Liderança é um termo para o qual cabem muitas definições, em geral envolvendo
dinâmicas do funcionamento de grupos e a capacidade de influenciar
comportamentos. Muitos dos conceitos também envolvem os mecanismos e os
resultados obtidos pelo líder ou pelo grupo, e raramente podem ser transmitidos
e transformados em ação por intermédio de um simples curso ou estudo: o líder se
desenvolve, a liderança não pode ser simplesmente adquirida.
Um dos conceitos de liderança que mais me agrada pessoalmente diz respeito a
organizações militares de ação não convencional (estilo “Commandos”, Green
Berets, SEALs ou Marine Raiders), que - ao contrário do que é usual em
organizações militares altamente verticalizadas - dependem de forma intensiva, e
em todas as suas operações, da capacidade de iniciativa individual e não
previamente mapeada de todos os integrantes da equipe, contando com seu
alinhamento à missão e à estratégia definida.
O conceito é relativamente complexo, mas foi simplificado ao ser transposto
para obras de ficção militar, e passou a tomar a forma da seguinte proposta para
uma liderança efetiva em situações que exigem grande capacidade de adaptação ao
ambiente externo: “Prepare uma boa equipe, dê a ela as condições necessárias,
explique onde precisamos chegar… e saia do caminho”.
Administradores que são verdadeiramente líderes, e não apenas chefes, têm
algumas características em comum:
- Usam muito mais a capacidade de influência do que o poder de comando.
- Sabem ouvir cada integrante da equipe e fazer uso das informações que
recebem.
- Não micro-gerenciam a execução das tarefas, nem criam dependências
desnecessárias (no estilo “quero carimbar todos os documentos que você for
enviar”).
- Confiam na equipe e procuram fazer com que a equipe confie nele.
- Valorizam opiniões e perspectivas de outros.
- Comunicam claramente à equipe e ao público interno quais os objetivos e
metas
Nenhuma novidade até aqui, certo? Todos sabem diferenciar um líder de um
chefe, quando se trata de analisar as características de relacionamento
interpessoal. Mas existem outras características dos líderes que podem ser muito
mais difíceis de desenvolver, e que você não pode deixar de valorizar se deseja
se aperfeiçoar: as relacionadas à tomada de decisões. Veremos a seguir os
detalhes sobre as principais delas.
Liderança e a tomada de decisões
Líderes tomam decisões. Parece óbvio, mas quantas vezes você já teve
que lidar com uma pessoa que está em posição de liderança, mas não é capaz de
decidir nada? Ele adia, exige pareceres, faz consultas, e na prática decide
apenas aquilo que alguma norma manda ele fazer, ou que ele tem condições de
colocar a culpa em alguém, se der errado, ou pegar os créditos para si, se der
certo.
Em organizações é comum que as pessoas prefiram não tomar decisões, se não
forem obrigadas. Elas preferem rotinas, mecanismos, regras e processos com
resultados conhecidos. É há uma razão para isso: processos conhecidos e decisões
mecânicas reduzem mesmo o stress e conduzem a resultados conhecidos, de forma
mecânica e burocrática (no bom sentido weberiano). Entretanto, nem sempre as
condições necessárias ao uso dos processos conhecidos estão disponíveis, e aí as
decisões precisam ser tomadas. Dizem que o poder é de quem o exerce, mas a
responsabilidade de decidir também é de quem lidera, e assim as mudanças
disruptivas e urgentes precisam ser tratadas por *alguém*.
Neste contexto, portanto, a liderança é a característica da pessoa que no
calor dos acontecimentos aceita a carga adicional de tomar decisões, muitas
vezes tendo de escolher entre diversas opções ruins e sem dispor de todas as
informações necessárias.
Líderes assumem suas responsabilidades. Decidir seria bem mais fácil,
se nos casos de falha pudéssemos sempre colocar a culpa nos outros. Quem nunca
teve um chefe que, antes de tomar qualquer decisão, exigia manifestações por
escrito sobre absolutamente tudo, e depois guardava verdadeiros dossiês, para
ter em quem colocar a culpa caso o projeto não fosse bem-sucedido? E que ao se
manifestar sobre qualquer assunto, primeiro citava todas as normas e
regulamentos que determinavam que ele agisse exatamente da forma como agiu?
Isto não é assumir a responsabilidade de liderar. Não pode nem mesmo ser
chamado de liderar: o chefe acaba virando um despachante, um feitor, capataz de
sua equipe - um nível hierárquico desnecessário e um risco permanente para a
organização e para as pessoas cujos resultados dependem dele.
Líderes promovem a ação. Muita gente tem opiniões fortes sobre como
resolver absolutamente qualquer problema, e mesmo assim os problemas delas
continuam sem solução. Neste contexto, liderança significa também saber ir além,
e de fato *fazer algo*.
Líderes eficazes garantem que suas equipes resolverão os problemas, e líderes
efetivos asseguram que ao resolver os problemas, o ambiente mudará de forma
favorável aos seus objetivos. Se você quer ser um líder, precisa saber
transformar suas metas em ações, aqui e agora, e em seguida tomar estas ações,
ou inspirar a sua equipe a fazê-lo.
Líderes valorizam as suas equipes. Eles investem na formação de boas
equipes, na obtenção dos recursos necessários, e na criação do clima
organizacional adequado. Eles não têm medo de que algum dos integrantes de suas
equipes possam tomar seu lugar: pelo contrário, eles estão constantemente
formando 1 ou 2 substitutos, porque sabem que um verdadeiro líder sempre têm
grandes chances de ser movido para desafios maiores em suas organizações. Eles
dizem pouco “Eu” e muito “Nós”, e valorizam os pontos fortes de seus liderados.
Um bom líder consegue incutir em cada membro da equipe a idéia de que as
metas pelas quais eles estão trabalhando são deles mesmos, e não de alguma
entidade abstrata e sem face. O verdadeiro líder confia na capacidade de decisão
de sua equipe, e trabalha constantemente para ter condições de apenas definir a
missão e as diretrizes, saindo então do caminho e deixando a equipe trabalhar.
E para completar: Líderes não acreditam cegamente em fórmulas prontas.
Claro que isto não é uma licença para constantemente reinventar as bases de
tudo: é preciso ter bom senso e uma perspectiva racional. Mas os mecanismos
funcionais e práticas tradicionais têm seu lugar, e o líder precisa saber
reconhecer a eventual necessidade de se desviar do caminho já trilhado.
E é deste ponto que surgem as perguntas para os comentários deste artigo: que
características adicionais você identifica nas figuras que considera verdadeiros
líderes? E quais traços você acredita que eles deveriam trabalhar mais?