Muito se tem falado sobre o grau de investimento, concedido ao Brasil por
duas das principais agências de classificação de risco do mundo, a Standard and
Poor's e a Fitch Ratings, que elevou o rating do País . Embora tudo isso já
fosse esperado, permeou imenso otimismo no mercado de capitais brasileiro,
atraindo mais investidores para a Bolsa de Valores de São Paulo, que, por sua
vez, bateu novos recordes.
A experiência internacional mostra que os países que são grau de investimento
possuem economias mais estáveis. Trata-se de um "selo de garantia que reforça os
avanços da economia brasileira nos últimos anos e melhora suas perspectivas para
o futuro", nas palavras do coordenador dos cursos de Administração da Faculdade
Módulo e consultor em finanças, Cláudio Carvajal.
A classificação de risco leva em consideração, basicamente, a capacidade de
pagamento das dívidas por parte dos emissores - bancos, empresas ou governos - e
somente países que apresentam baixo risco ao investidor são grau de
investimento. Os ganhos por parte das grandes empresas, neste novo cenário, são
visíveis. Mas e quanto às pequenas e médias empresas? O que muda para elas?
Qual é o cenário para pequenas e médias empresas?
De acordo com o professor e coordenador de cursos executivos do IBMEC São Paulo,
David Kallás, os efeitos do Grau de Investimento também poderão ser sentidos
pelas empresas de pequeno porte. Em primeiro lugar, haverá redução do custo de
financiamento, com uma possível queda na taxa de juros, porque o fluxo de
capital para o País deve aumentar.
Além disso, as empresas passarão a ter maior potencial de atração de
investimentos externos para o negócio, uma vez que existem muitos grupos de
investidores que limitam os investimentos a países com grau de investimento.
Impacto em cadeia
Já o professor de governança corporativa da Trevisan Escola de Negócios, Roberto
Gonzalez, acredita que o reflexo do grau de investimento nas pequenas empresas
acompanhará toda a cadeia das grandes companhias que sofreram impacto. "Por
exemplo, as organizações do setor de construção civil foram impactadas
positivamente. Com isso, todas as empresas que prestam serviços ou vendem
produtos a essas empresas saem ganhando", explica.
Ele diz que não acredita no aumento do número de operações de private equity
(investimento em empreendimentos de capital fechado com potencial de
crescimento). Neste caso, a expectativa do investidor é que a empresa dê,
futuramente, retornos superiores à média, em sintonia com o risco que apresenta
e a baixa liquidez do investimento. "Eu, particularmente, não acredito que o
investidor estrangeiro irá procurar uma pequena empresa brasileira".
Contrariando a teoria econômica que diz que, com mais capital circulando no
País, a tendência é de baixa dos juros, Gonzalez analisa que "o cenário ainda
não está claro". "A entrada de capital pode até mesmo motivar o aumento do
consumo e da inflação, forçando o governo a aumentar a taxa de juros. Porém, é
lógico que o Estado quer atrair o capital produtivo, e não o especulativo",
pondera.
Ele também não descarta a possibilidade de valorização do real, causada pela
maior entrada de investimentos estrangeiros, o que poderá prejudicar ainda mais
as empresas exportadoras, que já vinham sofrendo com o dólar desvalorizado.
Governança corporativa
Vantagem ou não para as pequenas e médias empresas, uma coisa é certa: o grau de
investimento somente será aproveitado pelas organizações que se preocupam com a
governança corporativa. "A lógica é clara: ninguém investe em quem não confia.
Por isso, é necessário cultivar um processo de gestão transparente. Os
empresários precisam prestar contas do que fazem e mostrar suas estratégias",
explica Kallás.
"Quando o empreendedor começa o negócio do zero, ele não precisa dar satisfação
a ninguém, porém, à medida que ele deseja que sua empresa cresça, deve tornar
públicos os resultados que obtém".