Você anota todos as suas despesas e receitas em um bloquinho de notas, não
gasta mais do que ganha, tem objetivos muito bem traçados para o seu dinheiro e,
ainda assim, seu orçamento não é o mais organizado. Por que?
Mesmo aqueles que têm vontade de manter as finanças em ordem e fazer um
planejamento financeiro tradicional podem ter muitas dificuldades de seguir à
risca as boas práticas de controle e organização financeira. Isso acontece
porque existem erros muito comuns ao se fazer o planejamento. E você pode estar
cometendo um deles.
Um erro atrás do outro
Tentar fazer um planejamento esquecendo as dívidas atuais é um dos
principais erros, na avaliação da professora de Finanças do Insper, Ângela
Menezes. “Quem tem dívidas tem de eliminá-las”, afirma. Trocar a dívida mais
cara pela mais barata e utilizar, quando preciso, a negociação como meio de
saná-las ajuda a equilibrar as contas. Será que não é por isso que a conta não
fecha?
Para saber, o primeiro passo é colocar tudo no papel, certo? Certo, mas é aqui
que está o segundo erro mais comum. “Não dá para fazer planejamento sem colocar
as despesas e os gastos de fato na planilha”, ressalta o professor de Finanças
da FGV (Fundação Getulio Vargas), Fábio Gallo. E, quando o professor diz todas,
são todas mesmo: da compra do mês ao cafezinho de todo o dia. “Muitas vezes, as
pessoas esquecem e desprezam o miúdo. Mas ele é que faz a diferença”, reforça
Gallo.
E o segundo passo....antes do segundo passo, na verdade, é preciso terminar o
primeiro. E esse é mais um erro das pessoas. Por mais simples que possa parecer,
elas esquecem de terminar o que começaram, pois anotar não é tudo, é preciso
comparar. “Ela faz o controle anotando, mas esquece que a gestão é que é
importante”, afirma o professor. Colocar as despesas na planilha permite que
você tenha uma real noção do que e com o que você gasta.
Somar as despesas em grupos é outro erro apontado pelos especialistas
consultados. “Isso acaba fazendo com que não se perceba em que está gastando”,
afirma Gallo. Como alternativa, mantenha os grupos, mas abra as despesas. Um
exemplo: no item lazer, o gasto somou R$ 120 no mês. Em vez de colocar apenas
esse valor total, coloque para onde foi cada real: R$ 16, cinema; R$ 50, bar com
amigos; R$ 20, teatro, etc. “Isso facilita você a ver o supérfluo, o variável, o
que dá para cortar”, afirma Ângela, do Insper.
Para ela, outro erro muito recorrente dos consumidores é tentar apenas fechar a
conta. “Não ter uma reserva de 10% a 20% do seu salário é um dos piores erros no
planejamento financeiro”, afirma a professora.
Os ganhos
Anotar os ganhos é fácil. É só somar o quanto se ganha no mês...errado! De
novo. Para Gallo, da FGV, as pessoas erram ao colocar o salário na parte de
receitas das planilhas. Primeiro, porque muitas delas acabam colocando o salário
bruto, sem os descontos de impostos.
Segundo, porque o ideal, na sua avaliação, é colocar os seus rendimentos em uma
base anual. E isso inclui o salário líquido dos 12 meses, décimo terceiro,
bônus, participação. Mas isso não acaba fazendo com que o consumidor perca a
perspectiva e tenha a falsa ilusão de que ganha mais? “Não, porque os gastos têm
de ser colocados nessa mesma base”, afirma o professor.
No fim, comparando gastos anuais com ganhos anuais, o impacto é maior. E o
consumidor passa a perceber o impacto daquele cafezinho fora de casa. “Ele
percebe que tem de ser mais rigoroso”, diz Gallo. E, se esse método não é
suficiente para fazer você perceber que precisa cortar, o professor ainda
sugere: “você pode transformar o quanto seus gastos representam em dias de
trabalho em um ano”. Se você gasta 20 dias de trabalho por ano com cafezinho, é
melhor repensar se ele é tão necessário assim.