A governança corporativa é vista como um item decisivo para investidores de
longo prazo e as empresas que não possuem bons níveis de governança acabam sendo
excluídas do portfólio desses investidores. A opinião é do gerente-geral do INI
(Instituto Nacional de Investidores), Paulo Portinho.
“Os investidores de longo prazo estão muito interessados em padrões elevados
de governança corporativa. Eles se preocupam e buscam investir em empresas que
garantam seus direitos como acionistas minoritários”, afirma Portinho.
Segundo ele, as companhias que não adotam estas práticas acabam sendo banidas
do portfólio dos investidores de longo prazo. “Aquela pessoa que investe
pensando lá na frente está preocupada com seus direitos e opta por empresas que
os garantam”, afirma o gerente do INI.
O sócio-diretor da consultoria financeira Finacap, Samuel Emery, concorda. “A
melhor coisa que o investidor pode fazer em relação às empresas que não adotam
práticas de governança corporativa é deixar de investir nelas”, diz.
Médico por formação, Emery é um típico investidor ativista, sempre preocupado
com os direitos dos minoritários dentro do universo dos investimentos de renda
variável. Para ele, ainda falta muito para que as empresas brasileiras tenham um
padrão de governança corporativa elevado, mas houve uma mudança significativa
nos últimos anos.
“Quando comecei a investir, as companhias se preocupavam muito menos com o
acionista minoritário. Atualmente, isso mudou bastante, mas ainda está longe do
ideal”, acredita. “Este é um processo evolutivo, ainda deve demorar bastante
para chegar em um nível avançado”, continua Emery, que participará, este mês, do
seminário Ativismo & Governança Corporativa, realizado pela Apimec Rio
(Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de
Capitais do Rio de Janeiro) e IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com
Investidores), no Rio de Janeiro.
Novo Mercado
Segundo ele, uma das principais mudanças aconteceu no final do ano 2000,
quando a BM&FBovespa lançou segmentos especiais de listagem das empresas,
desenvolvidos, segundo a própria bolsa, “com o objetivo de proporcionar um
ambiente de negociação que estimulasse, simultaneamente, o interesse dos
investidores e a valorização das companhias”.
Com isso, foram criados os níveis diferenciados de governança corporativa,
entre eles o Novo Mercado, considerado o mais elevado padrão neste sentido.
Entre os direitos garantidos aos investidores que fazem parte do Novo Mercado,
está o tag along de 100% (no caso de venda do controle da companhia, todos os
acionistas – inclusive os minoritários - têm direito a vender suas ações pelo
mesmo preço) e a divulgação de dados financeiros mais completos, incluindo
relatórios trimestrais com demonstração de fluxo de caixa e relatórios
consolidados revisados por um auditor independente.
Além disso, as companhias listadas neste nível de governança só podem emitir
ações com direito de voto, as chamadas ações ordinárias (ON). “Com a criação do
Novo Mercado e dos diferentes níveis de listagem, houve uma melhoria da relação
com os minoritários e as empresas”, afirma Emery.
Poucos investidores
O gerente-geral do INI lembra que, no Brasil, o mercado acionário ainda
atinge uma parcela muito pequena da população – o número de CPFs cadastrados na
BM&FBovespa está em 588 mil atualmente. “Temos poucos investidores e arrisco
dizer que a maioria – ou perto disso – é composta por traders, ou seja, por
pessoas que ficam muito pouco com os ativos e por isso não estão nem um pouco
preocupadas com a governança das empresas”, diz Portinho.
Por isso, ele ressalta que a preocupação com governança corporativa é maior
entre os investidores de outros países, que têm uma cultura de investimento em
ações focada no longo prazo.
“É muito difícil você ver um investidor brasileiro comparecendo a uma
assembleia, votando e participando dos processos decisórios da empresa, porque a
maioria não investe no longo prazo”, diz. “Já os investidores estrangeiros que
participam de fundos de pensão, por exemplo, sempre mandam um advogado para
representá-los nas assembleias”, completa.