimonial (se aplicável);
necessidades de investimento; demonstrativos de resultados; contrapartidas
oferecidas etc.
10. Anexos Esta seção deve conter todas as informações que se julgar
relevantes para o melhor entendimento do plano de negócios. Por isso, não
tem um limite de páginas ou exigências a serem seguidas.A única informação
que não se pode esquecer de incluir é a relação dos currículos das
principais pessoas da incubadora, bem como uma relação de empresas
incubadas, empregos gerados, média salarial e faturamento global dessas
empresas. Pode-se anexar ainda informações como fotos de produtos, plantas
da localização, roteiros e resultados completos das pesquisas de mercado que
foram realizadas, material de divulgação do negócio, folders, catálogos,
estatutos, planilhas financeiras detalhadas etc.
Com o modelo definido, estruturou-se um primeiro treinamento a todas
incubadoras do programa, com o intuito de se nivelar conceitos, padronizar
formatos e prover esclarecimentos aos gerentes das incubadoras. Após esse
treinamento, todos os gerentes tiveram 3 meses para a elaboração da primeira
versão do plano de negócios de sua incubadora de empresas, com o apoio de
especialistas e assessoria da equipe da Fundação Parqtec.
No final do prazo estipulado, todos os planos de negócios foram enviados à
equipe da Fundação Parqtec para análise, avaliação e sugestão de melhorias. Essa
avaliação foi efetuada em pares com o intuito de se obter um resultado com
isenção e mais apurado. Um método foi desenvolvido para se avaliar os planos de
negócios, onde foram selecionados 12 tópicos de maior importância do plano de
negócios, os quais foram graduados com notas de 1 a 5, equivalendo aos conceitos
ruim, inadequado, adequado, bom e excelente, respectivamente (vide quadro 1).
Cada plano de negócios, após avaliado, foi entregue pessoalmente a cada gerente
de incubadora, acompanhado da respectiva avaliação, com comentários e sugestões
de melhorias. Pelo fato da avaliação dos planos de negócios ser entregue em mãos
aos gerentes, houve um resultado bastante positivo já que cada gerente pôde
sanar dúvidas remanescentes diretamente com os avaliadores dos planos de
negócios.
Mais uma vez deu-se um prazo (4 meses) para cada gerente de incubadora
desenvolver a segunda versão do plano de negócios de sua incubadora. Novamente,
todos os gerentes tiveram todo o suporte necessário para a elaboração da segunda
versão do plano de negócios. Após o prazo de 4 meses, houve uma segunda
avaliação dos planos de negócios baseada no mesmo critério anterior. Observou-se
uma melhora acima de 30% em termos da pontuação geral obtida em relação à
primeira avaliação. Isto mostrou que os gerentes assimilaram o conceito e se
mostraram preparados para utilizar seu plano de negócios como ferramenta
gerencial na incubadora de empresas, pleitear recursos junto aos órgãos de
fomento que destinam recursos às incubadoras, e ainda, que estão preparados para
agir como multiplicadores do conceito do plano de negócios junto às empresas
incubadas.
A metodologia aplicada mostrou-se adequada, tendo em vista os resultados
obtidos e encontra-se em aplicação junto a um segundo grupo de novas incubadoras
paulistas que foram criadas recentemente.
