Grandes oradores são raros hoje. Quando se faz referência a alguém
extraordinário na arte de falar em público, geralmente, são destacados antigos
políticos como Carlos Lacerda ou Jânio Quadros. De novo, quase nada.
De vez em quando, surge um advogado criminalista que impressiona com sua
eloqüência, como Waldir Troncoso Peres; religiosos que encantam os fiéis e
arrebatam multidões, como o padre Marcelo Rossi ou o bispo Edir Macedo. E só.
Não que tenham desaparecido os bons oradores. Não que não possamos encontrar
pessoas que saibam enfrentar e persuadir com competência uma platéia. Ao
contrário, eles estão assomando as tribunas em número cada vez maior.
Entretanto, oradores marcantes, que fazem as pessoas mudarem compromissos ou se
disponham a ouvi-los independentemente de qualquer outro programa que pudessem
ter, escassearam muito nos tempos recentes.
Talvez a última grande novidade em oratória tenha sido o ex-deputado Roberto
Jefferson. Ele apareceu como um furacão e conquistou uma legião de admiradores.
Muitas pessoas ficaram tão empolgadas com seu desempenho diante dos microfones
que me pediram que as ensinasse a falar como ele.
Como sua maior exposição ocorreu na época da CPMI dos Correios e das denúncias
do esquema do mensalão, muita gente associou sua imagem com aquele triste
momento da história do Brasil e deixou de observar sua excepcional capacidade de
comunicação.
João Mellão Neto, extraordinário jornalista, disse em um de seus textos:
"Assisti, por mais de três horas, ao depoimento do deputado Roberto Jefferson no
Conselho de Ética da Câmara. Impecável. Nota 10 em postura, retórica, clareza de
raciocínio, domínio da platéia. O professor Reinaldo Polito, grande mestre da
oratória, haverá de me dar razão".
Sem dúvida o ex-ministro estava certo em sua avaliação. Mas, por que as pessoas
ficaram fascinadas pela comunicação do ex-deputado petebista? Quais os aspectos
da sua oratória o tornaram diferenciado e poderiam servir como exemplo para que
você pudesse também aprimorar a comunicação?
Vamos começar pela voz de Roberto Jefferson. A voz tem ótimo
timbre, é sonora, forte e muito bem articulada. A dicção é perfeita. Alterna a
velocidade da fala e o volume da voz com naturalidade, produzindo um ritmo
melodioso e agradável.
Sempre que encerra um pensamento faz pausas apropriadas, conseguindo assim
valorizar as informações que transmitiu e permitir que os ouvintes tenham
condições de refletir sobre a mensagem que acabou de comunicar.
Sabe ser agressivo quando enfrenta um adversário e mostra-se indignado ou se
vale da ironia para se defender dos ataques que recebe. Recorre à voz para
evitar os apartes quando os julga inconvenientes.
Outro aspecto que chama a atenção pela qualidade na comunicação do orador é o
seu vocabulário. Roberto Jefferson jamais hesita quando precisa
encontrar a palavra adequada para corporificar seu raciocínio.
A construção das frases é perfeita, sempre com começo, meio e fim. Não comete
erros gramaticais grosseiros. Conjuga os verbos de forma correta e se preocupa
em fazer com acerto as concordâncias.
Possui o automatismo da fala. Isto é, por causa das diversas atividades que
exerceu ou ainda exerce como apresentador de televisão, advogado, político, está
tão acostumado a falar em público que ao pronunciar a primeira palavra de uma
frase, todas as outras aparecem automaticamente para concluir o pensamento.
Basta observar as diversas entrevistas que deu sobre o mesmo tema -algumas
frases são exatamente as mesmas. Essa qualidade dá a ele fluência e muito
desembaraço.
E talvez esteja na expressão corporal um dos pontos mais fortes da sua
comunicação. Os gestos, o jogo fisionômico, especialmente o olhar, a forma como
inclina o corpo para a frente durante o ataque, e recua para se defender ou
refletir, são detalhes que trabalham em perfeita harmonia com a inflexão da voz
e a mensagem. O conjunto é harmonioso e coerente.
Nenhum orador pode pretender sucesso se não tiver conteúdo. Roberto Jefferson
navega com tranqüilidade sobre qualquer tema, seja assunto relacionado ou não à
política. Sabe organizar os argumentos em uma ordenação lógica que desnorteia
seus adversários.
Refuta as objeções contrárias como se soubesse com bastante antecedência o que
as pessoas iriam dizer. Não deixa apartes ou ataques sem resposta. Sabe que do
choque entre a tese e antítese irá prevalecer o que não for destruído, e que
servirá como síntese, ou seja, sobrará para o julgamento.
Além de todas essas qualidades, fala com paixão, com envolvimento, com
entusiasmo, com emoção. Em nenhum momento se expressa só por se expressar
-demonstra de maneira evidente e bastante clara que a mensagem que está
comunicando é relevante, e se é importante para ele, deve ser também para os
ouvintes.
Mostra-se destemido e muito corajoso. Entretanto, embora possua todas essas
qualidades, que constituem a aplicação prática dos conceitos teóricos da boa
comunicação, só a história poderá dizer se ele é realmente um bom orador.
Na verdade, as únicas pessoas que podem dar essa resposta são ele próprio e
aqueles a quem acusou. Por enquanto vamos nos ater apenas aos aspectos estéticos
da comunicação, sabendo que alguém só poderá ser considerado um bom orador se o
que diz estiver respaldado na ética e na verdade.
Faço a ressalva porque seus oponentes disseram que suas acusações são
infundadas. Por isso se ele tiver sido verdadeiro, se as suas acusações
encontrarem amparo na sinceridade, poderá ser considerado um dos melhores
oradores que o Brasil já conheceu.
Se, por outro lado, alguma informação não tiver apoio na realidade dos fatos,
poderá ser considerado apenas um bom ator. Como eu disse, só o futuro poderá nos
dar a resposta.