A Pintec é a pesquisa sobre inovação tecnológica do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O principal objetivo da
pesquisa é conhecer e mensurar o processo inovativo realizado pelas empresas
brasileiras e assim compreender melhor o crescimento econômico do Brasil. Afinal
um crescimento sustentável pressupõe inovações tecnológicas.
Esse tipo de pesquisa é recente no mundo inteiro. Os países nórdicos e a
Itália foram os primeiros a fazê-las ainda nos anos 90. O modelo adotado pelo
Brasil é semelhante ao usado atualmente na União Européia e foi definido pelo
chamado Manual de Oslo, cuja 3ª edição foi lançada em 2005.
No Brasil, já houve três resultados da pesquisa. A última, divulgada
hoje, mostra um crescimento nas taxas de inovação entre os anos de 2003
e 2005. O último resultado também levou em conta novas diretrizes como a
ampliação dos números de empresas que participam da pesquisa, incluindo, por
exemplo, empresas de telecomunicações,de informática e de pesquisa e
desenvolvimento (P&D).
Conheça um pouco mais sobre a inovadora pesquisa do IBGE nesse artigo, que
foi revisado pela coordenadora da pesquisa, Mariana Martins Rebouças.
O que é a inovação tecnológica?
Uma das dificuldades encontradas pelos pesquisadores do IBGE que produzem a
Pintec é ajudar o próprio empresário, principalmente entre as
micro e pequenas empresas, a entender o que é exatamente inovação tecnológica.
Para isso, o questionário foi moldado afim de que os entrevistados respondam e
assim cheguem, junto com os entrevistadores, a entender melhor a definição.
A grosso modo, inovação tecnológica é toda a novidade implantada pela
empresa, por meio de pesquisas ou investimentos, que aumenta a eficiência do
processo produtivo ou que implica em um novo ou aprimorado produto. Assim, muita
coisa pode ser definida como inovação tecnológica. Essas inovações estão
divididas basicamente entre produtos e processos.
Vamos ver alguns exemplos do que seria uma inovação tecnológica, segundo os
critérios do Pintec:
- Introdução de novo produto ou variação de produto já existente. Por
exemplo, numa indústria alimentícia, o lançamento de uma versão light ou
diet de um produto;
- A implantação de código de barras em empresas que não usavam;
- Introdução de um determinado insumo que otimiza ou barateia determinada
produção, no todo ou em parte;
- Adequação de produtos às exigências das leis e outras portarias
reguladoras;
- Criação de um linha voltada para um segmento de mercado não explorado
anteriormente. Por exemplo, uma indústria têxtil de artigos infantis que
lança uma linha de roupas para adolescentes;
- Melhorias na logística de armazenamento, transporte e distribuição dos
produtos;
- Aplicação de novos softwares que demande mudanças também no hardware ou
otimiza a produção e/ou o produto.
Com os exemplos, é possível perceber que a inovação tecnológica deve estar
ligada à implementação de produto e/ou processo novo (ou substancialmente
aprimorado) para a empresa, não sendo, necessariamente, novo para o mercado ou
para o setor de atuação da empresa..
Definido o que é inovação tecnológica, veja quem participa da pesquisa.Quem participa
São alvo dos pesquisadores da Pintec basicamente empresas
industriais, de telecomunicações, de informática e instituições de pesquisa e
desenvolvimento, com registro no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ, e
com 10 ou mais pessoas ocupadas.
Para escolher os entrevistados, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) relaciona, primeiramente, as empresas, com as características
acima descritas, no seu Cadastro Central de Empresas. Por serem poucas, todas as
instituições de pesquisa e desenvolvimento (P&D) são selecionadas. Para as
outras atividades, a escolha das empresas é feita por amostragem. Aquelas que
integram algum dos diferentes cadastros gerais ligados a inovação
tecnológica - as empresas que estão nos cadastros do Inpi (Instituto Nacional de
Propriedade Intelectual), responsável pelo registro de patentes; que foram
beneficiadas com incentivos fiscais das Leis de P&D ou da Lei de Informática, do
MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), que receberam financiamento da Finep
(Financiadora de Estudos e Projetos) etc., - recebem marcas que as identificam
como potenciais inovadoras. Depois as empresas são agrupadas em três estratos:
• estrato certo - composto pelas grandes empresas e por
aquelas com, pelo menos, uma marca principal ou, no caso da indústria, oito ou
mais marcas secundárias;
• estrato amostrado elegível - constituído pelas empresas
restantes com alguma marca;
• estrato não elegível - composto pelas empresas sem qualquer
marca.
