Negócios / Empreendedorismo - Normas contábeis, lei e realidade
As demonstrações contábeis realizadas de acordo com as ditas Normas
Internacionais de Contabilidade, por si só não oferecem segurança suficiente
para espelhar com fidelidade a situação da empresa, embora se apresentem até
como acima da lei e da ciência.
A mim as aludidas não inspiram confiança para uma análise científica; as
informações emergentes de tais denominadas “convergências” sob o manto
normativo, tal como se está a realizar, não considero sejam suficientes para
sustentarem opiniões confiáveis.
O abandono da força do direito (nos conceitos básicos das referidas
expressamente se declara que prevalece a Norma sobre a lei), do embasamento
científico (sequer mencionado nos textos), o excesso de “subjetivismo” ensejado,
não fossem vários outros motivos, estes já seriam suficientes para sustentarem a
minha convicção de que tais procedimentos não merecem integral confiança; não
vejo, também, como cumprir minha responsabilidade ética e do juramento que fiz
ao diplomar-me, deixando-me seguir pelo que sugerem as aludidas regulamentações
ditas internacionais.
Uma intensa publicidade, repetitiva, todavia, sempre a dizer as mesmas coisas e
a decantar vantagens miríficas, todavia, vem sendo feita para apresentar as
referidas Normas como sendo uma “nova Contabilidade” alardeando intenções de
“transparência”.
Procura-se induzir que: 1) quase tudo em Contabilidade no Brasil está errado nos
balanços, 2) faltam profissionais competentes, 3) as matérias contábeis
importadas são a “salvação”, 4) nossa cultura não merece fé, 5) as influências
positivas nas Bolsas vão ser extraordinárias.
Causa-me espécie o veiculado; seria hilariante não fosse trágico; isso porque os
dolos contábeis internacionais provam exatamente o oposto sob a égide do que
aqui agora é veiculado como perfeito; têm ocorrido mais fraudes nos Estados
Unidos e na Europa que em nosso País, ou seja, tem sido nos países dos quais
provêm as ditas normas que as “volatilidades” normativas têm ensejado as
maquilagens; a licenciosidade tem produzido reflexos desastrosos sobre a
economia popular (ENRON, QWEST, PARMALAT e dezenas de outras).
Mesmo neste nosso País sendo menor a incidência de malabarismos bursáteis
através das demonstrações contábeis, ainda assim aos Contadores brasileiros vem
insistente publicidade imputando debilidades culturais, desmerecendo a quase
1.000 Faculdades de Ciências Contábeis que possuímos e uma apreciável quantidade
de excelentes Contadores.
Difunde-se a impressão de que apenas um reduzidíssimo grupo de profissionais
seja o detentor exclusivo da verdade, fato este que além de evidenciar maliciosa
pretensão é falaz.
O Senado norte americano já há tempos afirmou exatamente o contrário do que
certas noticias aqui, de forma dirigida alardeiam sobre o movimento normativo; a
alta câmara referida afirmou enfaticamente que o sistema contábil dos Estados
Unidos era incompetente (tenho em meus arquivos o relatório da Comissão
parlamentar de Inquérito que assim se pronunciou), egresso de entidades que eram
dominadas por grupos de grandes escritórios.
A imprensa internacional, também, além de eméritos professores de reconhecida
cultura mundial, tem igual e recentemente condenado a forma como as normas se
editam (por exuberante argumentação e prova basta citar o Prof. Abrahan Briloff
da Universidade de New York).
Pessoalmente, também discordo do processo normativo tal como se implanta;
condeno, inclusive, as alegações contrárias à nossa comunidade contábil
brasileira, tal como vem sendo feito; tenho apresentado argumentos que até agora
não foram refutados com outros de natureza técnica e científica; não reconheço
as ditas Normas Internacionais como sendo a própria ciência contábil.
Não é preciso muito esforço, todavia, para que apenas consultando a Internet se
encontrem matérias sobre as divergências entre a realidade e o insistentemente
difundido pela imprensa em favor das Normas; não existem as concordâncias gerais
proclamadas quanto aos procedimentos fundamentais impostos pelas tais medidas
batizadas como “convergência”, nem por parte de profissionais de qualidade
intelectual reconhecida internacionalmente, nem por governos de Países aonde a
responsabilidade social é a prioridade.
Quem assistiu ao IX Congresso Internacional de Contabilidade do Mundo Latino,
realizado em Maio passado na Europa, testemunhou o aplauso de milhares de
profissionais ao repúdio contra a anarquia e debilidade científica defluentes
das Normas ditas Internacionais; prolongados aplausos eclodiram quando
argumentos contrários a lesão implantada pelas aludidas Normas foram evocados
por eméritos professores universitários conferencistas, como os intelectuais
Domingos Cravo, da Universidade de Aveiro e Hernani Carqueja, da Universidade do
Porto; também, no mesmo evento eu fiz publicamente minha manifestação similar e
em quase uma dezena de Universidades européias (testemunhados por autoridades da
classe contábil brasileira e de outros países europeus); o emérito Dr. Domingos
chegou a afirmar que se estava implantando uma “anarquia epistemológica”.
As acusações contra as Normas Internacionais dimanadas de entidades particulares
são muitas; apenas as mesmas não têm merecido da imprensa em geral o destaque
merecido e necessário para fazer entender que se está abrindo as portas para as
fraudes, estas que vitimaram milhares de investidores pequenos, quando das
ocorrências dos escândalos de há muito denunciados pelo senado dos Estados
Unidos e faz pouco tempo pela imprensa internacional; esta mesma referida alta
Câmara ostensivamente fez ostensivas afirmações sobre a manipulação normativa;
influências fortíssimas do poder econômico, entretanto, continuaram sufocando a
realidade.
Pior de tudo ainda é que estão induzindo a confusão de conceitos, fazendo
parecer que sejam a mesma coisa Contabilidade e Normas, quando estas são apenas
procedimentos de mediana cultura destinados apenas a informações, tendo por
fundamento o subjetivismo; na verdade, entretanto, não é preciso sequer refinada
inteligência para entender que é a Contabilidade que se vale da informação como
simples instrumento e não o inverso; de informes se valem todos os ramos do
conhecimento humano, e, tais coisas, não se devem confundir.
De nada vale a informação se não se sabe o que fazer com ela; pior ainda quando
mesmo assim elas são de má qualidade, como ensejam as derivadas do subjetivismo.
Tão incrível é a situação que se torna possível realizar metaforismo, imaginando
um médico que mesmo sabendo o caminho exclusivo para a cura de um grave mal,
deixa ao sabor do cliente leigo a escolha de qual o remédio deve ser usado; ou
ainda, a um advogado, a concessão para que a sua constituinte escolha qual o
artigo da lei prefere seja citado em um processo, quando apenas um deles fosse
seria o adequado.
Referência:
acionista.com
|
|
|