"A maioria das pessoas não planeja fracassar, fracassa por planejar"
Embora o termo planejamento estratégico não seja novo, surgem muitas
interrogações quando é levado para o segmento jurídico. Logo se pensa em
estratégias empresariais, algo distante do mundo da advocacia. Isso não ocorre
apenas em escritórios de menor porte ou de estrutura familiar, pois mesmo os
grandes enfrentam ou já enfrentaram a dificuldade de associar seu negócio a uma
empresa. Mesmo quando já funcionam como tal. O preconceito existe, mas as
barreiras estão caindo por uma simples razão: é mudar ou perecer.
A gestão estrategicamente planejada - o pensamento e comportamento racional na
advocacia - torna real a profissionalização das estruturas. Dessa forma, cresce
a eficiência nos serviços prestados em todas as atividades desempenhadas,
importante tanto para pequenos escritórios quanto para os demais. Este trabalho
deve ocorrer em todo o contexto da banca.
Não se deve entregar a extensas e intermináveis reflexões, nem se precipitar em
mudanças radicais de formas de trabalho. Ou mesmo resumir - se ao
estabelecimento de setores e regências. É preciso dispor - se a um trabalho em
que haja tanto uma análise quanto a incorporação prática e revisão constante.
Como cada escritório e situação são únicos, não basta escolher um manual
prático, porque a estratégia específica não está lá fora. Ela só será possível
ao atentar também para o interior da banca e sua cultura.
Não basta ter uma imagem brilhante do que se deseja alçançar sem olhar para o
passado e o presente do escritório. Só assim pode - se projetar um futuro mais
sólido.
VISÃO ABRANGENTE
É importante esclarecer que o planejamento estratégico não é uma medida com
princípio, meio e fim, a ser usada apenas para " passar o escritório a limpo".
Não se trata de um plano limitado em um momento específico. Sua abrangência é
bem maior, uma vez que incorpora uma condução consciente ao escritório, passando
a fazer parte da rotina do mesmo, pois sua imagem, caráter, objetivo, decisões,
políticas, estruturas e equipe farão parte da formulação estratégica.
Esse tipo de estratégia abrange o processo como em todo. É fundamental que todo
o escritório e os envolvidos com seu funcionamento sejam considerados para que a
análise da situação atual seja algo real, assim como a elaboração e
implementação do planejamento. Isso acontece logo após o reconhecimento das
necessidades.
Trabalha - se, então, com o que o escritório já possui, ou seja, o "quem sou",
com a análise do histórico de seu segmento, o porquê, a partir de quem e como
veio a funcionar. É preciso identificar o que foi previsto e realizado até
então. O planejamento, no entanto, não garante que a nova política de
gerenciamento seja idêntica à pretendida, mas cuida para que durante o percurso
diário, o escritório não se desvie do foco principal, entendendo que algumas
metas não realizadas darão lugar a outras emergentes, o que é normal e sadio
para o funcionamento de uma organização.
Ao fazer esta trabalho, é interessante que seja promovida a divisão das gestões
existentes, de modo a facilitar a visualização da forma como cada um está
relacionada, assim como identificar as diversas tarefa realizada pela área
administrativa e técnica. Ao estudar a gestão geral do escritório, que
corresponde ao formato do mesmo, é imprescindível a atenção especial dos sócios
ou "donos".
A partir daí, todas as atividades encontram uma base que precisa ser sólida e
clara para todos. É neste momento que analisamos a missão, a visão, os
princípios e os valores que, caso não estejam bem definidos, deverão ser
pensados e colocados em vista. Se não se sabe o motivo da existencia de um
escritório ou onde ele pretende chegar, ou ainda, em quais princípios e valores
ele deve respaldar - se, não há como criar estratégias de ação, planos e metas
setoriais. O planejamento possibilita que administrativo, financeiro, pessoal,
produção, tecnológica e infra - estrutura atuem para um fim comum, com outros
objetivos específicos.
" Muitas vezes, o escritório abre uma filial em uma situação que pede 'desinvestimento'
para sobreviver quando, antes disto, poderia ofertar nosso serviços e os
produtos jurídicos para sua base de clientes, de forma a aumentar a
rentabilidade da operação".
