A indústria do "crédito fácil" não pára de crescer. Segundo o
Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), somente entre dezembro do
ano passado e junho deste ano o saldo do crédito pessoal aumentou R$ 10 bilhões,
de R$ 63,4 bilhões para R$ 73,035 bilhões.
"Muitas pessoas pegam empréstimos desavisadamente, principalmente entre as
classes mais baixas da população", avalia o professor de finanças da Fundação
Getúlio Vargas (FGV-Rio), Luiz Carlos Ewald.
Legião de endividados
Essa prática é impulsionada pela publicidade das financeiras, mas esse fenômeno
está formando uma legião de endividados. Para se ter uma idéia, a taxa de
inadimplência do brasileiro passou de 5,9%, no primeiro semestre do ano passado,
para 7,2% um ano depois.
Entre os maiores devedores, destacam-se aqueles com débitos nos cartões de
crédito e financeiras que, somados, representam 33,6% de todas as dívidas não
pagas em agosto último, segundo a Serasa. "As pessoas pegam dinheiro emprestado
para pagar outras dívidas, e não mais para consumir", constata Ewald.
Como agem as financeiras
Para avaliar as estratégias das financeiras, o Idec decidiu realizar uma
pesquisa em agosto em bairros diferentes da capital paulista. Entre as medidas
reprováveis, o Instituto encontrou informações incompletas sobre taxa de juros
passadas pelos funcionários, problemas em contratos e juros diferentes
praticados por lojas da mesma rede.
Perguntados sobre as taxas adicionais para a aquisição do empréstimo, na
Fininvest, apenas um funcionário soube responder qual o valor do seguro cobrado
e nenhum sabia o valor da TAC (taxa de abertura de crédito), nem informaram
sobre o IOF (imposto sobre operações financeiras).
O valor da TAC também não foi revelado na Finasa e em duas lojas da Cacique e da
CitiFinancial, enquanto nas lojas da GE Money os valores da TAC e do IOF foram
informados corretamente.
Descontos
Todas as empresas garantiram que há descontos quando o pagamento de parcelas é
antecipado, mas algumas só revelam o percentual no momento da quitação. "É
assegurada ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou
parcialmente, mediantes redução proporcional dos juros e demais acréscimos",
garante o Código de Defesa do Consumidor (CDC) em seu artigo 52.
"A Finasa se negou a rever o valor dos juros embutidos nas parcela", reclama
Flávio Szabluk, que no final de 2005 pagou antecipadamente as parcelas de um
financiamento.
Todas as financeiras, com exceção da GE Money do centro de São Paulo, não afixam
em local visível as tabelas com juros, taxas e prazos de financiamento,
contrariando resolução do Banco Central (BC). Essas instituições financeiras
também não disponibilizam o contrato para análise antes que ele seja assinado.
Mesma rede, juros bem diferentes
Apesar de se tratar de lojas da mesma rede, as financeiras oferecem taxas de
juros bem diferentes. Os juros variam de 6,9% a 13,1%, mas a maior diferença foi
encontrada na CitiFinancial, que em Pinheiros cobrava 6,99% e no Centro pedia
9%.
Segundo o CitiFinancial, a diferença se deve ao fato de os valores e os prazos
informados pelos pesquisadores do Idec aos consultores das lojas serem
idênticos, mas cada loja teria se adequado ao perfil desse suposto cliente. O
Idec, no entanto, garante que utilizou o mesmo perfil para todas as lojas.
"Maiores taxas de juros não representam, necessariamente, os maiores valores
finais a serem pagos", diz o Idec. "Isso porque no cálculo do total estão
incluídos a TAC e diferentes seguros, que variam de uma loja para a outra".