Os entrevistados de cada versão da pesquisa representam entre 12% a 15% do
universo de empresas relacionadas, primeiramente, no Cadastro Central de
Empresas..
Nas duas primeiras versões da pesquisa (2000 e 2003), foram ouvidas mais de
10 mil empresas, todas elas do setor industrial. Desde grandes empresas com mais
de 500 funcionários até micro e pequenas empresas com 10 ou mais empregados.
Na versão de 2005, divulgado em 2007, o número de participantes aumentou para
13 mil. Isto porque, além das indústrias já contempladas, as empresas de
telecomunicação e informática e institutos de pesquisa também começaram a
integrar a pesquisa. No caso do setor de telecomunicação e informática, grandes
empresas são consideradas as com mais de 100 funcionários.
Amostragem
Como praticamente toda pesquisa, a escolha dos entrevistados é feita por
amostragem. A amostragem traz pesos diferentes para cada perfil de entrevistado.
Na Pintec, as empresas alocadas no que os estatísticos chamam de estrato certo
têm peso 1, ou seja, elas representam elas mesmas na amostra. . O mesmo método é
usado para as instituições de P&D. Os chamados estratos aleatórios elegível e
não elegível são usados para os outros entrevistados. O peso de cada
entrevistado, nestes estratos finais, corresponde ao número de empresas
similares, presentes no recorte por atividade econômica e por localização
geográfica, que ele está representando.
O que é perguntado
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não quer saber
detalhes técnicos da inovação de cada empresa, o que poderia deixar muita gente
ressabiada. A intenção do instituto é apenas ver se a empresa tem procurado
inovação em seu produto ou processo, quanto tem investido nisso, quais são os
responsáveis, quem são seus parceiros nessa área, que tipo de retorno é obtido
com a inovação.
Os técnicos do IBGE criaram um questionário básico que, além de servir para
obter respostas para as questões, ajuda o entrevistado a entender o que é
considerado inovação tecnológica. Isto porque muitos micro e pequenos
empresários não sabem definir exatamente o que é inovação tecnológica dentro do
seu sistema produtivo. Ao todo, são mais de 190 perguntas que englobam os
seguintes assuntos:
- Características da empresa;
- Produtos e processos tecnologicamente novos ou substancialmente
aperfeiçoados;
- Projetos incompletos ou abandonados;
- Atividades desenvolvidas para a implementação das inovações de produto
ou processo;
- Fontes de financiamento das atividades inovadoras;
- Atividades internas de pesquisa e desenvolvimento;
- Impactos das inovações;
- Fontes de informação que a empresa utiliza para as inovações;
- Arranjos cooperativos feitos com outras empresas ou instituições para
desenvolver as inovações;
- Uso de programas de apoio do governo para as suas atividades inovadoras;
- Registro de patentes e outros métodos de proteção;
- Problemas e obstáculos à inovação;
- Outras mudanças estratégicas e organizacionais
Por telefone
Apenas Brasil, Canadá e Bélgica usam o telefone para
fazer as entrevistas sobre inovação tecnológica. Os outros países, que
fazem pesquisas semelhantes, optam por respostas por correio tradicional
ou eletrônico. Os pesquisadores do IBGE optaram pelo telefone por várias
razões, entre elas, estão a falta de tradição brasileira de responder
pesquisas por correio, a intenção de ter um detalhamento maior dos dados
e a falta de informação do empresariado brasileiro sobre o que é
inovação tecnológica. As respostas de um questionário completo da Pintec
demora cerca de 30 minutos. |
Resultados de 2000 e 2003
Para se ter uma idéia da importância de uma pesquisa como a Pintec (Pesquisa
de Inovação Tecnológica), é interessante ver a análise de alguns resultados. A
primeira pesquisa foi divulgada em 2000 e traz informações sobre a atividade das
empresas entre 1998 e 2000. A segunda foi divulgada em 2003, com informações
obtidas entre 2001 e 2003.
