Trocar de carro é uma decisão tão difícil quanto a compra do primeiro
zero quilômetro. Primeiro porque são muitas as dúvidas se é ou não o melhor
momento para deixar de lado o carro atual. Segundo porque existem fatores que
contribuem para que a decisão não seja tão acertada quanto pensam os
proprietários que querem um veículo novo na garagem
A hora ideal de trocar de carro é quando o veículo começa a dar mais despesas e
a relação custo-benefício passa a ser desvantajosa para o proprietário. “Se o
carro está bom, não há necessidade de trocar”, acredita o responsável pelo site
Automóveldicas, Nelson Cunha Bastos. Porém, o cenário atual do mercado
automobilístico influencia a troca muitas vezes desnecessária. “As mudanças de
gerações, a forte concorrência, o fácil acesso ao crédito, tudo isso estimula”,
afirma.
Se a necessidade não dita, na maioria das vezes, a troca, a inovação sai na
frente. “Esse é o maior motivo”, avalia o diretor da Agência AutoInforme, Joel
Silveira. “O consumidor troca só para ficar atualizado”, afirma. “As pessoas têm
essa necessidade de trocar o carro devido ao status”, acredita Bastos. “E as
alterações de modelo, o aparecimento de novas versões e gerações ajuda a
estimular a troca”, afirma. Para Silveira, a questão da necessidade é
secundária. “A novidade é o maior motivo, mesmo entre os carros populares. Essa
questão da necessidade é um motivo secundário”, acredita.
Odair Oliveira está decidido a trocar seu Ford Fiesta Sedã. E os motivos aliam a
imagem com a necessidade. Como representante de vendas, Oliveira precisa de um
bom carro para atender aos seus clientes, ao mesmo tempo em que precisa de um
veículo seguro e confortável, pois é nele que passa boa parte do tempo.
“Como eu trabalho com carro, eu preciso de um que tenha conforto, além da
questão mecânica. Depois de quatro ou cinco anos, tem de trocar”, afirma. Seu
veículo é de 2007 e, embora considere que seja a hora certa de comprar um novo,
o que vai decidir a compra é o bolso. “Vi vários modelos, mas na hora da compra
quem decide é o bolso”, diz.
De dois em dois anos
A inovação, a segurança e principalmente o conforto são os principais
motivos que levam à médica Sônia Bonadia a querer trocar seu Celta 1.0. “Meu
carro já tem quatro anos e eu queria um mais seguro e com mais conforto”,
afirma.
Como mora em Sorocaba, mas tem grande parte da família alocada na capital
paulista, a médica teme ficar parada na estrada quando viaja. “Eu gosto de carro
zero, porque não posso ficar na mão”, diz. Para Sônia, a troca do carro está
acontecendo tardiamente, pois ela costumava trocar o carro de dois em dois anos,
como fazem muitos brasileiros.
Essa frequência, na avaliação de Silveira, é comum, pois, com dois anos, o carro
zero já sofreu a sua maior desvalorização. “Para quem está comprando, é um bom
negócio, porque, depois de dois anos, o carro desvaloriza pouco”, afirma. Com a
ampliação cada vez maior do acesso ao crédito para financiamento de veículo,
essa troca bianual ficou ainda mais comum.
Para se ter uma ideia, segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição
de Veículos Automotores), foram vendidos mais de 2,251 milhões de automóveis de
passeio em 2010 - um número recorde e um aumento de quase 7% frente aos
emplacamentos de 2009. Com os estímulos fiscais concedidos pelo Governo à
indústria automobilística em 2009 e com o crescimento acelerado do consumo,
trocar ou comprar o primeiro zero quilômetro se transformou em prioridade par
muitos brasileiros.
Se, para muitos, a troca de dois em dois anos parece vantajosa, para Bastos, a
conta não é tão simples assim. Para o especialista, essa negociação tem um fator
complicador para quem quer vender. “A venda do seminovo é muito difícil, porque
compete com o novo, porque quem tem para comprar um seminovo pode comprar um
novo”, avalia Bastos. Um veículo seminovo, de um a dois anos de uso, na
avaliação do especialista, tem de desvalorizar muito para ser vendável. Mais um
motivo para postergar a troca.
Além disso, Bastos não enxerga desvantagens a quem vender um carro de seis anos.
Para ele, não é um mau negócio. “Enquanto você usa o carro, você está reservando
dinheiro para comprar outro”. Ao menos esse comportamento deveria ser o ideal,
na sua avaliação.
O especialista recomenda que a troca do veículo ocorra depois que ele completar
60 mil quilômetros rodados. “Porque, a partir daí, a manutenção começa a ficar
muito cara. A partir dessa quilometragem, você pode começar a pensar na troca",
avalia. "Mas essa questão também é muito subjetiva, porque carro para os
brasileiros é razão e emoção. Tem de haver um equilíbrio entre essas duas
coisas", diz.