Você já deve ter ouvido a seguinte expressão: "A teoria é uma coisa, a
prática é outra" - geralmente, com o intuito de dizer que a escola e a empresa
são seres oriundos de planetas muito distintos.
Brincadeiras à parte, realmente ainda nos dias de hoje é perceptível esse
conflito existencial entre escola e empresa, e quando me refiro à escola estou
considerando todos os níveis: ensino fundamental, médio, superior, mestrado e
assim por diante.
O leitor pode, e com razão, questionar: qual a relação do sistema educacional
que alfabetiza no caso o ensino fundamental, por exemplo, com o mercado de
trabalho? Não seria mais apropriado falarmos apenas do ensino superior que
conceitualmente seria a porta para o mercado de trabalho? Vou procurar
justificar-me no decorrer desse artigo.
Ao longo de todo o processo de formação educacional somos estimulados a
desenvolver com maior ênfase o raciocínio lógico-matemático. Dentro das salas de
aulas professores e alunos são engolidos por um sistema doente, onde a arte do
questionamento, o estimulo ao desenvolvimento da criatividade e a imaginação dos
alunos não são explorados na sua totalidade. No entanto, futuramente esses
alunos serão cobrados pelas organizações pela capacidade de exploração da
criatividade que nem sempre é tão "lógica" assim.
Isso acontece, pois por mais que os professores tenham capacidade, formação e
vontade em explorar o potencial intelectual dos alunos, mas o sistema
educacional não permite.
Vamos exemplificar o raciocínio: quantos alunos que ousaram ser criativos em
provas, questionando métodos e debatendo ideias de grandes autores? Mereciam uma
nota dez, mas levariam um zero. Não me refiro àquelas famosas "embromation"
que estressam o intelecto de qualquer pessoa, mas aquelas respostas conscientes
em conceitos e articuladas com formação de opinião própria e construção de
ideias. Quantos possíveis pensadores não foram calados nas salas de aulas e
bloquearam para sempre a capacidade de expressar opinião e construir um
raciocínio?
Esses jovens, que ousaram explorar a criatividade nas salas de aulas são
vistos pelo sistema educacional como "desacatos" ao conteúdo proposto pela base
escolar. Já no mercado de trabalho são vistos como futuros talentos, futuros
líderes.
O sistema educacional deveria prezar pela formação de futuros pensadores, mas
infelizmente não é isso que acontece, pois as escolas geralmente se preocupam na
aplicabilidade de conteúdos ao invés de estimular a criatividade e a imaginação
dos alunos e de expor eles a situações de desafios.
Os professores que deveriam ser considerados e respeitados como uma das
funções mais nobres existentes, não têm o devido valor, nem pelos alunos e nem
pelo próprio sistema educacional. Eles é que contribuem para a construção do
indivíduo na sociedade.
As escolas supervalorizam o sistema de provas como se fosse o melhor método
para medir o nível de absorção do conhecimento, um erro grotesco. Einstein, o
gênio da física moderna não era considerado um gênio em sala de aula e
ironicamente tornou-se um ícone mundial, sendo um modelo e uma referência até os
dias de hoje nas salas de aulas.
O que garante que um aluno nota dez será um profissional brilhante no cenário
do trabalho? Não sou contra o sistema de provas, muito pelo contrário. Acredito
que elas têm uma grande relevância para a formação do indivíduo, mas acreditar
que seja a única maneira e mais eficaz de assegurar que o conhecimento seja
transmitido aos jovens por completo é um tanto imaturo nos dias atuais.
As escolas poderiam rever sua grade curricular desde as bases iniciais no
ensino fundamental e médio e, então, consequentemente nas universidades.
Deveriam prezar pelo debate de ideias, pela troca de informações, pela criação
de ambientes saudáveis de desconforto - cenários que possibilitem o uso da
criatividade, orientar os jovens a lidarem com o excesso de informações
existentes no mundo moderno transformando-as em conhecimento e não insistir em
métodos que não serão lembrados pelo indivíduo ao longo de sua jornada.
Por outro lado as organizações buscam cada vez mais profissionais altamente
competentes e com flexibilidade intelectual para serem lógicos e ilógicos ao
mesmo tempo. Profissionais que sejam criativos e pensem diferente, que consigam
criar ambientes saudáveis de desconforto estimulando o novo, com boas relações
humanas e agora que tenham comprometimento com a sustentabilidade.
Tudo isso contradiz a base de formação educacional do sujeito, pois na escola
ele não teve tamanho nível de exigência para corresponder a tudo isso e o
resultado é essa desproporcionalidade que percebemos nos processos de seletivos
empresariais e até mesmo em palestras universitárias - o desinteresse e a
desinformação dos alunos em relação ao mundo do trabalho.
As empresas, por sua vez, deveriam aproximar-se mais das redes de ensino
público e particular, não através de programas superficiais de responsabilidade
social, mas com o objetivo de formar junto com o sistema educacional o ser
humano do futuro. As empresas é que possuem condições de orientar as escolas
sobre as exigências e as mudanças no cenário do trabalho, pois é para lá que
todos irão independentes de suas escolhas. Elas podem contribuir muito na
formação dos jovens, orientando a escolha da carreira, preparando esse jovem
para o mundo competitivo dos negócios, sendo que um dia poderão ser seus
empregados.
Infelizmente, não vejo essa aproximação no sentido de alinhamento de
interesses na formação do ser humano entre escola e empresa. Com isso o
desequilíbrio entre teoria e prática sempre terá sentido enquanto o empresário
não quebrar esse distanciamento existente, deixar de encarar como um problema
governamental e perceber que se trata de um problema educacional no qual ele
mesmo é afetado.
Contudo, como um jovem sonhador que sou e como um pensador em processo de
formação eu acredito que esse distanciamento entre escola e empresa diminuirá ou
por percepção de que é um problema de todos ou por necessidade de cada vez mais
nos depararmos com a desqualificação profissional que a meu ver começa na
primeira série do ensino fundamental.