Aqui vão alguns dos dados obtidos nas duas primeiras pesquisas feitas.
- Entre 1998 e 2000, 6,5%das empresas tiveram como fonte de informação
licenças ou patentes para suas inovações. Entre 2001 e 2003, a parcela de
empresas que optaram pelo mesmo método caiu para 2,9%.
- Os fornecedores são um dos principais agentes de inovação nas empresas.
Entre 1998 e 2000, 66,1%das inovações tiveram parte ou todo o método oriundo
dos fornecedores. Entre 2001 e 2003, os fornecedores diminuíram sua
participação para 59,1%, mas continua sendo a segunda fonte de informação
mais importante, a primeira é área interna da empresa.
- Entre 1998 e 2000, 48,8% das empresas tinham pessoas ocupadas
exclusivamente em atividades de pesquisa e desenvolvimento. Entre 2001 e
2003, 62,7% das empresas tinham o mesmo perfil.
- Entre 1998 e 2000, 69,6%das empresas inovaram para poder ampliar sua
capacidade produtiva. Entre 2001 e 2003, 52,9% fizeram inovações para
ampliar a produção.
- Entre 1998 e 2000, 55,6% das empresas que não fizeram nenhuma inovação
alegaram falta de condições mercadológicas para tal. Entre 2001 e 20003,
65,4% que não se renovaram alegaram a mesma razão.
Resultados de 2005
Os resultados da Pintec, feita entre 2003 e 2005 e divulgada em 31 de julho
de 2007, mostram um crescimento nos investimentos com inovação
tecnológica das empresas. Entre 2001 a 2003, as indústrias haviam gasto 2,46% da
receita líquida em inovação tecnológica. Entre 2003 e 2005, o valor
subiu para 2,76%. Além disso, o número de pessoas envolvidas em
pesquisas de inovação dentro das indústrias aumentou 12,5% de 2003 para 2005.
Das 33 atividades industriais pesquisadas, 21 apresentaram crescimento
nas suas taxas de inovação no período em relação ao período da pesquisa
anterior, mas a taxa de inovação geral das indústrias manteve o mesmo patamar
(33,4% contra 33,3%). É interessante verificar que, entre as atividades
industriais que aumentaram suas taxas de inovação, estão setores tão díspares
como reciclagem de material, que passou de 13,7% para 22,6%; produtoras de
caminhões, camionetas, utilitários, caminhões e ônibus, que passou de 57,5% a
71,1%, e de celulose e outras pastas, que passou de 39,1% para 51,7%.
Entre as más notícias do período, a pesquisa aponta uma queda
na taxa de inovação das empresas de pequeno porte com 10 a 49 funcionários, de
31,1% para 28,9%. Esta queda foi a responsável pelo taxa de inovação geral se
manter, já que essas empresas são as responsáveis por 79,4% do universo
pesquisado.
Entre os problemas encontrados para inovar, 76,8% das indústrias apontaram os
elevados custos como obstáculos, seguido dos riscos econômicos excessivos
(74,7%) e da escassez de fontes de financiamento (58,6%). Vale salientar que a
maioria das indústrias que conseguiram financiamento governamental (40,9%) é de
grande porte com mais de 500 empregados.
Sobre as fontes para a inovação, as indústrias aumentaram suas aquisições de
patentes, licenças e know-how de 2,9% para 5,9%, suas parcerias com
universidades e institutos de pesquisa de 8,4% para 12% e de informações da
internet, de 46% para 56,8%. As maiores fontes de informação, no entanto,
continuaram sendo internas como departamentos da própria empresa (64%),
fornecedores (63,8%) e clientes ou consumidores (60,9%).
Novos setores
Além do setor industrial, a pesquisa divulgada traz, pela primeira vez, dados do
setor de serviços de alta intensidade tecnológica, ou seja, telecomunicações,
informática e pesquisa e desenvolvimento. A taxa de inovação do setor é maior
que da indústria, 57%, com uma atividade interna de pesquisa e desenvolvimento
de 2,8%.