Nada do que planejei até hoje para minha vida pessoal e
profissional ocorreu como eu imaginava. Achava que ia morrer solteiro, já me
casei (aos 28!); pensei que ia ficar rico antes dos 30, ainda pago financiamento
do carro e apartamento... Imaginava ser "O consultor" ainda jovem, e vejo que há
muito, mas muito, o que estudar e trabalhar.
É assim, a gente "compra" os tecidos e linhas, tece a trama
com cuidado - às vezes com ingenuidade- aí vem a vida e desfaz os pontos, embola
as linhas, rasga as tramas e transforma a composição.
É preciso então redesenhar, re-costurar, mudar linhas e
cores, conceber novas tramas e conhecer novos tecidos; em uma palavra
"re-imaginar" como disse Tom Coelho.
Muito fácil é fazer planos, mais fácil ainda é vê-los ser
modificados pelas contingências de viver; difícil é aprender a ver, aprender a
ler, não no papel, mas nas entrelinhas do destino.
Destino X Decisão; são dois aspectos da vida que sempre
acreditei serem antagônicos. Preto ou branco, frio ou quente, claro ou escuro.
Tenho aprendido... Que decepção? Que descoberta!
Descobrir que o destino leva, mas que pode ser balizado,
influenciado e gentilmente convencido. Notar que entre o preto e o branco existe
o cinza, e que as tonalidades da existência às vezes se colorem a si mesmas,
misteriosamente pintando um quadro do qual somos co-autores.
Aquele traço? Deu-se por si mesmo. E a linha reta tornou-se
côncava, o amarelo vivo desbotou um pouco e, o vermelho- imaginado pálido-
acabou por se mostrar de um escarlate assombroso.
Na escola da vida ainda sou aprendiz de aprendizes, e
descubro diariamente que jamais me graduarei. Que bom! Vejo à minha frente
sonhos se erguerem e se tornarem majestosos. Não que eu os tenha concebido
assim: majestosos! Concebi-os enormes, é verdade, mas muito menos complexos e
ricos do que na verdade se mostram. Imaginei caminhos lineares, mas fiquei às
voltas com as voltas da vida; e quantas voltas ela dá...
Hoje, tudo caminhando, o que era para ser cabeça virou pé, e
aonde eu farejava poeira mostrou-se o ouro. As tintas se misturaram, as tramas
se desfizeram, se refizeram, e as cores me confundiram; mas o quadro está sendo
pintado, por um artista imperfeito, ansioso, deslumbrado.
Tenho notado que a vida me leva, e que me leva para onde
quero, mesmo quando nem sei se sei o que quero. Mas sempre sei, e sempre vou,
por viadutos inesperados, rotas mal desenhadas e acostamentos desconfortáveis;
não paro na estrada.
Se eu caio, tenho que me erguer, engarrafamentos já não mais
me desesperam; apenas reduzo a marcha e afrouxo o pé, a aceleração não pára. As
placas? Umas caídas, outras tortas, mais tantas "borradas"; mas não me importo;
vou firme, reto e confiante; porque estou aprendendo a viver, estou aprendendo
ansiar e a esperar. Estou aprendendo a ler...
Até mais.