Carreira / Emprego - Aprenda com quem sabe ensinar
Conquistar e manter a atenção das pessoas é uma arte almejada por todos os
comunicadores, seja em apresentações em público, diante de platéias numerosas,
seja em conversas informais, com amigos e familiares. Afinal, de que adianta
falar bem e expor excelente conteúdo se os ouvintes não prestam atenção?
Embora existam muitas regras para obter a atenção, considerando a circunstância
do ambiente e as características dos ouvintes, o que deve contar mesmo é o seu
estilo próprio, com a experiência que você acumula a cada dia. Desde muito cedo
meu campo de observação preferido foram os professores.
Há matérias escolares que apaixonam, outras, entretanto que se transformam em
verdadeiro martírio para os alunos. Matemática, por exemplo, sempre foi, para a
maioria dos estudantes, matéria para paixão ou sacrifício.
Talvez tenha sido a responsável pelos melhores engenheiros e advogados do país.
Alguns abraçaram a engenharia por serem muito apegados aos números. Outros se
dedicaram à advocacia por detestarem tanto os cálculos.
Modificam essa estatística, entretanto, os que, como eu, tiveram a sorte de ser
alunos do professor Ulisses Ribeiro. Sua maneira própria e alegre de tratar os
alunos envolvia e cativava a todos. Em suas aulas, a matemática adquiria sentido
objetivo, razão de ser. Com ele, era muito fácil entender e gostar da matéria.
Quando, por exemplo, aquele professor magro, gentil e sempre sorridente percebia
um aluno desatento, punha para funcionar uma de suas inigualáveis habilidades
para trazê-lo de volta à realidade. O mestre andava o tempo todo com o bolso do
jaleco cheio de pedacinhos de giz e tinha uma pontaria impressionante.
Sem que o aluno percebesse, independentemente da distância, atirava o pedaço de
giz, como se joga uma bolinha de gude, e acertava a testa do distraído. Era um
momento sempre aguardado pelos alunos.
Todos se divertiam muito com aquele seu gesto característico, e ninguém se
sentia agredido ou magoado. Nunca conheci professor mais querido que Ulisses
Ribeiro. Quando faleceu, Araraquara inteira parou para se despedir do mestre.
Hoje, quando vejo pessoas perdendo a paciência e se irritando com ouvintes que
conversam ou ficam desatentos, lembro-me com saudade da competente comunicação
do antigo professor, que fez história nas salas de aula das escolas
araraquarenses.
É possível até que alguns adeptos da "moderna pedagogia" torçam o nariz para o
inusitado método aplicado pelo professor Ulisses. A esses dou uma sugestão:
pergunte aos ex-alunos do querido mestre o que aprenderam com ele e o que
achavam de suas aulas.
Vendo com tristeza como a nossa educação se deteriorou ao longo do tempo,
imagino a utilidade que ele teria para ensinar com seu exemplo, mostrando como
conquistar e manter com alegria e simplicidade a atenção dos alunos.
Como eu era amigo de seu filho, também Ulisses, hoje respeitado médico
anestesista em Araras, de vez em quando ia até sua casa estudar para as provas
de matemática.
Como o professor sabia que no fundo eu estava atrás de alguma dica, aparecia com
seu sorriso maroto e relacionava todos os exercícios do livro do Oswaldo
Sangiorgi (hoje meu querido colega da Academia Paulista de Educação), dizendo
que o exame se basearia naquelas questões.
Lógico que se fizéssemos, como na verdade fazíamos, todos os exercícios, o
aprendizado estaria garantido. Mais uma aula que procuro sempre seguir, pois
falar em público é sempre uma prova, e saber tudo o que precisamos transmitir dá
confiança e melhores chances de aprovação.
Ulisses Ribeiro foi um grande professor. Além da matemática, ensinou, com seu
jeito de ser, como cativar e manter a atenção dos ouvintes de maneira alegre e
gentil e foi um exemplo que influenciou muitas gerações araraquarenses.
Foi tão importante em sua missão de ensinar que até agora me permite usar seu
exemplo para continuar orientando em textos como este. Que saudade!
Referência:
economia.uol.com
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