1. Sumário Executivo
(claro, objetivo e efetivo como uma prévia do plano; inclui uma breve
descrição de cada seção importante do plano, respondendo aos 5W 1H e
podendo ser lido em menos de 5 minutos). |
2. Planejamento Estratégico
(Apresenta a visão, missão, análise dos ambientes externo e interno,
oportunidades e riscos, análise SWOT, situação atual, fatores chaves de
sucesso, estratégia, metas e objetivos do negócio). |
3. Serviços
(descreve as características e benefícios chaves, estágio atual de
desenvolvimento e as vantagens competitivas dos serviços). |
4. Análise de Mercado
(apresenta as tendências de crescimento do mercado; identifica as
características chaves e as necessidades do mercado alvo; avalia o
ambiente competitivo; demonstra a aceitação do serviço pelo mercado). |
5. Estratégia de Marketing
(apresenta uma estratégia bem definida de posicionamento, preços, praça
e promoção). |
6. Equipe Gerencial
(experiência e papéis das pessoas chaves; histórico e habilidade para
trabalho em equipe, formando um time; necessidades de pessoal; estrutura
organizacional). |
7. Descrição da Incubadora
(descrição do negócio, aspectos legais, localização, segurança,
instalações, contratação de pessoas, aspectos administrativos da
descrição da incubadora). |
8. Demonstrativo de Fluxo de Caixa
(apresenta uma avaliação realista das necessidades de caixa entradas e
saídas para um período projetado de 3 anos; fluxos de caixa são
consistentes com as estratégias de marketing e operacional da empresa
que estão expressas no plano; fluxo de caixa detalhado para o primeiro
ano e anual para os demais anos). |
9. Demonstrativo de Resultados
(demonstra resultados realistas e atrativos para o negócio; resultados
são consistentes com a estratégia de marketing; horizonte de 3 anos). |
10. Balanço Patrimonial (se aplicável)
(apresenta uma avaliação realista do capital e ativos da incubadora;
reflete de maneira apropriada a estrutura de capital da incubadora
dívidas de longo prazo e posições dos ativos; balanço projetado
anualmente para 3 anos). |
11. Recursos Solicitados
(apresentação clara e consistente da quantidade de capital requerido,
quando, onde e como será usado o recurso solicitado). |
12. Contrapartida
(articula claramente as propostas aos investidores (SEBRAE-SP);
identifica o que está sendo requerido dos investidores e porque;
estabelece possíveis cenários de saída e formas que se dará o acordo
entre as partes). |
6. Considerações Finais
Com o constante aumento do desemprego, muitos ex-funcionários de empresas têm
se jogado, sem qualquer preparo, na aventura de montar um negócio próprio, com o
sonho de independência financeira, de liberdade e de ficar rico. A história tem
mostrado que uma pequena parcela desses mesmos aventureiros, também chamados de
empreendedores, são os grandes responsáveis pelo desenvolvimento econômico e
crescimento do país. Porém, a grande maioria encontra uma nova decepção quando
opta pelo negócio próprio e acaba conhecendo uma realidade cruel, a qual mostra
quão vil é o mercado com aqueles que não estão preparados.
A economia de mercado não permite aos principiantes ou apenas sonhadores
saírem vitoriosos. Isso não significa que se deve aceitar os fatos e deixar que
o mercado sempre imponha as regras do jogo. Pode-se sim, com um planejamento
eficaz, contínuo e, o mais importante, com uma análise realista, construir
empresas de sucesso mesmo em tempos de crise. Para isso, o futuro empreendedor
deve compreender as regras do jogo antes de jogar e se convencer, a partir de
dados concretos, que há uma possibilidade de sucesso no futuro empreendimento. O
problema é que as ferramentas disponíveis a esses empreendedores, destinadas a
fornecer-lhes suporte nesta tarefa, são mal compreendidas e precariamente
utilizadas. O plano de negócios é um exemplo claro de ferramenta de gestão
comprovadamente eficiente em muitos casos, mas que, em outros, pelo fato de não
ser adequadamente compreendida, acaba não agregando valor à ação empreendedora e
cai no descrédito. Os fatores principais que levam a esse cenário são muitos,
mas o principal é o fator cultural do brasileiro que não crê no planejamento e
prefere errar e aprender com os erros. Essa experiência de aprender com os erros
seria sempre válida se fosse possível repeti-la mais de uma ou duas vezes, o que
geralmente não ocorre.
Apesar dos problemas citados, ações estão sendo tomadas ainda que em alguns
setores específicos, e que certamente serão multiplicadas pelos que estão
passando pela experiência de conhecer e usar o plano de negócios. O caso das
incubadoras de empresas paulistas pode ser considerado como um exemplo de
sucesso de utilização dessa ferramenta de gestão, pois vem auxiliando muitas
destas incubadoras no amadurecimento do seu negócio, com aumento de demanda
pelos seus serviços e otimização do uso dos recursos disponíveis, e
principalmente, por instituir a cultura do planejamento nessas organizações das
quais dependem dezenas de empreendedores dispostos a criar empresas
competitivas, tendo como conseqüência a geração de mais empregos e a melhoria
das condições sociais do país.