Investimentos / Fundos - Emoções e investimento: uma combinação perigosa
Ao investir, você precisa ter uma estratégia. Ainda que ela
possa ser revista, caso haja uma mudança no cenário econômico, seja em sua
situação financeira ou em outros eventos específicos, o ideal é tentar ser
consistente na hora de investir.
Porém, muitas pessoas têm um viés de investimento que acaba comprometendo a sua
tomada de decisão e, conseqüentemente, o alcance dos seus objetivos financeiros.
Boa parte destes vieses tem origem em fatores emocionais e psicológicos, e cabe
ao investidor tentar entendê-los, para então superá-los.
Viés afeta tomada de decisão
O viés na hora de investir, em geral, está bastante relacionado ao perfil
psicológico como investidor. A relação entre fatores psicológicos e
investimentos já foi abordada em livros, sendo que um dos mais conhecidos é o do
autor John Nofsinger, cujo título "Loucura ao investir. Como fatores
psicológicos podem afetar seus investimentos" deixa claro que fatores emocionais
podem afetar a tomada de decisão.
O viés do investidor pode ser descrito como a incapacidade de refletir de
maneira clara sobre suas decisões de investimento. Ela se manifesta de várias
formas distintas: excesso de auto-confiança, de apego ao investimento e medo de
mudar a situação atual.
- Excesso de auto-confiança
O investidor excessivamente auto-confiante tende a tomar decisões
precipitadas pelo simples fato de que está sob a ilusão de que tem todo o
conhecimento necessário e pode controlar a situação. Em geral, são
investidores que negociam freqüentemente suas aplicações, e estão mais
propensos a correr riscos.
- Apego excessivo
Muitos investidores acabam se apegando a um tipo de aplicação. Assim, não
conseguem analisar a situação de forma clara, passando a enfatizar apenas o
lado bom desta opção, negligenciando, ou dando menor importância, aos
aspectos negativos.
Muitas vezes este tipo de postura ocorre em razão de o investidor ter
recebido a aplicação como doação e, por isso, não consegue se desfazer dela.
Bastante comum no caso de imóveis, por exemplo, nos quais o apego emocional
muitas vezes acaba impedindo uma análise clara do investimento. Como vender
uma casa que está na família há anos?
- Incapacidade de mudar
Uma coisa é certa sobre investimento: consistência e perseverança são sempre
bem-vindas, se você quiser acumular um patrimônio. Mas, isso em geral se
refere à estratégia de investimento da pessoa, e não a uma aplicação em
específico.
Em outras palavras, o investidor deve ser consistente com a estratégia que
definiu, mas isso não significa que esta estratégia não possa ser revista de
tempos em tempos. No caso de aplicações específicas, é ainda mais importante
rever, de tempos em tempos, a decisão de investimento.
Por exemplo: você pode ter estabelecido como estratégia manter 30% do seu
dinheiro aplicado em ações. Não apenas este percentual deve ser revisto, de
tempos em tempos, de acordo com sua realidade financeira, como também as
ações nas quais você investe. Aquele que é avesso a mudanças pode acabar
perdendo dinheiro quando o cenário econômico muda, ou sua situação
financeira exige uma revisão da estratégia de investimentos.
Quando as emoções prevalecem
Não podemos esquecer que o cérebro de cada um de nós tem uma forma toda especial
de trabalhar. E, em alguns casos, é possível que o investidor tenha de fato uma
dificuldade para tomar decisões de investimento.
A teoria da "dissonância cognitiva", por exemplo, afirma que algumas pessoas não
se sentem bem quando novas idéias contradizem experiências passadas. Para estas
pessoas, é difícil acomodar as novas idéias, o que pode levá-las a uma situação
de apego excessivo, ou de incapacidade de mudança, como discutido acima.
Já a teoria da "representatividade" estabelece que algumas pessoas tendem a
reduzir a complexidade das situações, usando suas experiências passadas como
base para a tomada de decisões. Este tipo de investidor tende a criar
estereótipos nos quais baseia suas decisões de investimento.
Muitas vezes o viés é resultado do equilíbrio emocional de cada um de nós. Quem
já não ouviu falar de investidores que não conseguem admitir um erro e, por
isso, acabam evitando vender uma posição onde só acumulam perdas, pois acreditam
que um dia ela poderá se recuperar.
Temendo se arrepender da venda da aplicação, ele se apega a ela, mesmo quando as
evidências de recuperação deixaram de existir a tempos. Não estamos aqui
defendendo que sempre que incorrer em perdas o investidor deve mudar de
aplicação, mas sim que existe um momento em que a única coisa a ser feita é
minimizar as perdas.
Existem pessoas que, depois de sofrerem perdas, não conseguem mais correr nenhum
tipo de risco. Já outras adotam o caminho inverso e passam a correr riscos
excessivos para compensar as perdas que sofreram. Em ambos os casos, o
investidor acaba deixando aspectos emocionais afetarem sua decisão de
investimento, o que pode vir a colocar em risco o seu próprio patrimônio.
Se você acredita que possa ter algum tipo de viés na hora de investir, reflita
um pouco sobre o assunto, e tente verificar se isso está, ou não, afetando a
forma como você aplica o seu dinheiro. Boa sorte!
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