Ações / Bolsa de Valores - O mercado realiza lucros: há como entender melhor este fenômeno?
Realização de lucros. O termo é usual no mercado e, como se sabe, refere-se
basicamente às situações em que os investidores, satisfeitos com os lucros
acumulados num histórico recente, ou temerosos de que estes se transformem em
prejuízos, acabam se desfazendo de suas posições, exercendo uma pressão para
baixo no preço dos ativos.
Mais do que um fenômeno usual no mercado financeiro - basta ver a queda abrupta
do Ibovespa de 6,63% no dia 27 de fevereiro de 2007 e a forte correção vista em
maio do ano anterior -, as realizações de lucros têm explicação num aspecto
psicológico importante inerente aos investidores.
Indo à psicologia
Na tentativa de explicar a lógica - ou a falta dela - em algumas situações do
dia-a-dia das finanças, muitos economistas vêm buscando explicações na
psicologia para fundamentar as decisões individuais, formando uma linha de
pesquisa promissora denominada Finanças Comportamentais.
Dois dos precursores neste campo são os psicólogos Daniel Kahneman, vencedor do
prêmio Nobel de Economia de 2002, e Amos Tversky, que foi professor da
Universidade de Stanford, cujos principais trabalhos se dedicam a explicar as
distorções à perfeita racionalidade dos investidores no mercado financeiro. Ou
seja, como algumas "anomalias" ocorrem e persistem nos mercados.
E uma de suas principais contribuições passa justamente pela explicação dos
processos de realização de lucros, por vezes aparentemente injustificáveis.
Um experimento esclarecedor
Kahneman e Tversky afirmam que os investidores agem de forma diferente quando
estão expostos a lucros e a perdas, sendo muito mais avessos a retornos
negativos do que propensos a rendimentos positivos da mesma magnitude.
Em seu experimento clássico, os psicólogos apresentaram dois esquemas, sendo que
os entrevistados deveriam escolher entre uma das duas possibilidades em cada um
dos esquemas:
- Esquema 1: um ganho de $ 3.000 com certeza ou 80% de
probabilidade de um retorno positivo de $ 4.000.
- Esquema 2: uma perda de $ 3.000 com certeza ou 80% de chance de
um prejuízo de $ 4.000.
Resultados do experimento
No Esquema 1, a alternativa com certeza - ganho de $ 3.000 - foi preferida por
85% dos participantes do experimento. Embora a escolha mais freqüente possua um
retorno menor frente ao valor esperado da outra opção - $ 3.200 ($ 4.000 x 0,80)
-, isto, por si, não representa uma das "anomalias" do mercado, pois apenas
indica aversão ao risco.
Contudo, no Esquema 2, 92% dos entrevistados escolheram a opção com risco - ter
um prejuízo de $ 4.000 com 80% de probabilidade -, refletindo a preferência por
um caminho cujo valor esperado ($ -3.200) indicava uma perda maior. Ou seja,
neste caso não há aversão ao risco.
Esclarecendo um pouco mais, as pessoas foram avessas ao risco quando expostas
aos possíveis resultados positivos, e amantes do risco ao se depararem com uma
situação de perda potencial. Daí se configura a anomalia. Não há motivos
racionais para ter preferências diferentes quando se trata de lucros ou
prejuízos. Afinal, o prejuízo nada mais é do que um lucro negativo.
E por isso há realização
É esta anomalia psicológica que pode ajudar a entender os processos de
realização de lucros. Os investidores tendem a ser avessos ao risco quando
expostos a uma situação de ganhos e, portanto, se desfazem de suas posições
lucrativas com muita facilidade.
Daí os ajustes para baixo no preço dos ativos serem tão intensos e abruptos
quando de momentos em que o mercado vinha de uma trajetória de alta.
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