Entrevista com a jornalista Mariana Hinkel da revista Visão Jurídica Como desenvolver a persuasão?
Em primeiro lugar é preciso apresentar uma definição para persuasão e também
fazer uma distinção entre persuadir e convencer.
A palavra persuadir vem do latim “Persuadere”, que significa aconselhar ou
“levar a uma opinião”. Já o termo “convencer”, é derivado da palavra vencer, o
que nos leva a concluir que a pessoa convencida foi antes de tudo “vencida” por
uma argumentação.
A pessoa convencida pode ou não agir de acordo com as idéias de quem lhe
convenceu. Por outro lado, quem foi persuadido, mesmo não concordando
inteiramente com seu persuasor, acaba fazendo o que este lhe pediu, de livre e
espontânea vontade.
Portanto, essencialmente, a persuasão é a capacidade de fazer alguém agir,
usando algum tipo de comunicação. A persuasão apela para a vontade e para as
emoções das pessoas, enquanto que o convencimento apela à inteligência e à
razão.
Assim, para persuadirmos alguém, devemos procurar conquistar esta pessoa
utilizando uma comunicação agradável com um relacionamento de empatia, e ao
mesmo tempo apelando sempre para suas emoções e sua vontade.
Quais são as principais técnicas para tornar-se persuasivo?
Aristóteles, que definia a retórica como “a arte de descobrir o que há de
persuasivo em cada assunto”, nos mostra três caminhos para a persuasão no
capítulo II de seu livro, Arte Retórica. Segundo ele, devemos apelar
para a Vontade das pessoas, depois para a Sensibilidade e por último para sua
Inteligência. Existem pessoas que se guiam mais pela vontade, outras pela
sensibilidade e algumas pela razão e inteligência. Portanto, ele defende que
devemos apelar paras os três aspectos da psicologia humana, dando ênfase naquele
em que a pessoa for mais influenciável.
Além disto, para nos tornarmos persuasivo, é preciso observar dois aspectos
principais na comunicação interpessoal: A forma e o tipo de linguagem.
- A forma como nos comunicamos desempenha papel fundamental no processo,
pois é importante conquistar a simpática de quem vai ser persuadido desde o
início. Através da postura corporal, dos gestos e do tom de voz, é possível
conseguirmos obter confiança e credibilidade. A empatia facilita muito o
processo persuasivo.
- O conteúdo da persuasão deve ser comunicado numa linguagem adequada ao
tipo de pessoa que estamos tentando persuadir. Por exemplo, pessoas simples
preferem que falemos numa linguagem simples, e as pessoas cultas, são mais
sensíveis a uma linguagem intelectual. Alem disto, é preciso atingir o lado
emocional destas pessoas, falando de coisas agradáveis, como também
estimulando suas paixões. Estes são excelentes modos de persuadir.
Quais são as táticas mais usadas para uma boa persuasão diante do juiz ou ao
escrever uma petição?
É conhecida a fama de grandes juristas que utilizam a dramatização no
tribunal do júri para influenciar jurados e até os juizes em suas alegações. O
que eles fazem, essencialmente, é apelar para o lado emocional das pessoas.
Mesmo no contato direto com o juiz, que se guia pelas leis e pelo lado
racional, é possível ao advogado apelar para a condição humana do magistrado.
Cada tipo de pessoa é melhor influenciada por determinados aspectos num
processo de persuasão. Fazendo uma generalização com o objetivo de demonstrar
este processo, diríamos, por exemplo, que as mulheres tendem a ser mais
influenciadas por argumentos que demonstram beleza, sensibilidade e coisas
agradáveis. Para persuadir comerciantes, devemos apelar para argumentos práticos
como ganho financeiro, por exemplo. No caso dos magistrados, a melhor forma de
persuadi-los é apelar para argumentos que envolvam justiça, credibilidade,
honra, bem comum e as leis.
Com relação à petição, esta se presta mais para o convencimento do que para a
persuasão, pois os aspectos subjetivos e emocionais não poderão ser destacados
nesta forma de comunicação. No entanto é preciso que o advogado tome bastante
cuidado com a maneira como defende suas argumentações na petição, pois
apresentá-la de forma inadequada poderá comprometer seus objetivos. Há casos de
juizes que pediram até a expulsão do advogado, pela OAB, em função de se
sentirem ofendidos na forma como as petições foram apresentadas.
