Dizem que os elefantes nunca esquecem. E também que eles são sempre uma das
principais atrações de circo porque lembram de tudo o que aprendem. A verdade é
que cientistas da Universidade de Sussex, na Inglaterra, já testaram a
capacidade de memorização dos elefantes no Parque Nacional de Amboseli, no
Quênia, ao gravar sons de cem paquidermes da mesma espécie. Os elefantes foram
capazes de reconhecer uns aos outros, mesmo distantes há anos.
Para otimizar o potencial de armazenamento dos que não têm a famosa ‘memória
de elefante’, o neurologista João Roberto Azevedo sugere a leitura diária de
livros, jornais e revistas. Nenhuma outra atividade, salienta ele, mobiliza
tantas variações da memória quanto este hábito. Mas não basta simplesmente ler:
é preciso refletir sobre o que está sendo lido.
TRUQUES ÚTEIS
“A base de uma boa memória é a atenção. Se a pessoa está desatenta ou distraída,
não fixa bem as informações. Desse modo, a capacidade de memorização também é
menor. Geralmente, as pessoas mais esquecidas são também as mais distraídas”,
afirma o neurologista.
Já a fonoaudióloga Ana Alvarez, que escreveu os livros “Deu Branco” e “Cuide
de Sua Memória”, entre outros, recomenda a utilização de pequenos artifícios,
como agendas eletrônicas ou lembretes auto-adesivos, para não esquecer de
tarefas diárias ou compromissos importantes. Mais do que simples ‘muletas’,
esses recursos são importantes estratégias de memorização.
“É preciso desafiar ludicamente a nossa memória. Até pouco tempo atrás, minha
avó, de 99 anos, anotava o que queria comprar no supermercado. Mesmo assim, ela
só consultava a lista em último caso. Ao anotar o que queria lembrar, ela já
acabava memorizando”, esclarece.
O professor William Douglas, 39 anos, sabe da importância de se ter uma boa
memória para conseguir sucesso na vida acadêmica e profissional. Ele já passou
em oito concursos públicos, cinco deles em primeiríssimo lugar: para juiz de
Direito, defensor público e delegado de polícia, entre outros.
“Memória é equipamento de fábrica no ser humano. Não é item opcional ou artigo
de luxo. Como nunca tive ‘memória prodigiosa’, o jeito foi aprender a usar essa
ferramenta da maneira mais eficiente possível”, afirma William, que reuniu
algumas técnicas de memorização, como a associação de palavras e o da
‘etiquetação mental’, no livro “Como passar em provas e concursos”.
Mas recorrer a esses e outros truques, como os jogos ‘Formando Pares’ e
‘Palavras Ilustradas’, do recém-publicado “101 Maneiras de Melhorar Sua
Memória”, da Seleções Reader"s Digest, não livra ninguém de eventuais lapsos de
memória.
“É preciso diferenciar perda de lapso de memória. Os ‘brancos’ são causados
por estresse e não são privilégio apenas dos mais velhos. Muitos jovens vão mal
nas provas porque os pais estão se separando”, afirma.
Não lembrar também é saudável
O neurologista João Roberto Azevedo faz uma ressalva para quem sonha com uma
memória prodigiosa: o esquecimento é importante para o cérebro. Segundo ele,
esquecer é fundamental para não atrapalhar o aprendizado de novas informações.
“A capacidade de absorção da memória é finita. Não dá para uma pessoa de 30
anos lembrar de tudo o que já aconteceu com ela. O próprio cérebro se encarrega
de selecionar o que é importante e deletar o resto. Se não fosse assim, ele
entraria em pane”, alerta o médico.
O comentarista da ESPN Brasil, Paulo Vinícius Coelho, 37 anos, é dono de uma
memória invejável. No entanto, ele lembra da escalação do time do Guarani de
1978 com mais facilidade do que o do São Paulo de 2005. “Naquela época, não
tinha tanta coisa armazenada no meu ‘hardware’”, brinca.
Cabeças privilegiadas que não falham nunca
“Se não me falha a memória...”. A deles, pelo jeito, nunca falhou. Não por
acaso, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho e o pesquisador Mauro Alencar
vivem dela. “Na época do Oscar, todos perguntam se já sei de antemão as cenas
que vão aparecer. A Academia não divulga a relação dos apresentadores, quanto
mais a dos filmes”, explica Rubens, que calcula já ter assistido a 25.270 filmes
em 61 anos.
Mauro Alencar, 44 anos, não fica atrás. Em 1990, ele não entendeu nada ao
assistir à reprise de “Escrava Isaura”. “Havia algo diferente na abertura e
liguei reclamando”, conta. O diretor do “Video Show”, Cacá Silveira, tomou um
susto e quis conhecer aquele “maluco”. Mais assustado ficou ao exibir outras
aberturas para Mauro. “Antes que os créditos aparecessem, eu já dizia o nome dos
atores. Ele ficou tão admirado que resolveu me contratar”, diverte-se.