A capacidade da população brasileira de poupar é extremamente baixa. A
informação foi dada nesta quinta-feira (21) pelo presidente do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (UBGE), Eduardo Nunes, ao comentar três
edições da Pesquisa de Orçamento Familiar, realizada pela entidade durante os
anos de 1987/1988, 1995/1996 e 2002/2003.
Nunes afirmou que, durante essas pesquisas, foi constatada uma estabilidade da
desigualdade social. "Quase não houve mudança: 85% das pessoas gastam mais do
que ganham. Elas precisam se endividar para continuar consumindo. Apenas 15%
conseguem fazer alguma reserva", contou.
Mito de desenvolvimento
O pesquisador esteve presente no lançamento do livro "Gasto e consumo das
famílias brasileiras contemporâneas", coordenado pelo Instituto de Pesquisa em
Economia Aplicada (Ipea). O evento se deu na Faculdade de Economia e
Administração (FEA), da Universidade de São Paulo (USP).
Conforme o pesquisador, parafraseando Celso Furtado, existe um mito de
desenvolvimento no Brasil. "Não basta crescer a riqueza. É necessário dividir a
riqueza", disse, salientando que a melhor forma de combate à pobreza é melhor
distribuir a renda.
Alimentação
Sem dar dados específicos sobre o tema, Nunes afirmou que os gastos da população
mudaram significativamente de 1974, quando foi realizado o primeiro Estudo
Nacional de Despesa Familiar (Endef), para 2002/2003, anos que serviram de base
para o levantamento de dados da última POF.
"Foi percebido que existe uma crescente participação da mulher no mercado de
trabalho", lembrou. Conforme o pesquisador, ainda o peso das despesas com
alimentação caiu ao longo dos anos. O motivo apontado é a maior oferta desses
produtos no mercado e um constante barateamento. Para se ter uma idéia, de
1987/1988 para 2002/2003 caiu de 22,16% para 18,7% a fatia do orçamento das
famílias destinada a essas compras.
"Também verificou-se que as pessoas comem mais fora de casa e que optam pela
compra de comida pronta, mesmo que seja para consumir na residência", finalizou.