Carreira / Emprego - Gravidez precoce: seria o fim da carreira e dos sonhos?
A psicóloga Cleide Guimarães explica que falar em gravidez precoce é falar em
adolescência e o processo que esta fase engloba. Ela explica que podemos
considerar gravidez precoce aquela que ocorre entre os 12 e os 17 anos, mais ou
menos.
Mas, se pudéssemos falar em idade ideal para ter um filho (se é que existe um
parâmetro definido para isso), seria após os 25 anos, devido a um fenômeno atual
conhecido por "geração canguru", em que os filhos estão preferindo ficar na
casas dos pais depois de formados, até estabelecerem um trabalho financeiramente
estruturado.
O primeiro prejuízo para a menina grávida é a desistência, ainda que temporária,
dos estudos. "A gravidez acaba afetando sua vida acadêmica e postergando os
passos da construção de sua carreira". Depois, há os danos emocionais, que
começam pela pressão sofrida dentro de casa.
"A família dessas adolescentes recebe mais um membro e o sistema se modifica.
Nem sempre isso ocorre de modo tranqüilo, até diria que é muito tenso. As jovens
avós, e também os jovens avôs, acabam acumulando mais papéis", explica Cleide.
A volta aos estudos e ao trabalho
Mas a volta aos estudos é possível, logicamente não logo em seguida ao
nascimento do bebê, que precisará de cuidados, e também por conta da recuperação
física da jovem mãe. "As filhas podem ou não ter facilidades para continuarem
seus estudos. Há aquelas que têm apoio da família para voltar logo para o
colégio, a faculdade, pós-graduações e possíveis trabalhos. Entretanto, algumas
não conseguem isso e acabam deixando os estudos por um longo período", diz a
psicóloga.
A consultora da Catho, Glaucia Santos, concorda sobre a importância do apoio
familiar, principalmente quando o assunto é trabalho. "Para retornar ao mercado
de trabalho, a jovem fica dependente de outras pessoas, como dos pais ou de
alguém que possa cuidar de seu filho. De fato, há um movimento maior de apoio e
assessoria, para que ela possa acumular suas responsabilidades de mãe e
profissional. Conheço pessoas que viveram essa situação, interromperam seus
estudos temporariamente, mas depois tiveram força para correr atrás do tempo
perdido, para manter seu filho", conta.
É importante, na avaliação de Glaucia, a jovem elaborar um planejamento
financeiro logo que ficar sabendo da gravidez. "É importante se organizar para
ter um fundo de reserva para quando precisar ficar parada. Afinal, ela ainda tem
muito tempo, durante a gravidez, para planejar seu futuro".
Com relação ao investimento no aprimoramento profissional - em termos de
especializações e aprendizado de idiomas, por exemplo - Cleide admite as
dificuldades. "Obviamente, o investimento que poderia estar direcionado para a
carreira será desviado para o filho e, provavelmente, levará um tempo maior para
que ela chegue a uma pós-graduação ou qualquer rumo mais sólido em sua carreira.
Não é impossível, mas dará muito mais trabalho e custará muito mais caro
financeira e emocionalmente", diz. "Dependerá da força de vontade da jovem mãe
para superar todas as barreiras".
Sonhos precisam ser adaptados
Ela não precisa desistir do sonho de ser médica, advogada, publicitária... Mas,
como não poderá mais pensar só por si, tendo agora uma nova pessoa com quem se
preocupar, os sonhos terão que ser adaptados. "Vivem-se lutos: da liberdade, do
ideal romântico traçado com o parceiro e dos sonhos que precisam ser adaptados.
Se havia um ideal de independência e autonomia implícito na construção de sua
carreira, então é mais um luto", avalia a psicóloga.
Deve-se levar em conta também a pressão que ela sofrerá, dentro e fora da
família, e também consigo mesma, tendo que se responsabilizar muito cedo pelo
sustento de seu filho. "Em geral, elas sucumbem as pressões que uma mulher mais
madura não sucumbiria. Como prosseguir, se ainda não tem estrutura física (ou
seja doméstica), financeira e emocional?", questiona Cleide.
Nada impede o sucesso profissional
Mas, para a psicóloga, o sucesso profissional não está ligado diretamente à
condição de mãe precoce. "Tem muito mais a ver com a personalidade, a idade, o
contexto, a cultura local e da própria mãe, as oportunidades, os esforços e com
a força interna capaz de levá-la a transpor os obstáculos possíveis em sua
vida", garante.
A consultora da Catho também acredita que a jovem mãe pode ser bem-sucedida. "As
restrições existem, porém nada impede que essa profissional desenvolva um
excelente trabalho e seja destaque em sua empresa. Na verdade, acredito que, por
conta de sua história de vida, ela tenha até mais responsabilidade, determinação
e comprometimento com o trabalho do que as demais jovens de sua idade. Afinal, o
sucesso profissional não será só importante para a realização pessoal como
também para o sustento de seu filho".
"Amadurecer assim não é fácil, mas, com certeza, ela será capaz de fazer outras
escolhas emocionais em sua vida, justamente por ter vivido tudo isso. Poderá
buscar independência financeira além de uma relação mais equilibrada com um
parceiro que seja colaborativo, participativo e incentivador de suas
potencialidades. Valores que, para muitos casais mais velhos, são bem
diferentes. Poderá ainda escolher uma carreira e lutar por ela com o maior
incentivo que poderia ter: o próprio filho!", garante Cleide.
"Portanto, não é o final de tudo, mas pode ser exatamente o início de uma vida
muito diferente do que se imaginou. No final, será uma vitória perceber que tudo
valeu a pena: a maternidade e a carreira", finaliza a psicóloga.
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