Em qualquer lugar do mundo, a principal preocupação de quem é demitido ou
corre o risco de perder o emprego é não ter como pagar as contas no final do
mês. Há outros impactos do desligamento sobre a carreira e a vida pessoal, mas a
questão financeira é sempre a mais complicada. Afinal, quem gostaria de ver seu
padrão de vida despencar ou, pior, ficar endividado e não ter como saldar os
compromissos assumidos?
Se por um lado esse temor é compreensível, por outro demonstra o quanto muitos
profissionais são reféns do contracheque. O consultor financeiro Louis
Frankenberg, da Personal Financial Planning, de São Paulo, descobriu que há um
inconveniente ainda maior. Após pesquisar o impacto da demissão no orçamento de
executivos brasileiros, ele observou que, quanto maior o cargo ocupado, maior o
impacto no bolso. Como há menos vagas no mercado para presidente, vice e
diretor, por exemplo, ao perder o emprego, os ex-mandachuvas, em geral, levam
mais tempo para conseguir uma recolocação do que um ex-gerente. 'Por isso, a
primeira coisa a fazer é colocar na cabeça que um valor razoável de poupança é
investir de 5% a 10% do salário todo mês', diz Louis. O consultor está
preparando um livro sobre o assunto, com lançamento previsto para o final do
ano. A publicação, ainda sem título, tem o objetivo de conscientizar o executivo
para que ele não se desespere ou tente manter o mesmo padrão de vida quando,
após a demissão, perder benefícios como plano de saúde, cartão de crédito
corporativo, carro com tanque cheio e almoços nos melhores restaurantes da
cidade tudo pago pela companhia. 'O fato é que o sucesso mexe com a cabeça do
executivo e ele nunca imagina que a condição pode mudar', diz Louis.
Acontece que o emprego hoje não é o mesmo de décadas atrás. Qualquer
profissional é dispensável. Como se sabe, as companhias estão em constante
adaptação. 'Em um momento de mudança, elas irão optar, sem pestanejar, pelos
cortes dos salários mais altos', afirma o consultor financeiro. É por isso que,
na opinião de José Augusto Minarelli, presidente da consultoria Lens & Minarelli,
de São Paulo, os profissionais top deveriam ter uma reserva equivalente a 12
salários. Já os gerentes, seis meses de remuneração. José Augusto lembra que uma
recolocação assistida por um bom headhunter ou apoiada por uma empresa
especializada em outplacement demora, atualmente, em média, seis meses. O
executivo deve ter em caixa, portanto, no mínimo, o valor correspondente a esse
número de salários para manter as contas em dia e a cabeça fria.
Seguindo o raciocínio dos especialistas, um executivo, com cargo de gerência,
que ganhe 8 000 reais por mês deve poupar 800 reais mensais (10% do salário)
durante cinco anos para conseguir cobrir seis meses de despesas pessoais. 'É
claro que o equivalente a seis salários investidos num fundo pode render oito ou
até nove meses de gastos pessoais', afirma José Augusto. 'Mas o melhor é sempre
trabalhar com folga e tentar poupar mais e mais.' E como poupar? Para Louis
Frankenberg, a única saída é cortar gastos supérfluos. 'Sabemos que é díficil.
Trabalhamos o tempo todo no limite. Mas sempre há onde economizar', diz. Uma
saída é fugir das compras a prazo. Isso vale para tudo: do carro aos aparelhos
eletroeletrônicos. O melhor é economizar para pagar a vista. Outra forma é
tentar ser menos consumista. Essa é a parte mais difícil. 'Se a cada promoção o
executivo comprar um novo terno caríssimo para comemorar, ele não estará
juntando patrimônio. E, sim, se mantendo escravo da carreira', afirma o
consultor Saulo Lerner, diretor da Unidade Key Executives, da Right Saad
Fellipelli.
O supervisor de logística José Ubaldo de Almeida Júnior, de 42 anos, aprendeu na
prática a necessidade de estar preparado para sobreviver dignamente a uma
demissão. Funcionário da Bentler, multinacional de autopeças de Campinas, no
interior paulista, José Ubaldo foi demitido depois de seis anos de uma carreira
ascendente. 'Meu chefe saiu. Como meu cargo era de confiança, 'fui saído'
junto', conta. Sua primeira reação foi de desespero. 'Não estava preparado
emocionalmente e financeiramente, mas tive sorte de receber uma indenização
equivalente a dez meses de salário.'
Solteiro, José Ubaldo passou a andar de ônibus, saiu da academia e deixou de
jantar fora. Desacostumado a esse tipo de restrição e com medo de não conseguir
outra colocação, depois de quatro meses de procura, aceitou a primeira vaga que
apareceu, numa empresa de Arujá, na Grande São Paulo. 'Foi um erro. Era uma
empresa pequena, sem estrutura. Eu me senti regredindo na carreira, não dava
para continuar ali.'
Hoje, ele trabalha como supervisor da Indebrás, também do setor de autopeças, em
São Paulo. José Ubaldo completou um ano de emprego novo no mês passado. Desta
vez, promete fazer tudo diferente. 'Adoro trabalhar aqui: a empresa é dinâmica e
chefio uma equipe de 20 pessoas. Mas, agora, sei que nada é para sempre', diz.
'Faço uma reserva boa o suficiente para poder ficar sem trabalhar e não precisar
agarrar o primeiro emprego que aparecer, caso tenha que encarar mais uma
demissão.'
Mais precavido, o superintendente do Banco Cruzeiro do Sul, Pedro Perri, de 51
anos, conta que sempre se preocupou em ter em caixa uma reserva disponível para
uma eventualidade. 'Estou há 24 anos no mercado financeiro. Não poderia marcar
uma bobeira dessas', afirma. Há dois anos, Pedro foi dispensado do Itaú, onde
também era superintendente, depois de 12 anos de trabalho. Ficou assustadíssimo.
Nunca imaginou que seria demitido após tantos anos de casa. 'A notícia me
abalou, pois eu já tinha 50 anos e não é fácil voltar ao mercado com essa
idade.' Pedro recebeu um excelente pacote de benefícios oferecido pelo Itaú. E
nem precisou usar a indenização. 'Como tinha feito uma poupança, não me prendi
desesperadamente ao fundo de garantia', conta. Ele mantém investido,
ultimamente, o equivalente a três anos de salários. Mesmo com essa bolada
aplicada no mercado financeiro e completando dois anos no novo emprego, Pedro
continua firme em seu propósito de aumentar sua reserva financeira. E não tem
medo do futuro.