PLANOS DE EXPANSÃO
Em seguida, serão analisadas as formas de crescer, que podem estar relacionadas
com a busca de novos mercados, abertura de uma filial, desenvolvimento de um
novo serviço ou criação de uma nova área. As tentativas mal sucedidas analisadas
no histórico servem como alerta e não como fator de desânimo, porque a empresa
reconhecerá algo em que insista desnecessariamente e descobrirá fatores de
desenvolvimento que até então não enxergava. Se o escritório não tem idéia de
sua missão e visão, provavelmente terá que rever também seus planos de expansão.
Muitas vezes, o escritório abre uma filial em situação que pede um 'desinvestimento'
para sobreviver, quando, antes disto, poderia ofertar novos serviços e produtos
jurídicos para sua base de clientes, de forma a aumentar a rentabilidade da
operação. Será necessário, ainda, o reconhecimento dos pontos fortes e fracos
dentro do ambiente interno, assim como a identificação de oportunidades e
ameaças no ambiente externo ao escritório. Dessa forma, identifica -se os
fatores críticos de sucesso e o diferencial competitivo.
O caminho torna -se mais claro após a análise destes fatores internos e
externos, apontando -se, naquele momento, o escritório precisa primeiro se
fortalecer, já pode crescer, investir ou mesmo 'desinvestir'. Reuniões,
palestras, programas de qualidade e dinâmicas são ferramentas eficazes na
elaboração de implementação de estratégias, mas precisam ser objetivas e
programadas. Quando o escritório se desmembra., essas ações garantirão sua
permanência ou uma nova forma de trabalhá-lo.
"Os profissionais que trabalham no escritório devem ser analisados pelo capital
intelectual, ou seja, como um ponto forte para o desenvolvimento, ou como um
ponto fraco, no caso de escritórios que mantêm uma grande equipe com objetivos
dispersos."
CAPITAL INTELECTUAL
O envolvimento de todos é fundamental desde o inicio do planejamento para que os
objetivos sejam alcançados. Dessa forma, os profissionais que trabalham no
escritório precisam ser analisados pelo capital intelectual, ou seja, como um
ponto forte para o desenvolvimento, ou, por outro lado, como um ponto fraco, no
caso de escritórios que mantêm uma grande equipe com objetivos contrários.
Na implementação da estratégia, várias atividades devem funcionar como alguma
interdependência. Todas de acordo com o objetivo principal da empresa. A
comunicação interna precisa estar preparada para tanto, pois influenciará no
desempenho das atividades relacionadas à estratégia planejada. Eis a importância
do envolvimento coletivo e do planejamento: garantir um curso orientado e
conhecido por todos.
PLANO "B"
As metas que surgem em decorrência da estratégia escolhida abrangem todas as
gestões do escritório, e o planejamento precisa ter sido feito conforme cada uma
dessas gestões. Já o bom desempenho de uma gestão afeta todas as outras, assim
como o caminho inverso reflete sempre no objetivo final do escritório. Será
importante também, ao considerar a missão e políticas do escritório juntamente
com as pessoas envolvidas, elaborar atividades alternativas na implementação das
estratégias, já que o ambiente está em constante mudança e decisões planejadas
poderão surtir efeitos diferentes do esperado.
O planejamento prevê sempre a estratégia "B"
Concluímos que a estratégia não pode ser um plano intocável, que não demanda
flexibilidade. O escritório precisa trabalhar a mentalidade estratégica das
pessoas que ali trabalham, e, se necessário, fazer alterações caso sejam
verificadas posturas que insistem em chocar com o padrão da empresa, neste
momento já em harmonia com seus princípios formadores.
Sem líderes que auxiliem e implementem o planejamento estratégico, a operação
pode sair prejudicada. É preciso criar uma nova demanda de flexibilidade, pois
assim os sócios não serão os únicos a participar da elaboração de estratégia,
tendo suas atividades revistas e programadas. Também precisarão contar com uma
equipe de líderes. Estes podem ser descobertos entre as pessoas do escritórios e
que irão colaborar decisivamente para a realização das atividades.
Uma constante supervisão do que foi implementado, com análise dos resultados
previstos e obtidos, deve orientar na elaboração de novas estratégias. Ao mesmo
tempo, é preciso conservar o padrão de um escritório que sabe porque existe e
procura crescer a partir do que se possui, de modo a otimizar recursos e estudar
possibilidades, reinventar a advocacia e inovar nas pequenas práticas diárias,
sem perder de vista seus princípios e valores.
Texto confeccionado por: John L. Beckley.