A persuasão também é importante em cargos como o de juizes e promotores?
A persuasão torna-se a cada vez mais importante em praticamente todas as
profissões. Hoje em dia não é mais possível conseguir cooperação das pessoas
através da força, da imposição ou fazendo valer a hierarquia; esta época esta
superada. O termo “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, não encontra mais
espaço para ser utilizado nos dias atuais.
Um juiz ou promotor que tem por hábito utilizar o poder da persuasão para
conseguir a cooperação das pessoas, em geral, conseguirá melhores resultados
profissionais e terá menos atritos de relacionamento, sem prejudicar sua
autoridade.
Por exemplo, a capacidade de persuasão de promotores e juizes pode facilitar
muito a ocorrência de conciliação entre as partes de um processo, evitando
demandas longas e custosas para o serviço público e para todos os envolvidos.
A persuasão também é importante no relacionamento com o cliente?
O relacionamento com os clientes pode ser uma das principais táticas de
marketing para um advogado. Uma comunicação persuasiva promove relacionamentos
excelentes e duradouros, possibilitando que o profissional consolide sua marca e
obtenha continuamente indicação de novos clientes.
Além disto, a persuasão ajuda o advogado a obter maior cooperação de seus
contratantes durante todo o processo.
Que argumentos evitar?
Sob nenhum pretexto o advogado deve utilizar falsos argumentos, mentiras e
termos excessivamente técnicos, que fogem à compreensão de seus interlocutores.
Deve procurar ser sincero, pois sem sinceridade não haverá persuasão. Uma das
maneiras de um orador tornar-se eloqüente e persuasivo é transmitir sinceridade.
Como convencer sem parecer "pedante"?
O profissional torna-se pedante quando tenta se mostrar superior ao seu
interlocutor, seja culturalmente ou sobre outros aspectos. Fatalmente esta
tentativa criará uma barreira que dificulta a comunicação.
Para persuadir é necessário justamente o contrario, mostra-se próximo ao
interlocutor, desenvolver empatia e simpatizar com as idéias de quem vai ser
persuadido.
Obras recomendadas?
Entre muitas obras interessantes para desenvolver a habilidade de persuasão
citaria duas principais, por conterem idéias práticas e fáceis de serem
assimiladas por qualquer profissional. A Primeira sugestão é o livro “Como
Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, escrito por Dale Carnegie (Companhia
Editora Nacional, 1981), que é um dos mais importantes já escritos sobre
relações humanas. Outra sugestão é o livro “Como Persuadir, Falando”, (Editora
Tecnoprint, 1978), do advogado Marques Oliveira.
Que dicas você dá para um operador do direito que deseja ser mais persuasivo?
Apesar de perceber que esta tendência está começando a mudar, como consultor
de Marketing Jurídico, tenho percebido que ainda existe no setor uma cultura
mais voltada para os embates do que propriamente para a negociação e o bom
relacionamento interpessoal.
Minha sugestão é para que os operadores do direito comecem a desenvolver,
além dos aspectos técnicos de sua profissão, também as competências
comportamentais relacionadas à inteligência emocional, como empatia, comunicação
interpessoal, motivação, liderança e negociação.
Alem disto, algumas dicas poderão ser bastante úteis.
- Procurar fazer elogios sinceros às pessoas, em seus relacionamentos.
- Dar atenção, ouvir de fato e interessar-se pelas pessoas.
- Evitar criticar e condenar quem quer que seja.
- Sorrir sempre que possível.
- Tratar todos pelo nome.
- Evitar discussões.
- Evitar queixar-se demasiadamente.
Estas são algumas regras de relações humanas que, se utilizadas
habitualmente, farão com que nossa capacidade de persuasão seja automaticamente
melhorada.
O que é um texto persuasivo?Quando um texto busca sensibilizar o lado
emocional de seu público alvo, utilizando uma linguagem adequada a este público,
de forma clara e objetiva, ele pode ser considerado persuasivo, pois tem grande
chance de alcançar os objetivos da persuasão, que é fazer as pessoas
agirem.