Algoritmos usados para a negociação de ações por computador passam a ser
oferecidos também para pessoas físicas
Ágora: algoritmos para pessoa física disponíveis na mesa de operações
Operações automáticas, realizadas por computadores em milésimos de segundo, não
são mais novidade no mercado financeiro. E, recentemente, também deixaram de ser
exclusividade de grandes fundos e investidores institucionais. Algumas
corretoras brasileiras já oferecem para pessoas físicas a possibilidade de
executar estratégias mais complexas por meio de modelos matemáticos, semelhantes
àqueles usados pelos fundos quantitativos. O serviço ainda é novo e voltado para
investidores mais experientes, que operam grandes volumes, mas as corretoras
apostam no crescimento da procura e de uma relativa popularização no uso desses
algoritmos.
Os modelos vêm sendo desenvolvidos pelas próprias corretoras e destinam-se à
execução rápida de estratégias quantitativas que requeiram maior sofisticação e
velocidade de operação. Na realidade, para terem sucesso, essas transações
envolvem várias operações simultâneas de compra e venda em quantidades e preços
determinados. O investidor define a estratégia que quer utilizar e insere seus
parâmetros - a faixa de preço na qual deseja operar e a quantidade de ativos que
quer comprar ou vender - e deixa o computador fazer o trabalho. O uso dos
algoritmos é particularmente interessante para quem investe hoje com base em
análise técnica, já que, num futuro próximo, ficará muito difícil que o homem
consiga ser mais rápido que a máquina na tarefa de identificar bons pontos de
entrada e saída da bolsa.
De acordo com Mônica Saccarelli, diretora do Link Trade, o home broker
da Link Investimentos, a atuação dos grandes fundos e investidores
institucionais por meio desses robôs acabou impulsionando o investidor pessoa
física mais qualificado a também aderir aos algoritmos. Consequentemente, as
corretoras passaram a oferecer o serviço a esses investidores individuais. "No
começo, a procura foi meio tímida, mas quem gosta de operar volatilidade logo
sentiu dificuldade de executar manualmente suas estratégias frente à velocidade
das operações realizadas por esses grandes investidores por meio dos
algoritmos", diz.
Essa demanda começou a se tornar realmente expressiva no ano passado, que foi
quando a Link passou a oferecer o serviço para a pessoa física. Outras
corretoras começaram a investir nesse tipo de algoritmo mais recentemente. Na
Ágora, que já oferece algoritmos sofisticados para clientes institucionais há
três anos, a procura dos investidores individuais cresceu há cerca de seis
meses. Na Coinvalores, o serviço passou a ser oferecido há três meses. E há
cerca de um mês, a SLW também entrou nessa seara. "O mercado teve, nos últimos
anos, uma grande expansão do investidor pessoa física, e, com o amadurecimento
desse investidor, é normal que ele busque operações e estratégias mais
estruturadas e diferenciadas", avalia Francisco Nogueira, operador da
Coinvalores.
Um modelo para cada estratégia
Os algoritmos são usados para operar volatilidade e distorções de preços de
ativos, operações que já eram realizadas pelos investidores mais experientes
mesmo antes da oferta desse serviço. A diferença agora está na agilidade e na
eficiência: os modelos matemáticos são capazes de detectar tendências de alta ou
baixa, os momentos de entrada e saída do mercado e os melhores preços de ativos
para atender às especificações do investidor, aumentando as chances de sucesso e
minimizando os riscos.
As operações mais comuns no segmento pessoa física têm nomes complexos: as
arbitragens, as travas de opções e borboletas, os financiamentos e a colocação
de ordens via melhor oferta (best offer). Além disso, algumas
corretoras já oferecem operações antes só disponíveis no segmento institucional.
É o caso da execução de ordens por tempo (TWAP), com parcelamento constante de
execução da ordem ao longo do tempo, e da execução de ordens em função do volume
do mercado (VWAP), buscando o preço médio em um determinado período, de acordo
com o volume do mercado.
Para cada estratégia, as corretoras disponibilizam um tipo de algoritmo
padrão. Embora já seja possível no segmento institucional, a customização ainda
não é viável para os investidores individuais. Mesmo assim, as corretoras
afirmam que não há risco de uma distorção artificial nos preços dos ativos
devido ao fato de haver muitos investidores usando um mesmo algoritmo para
determinado tipo de operação. "Não ocorre distorção de preços porque, embora
todos estejam usando o mesmo algoritmo, os parâmetros para cada execução - os
papéis, os níveis de arbitragem e assim por diante - mudam de um investidor para
outro", explica Francisco Valente, gerente da mesa de negociação eletrônica da
Ágora.
O problema maior são os papéis com pouca liquidez. Os algoritmos só funcionam
bem para operações com ativos bastante negociados, o que limita bastante a
utilização desse tipo de recurso em um mercado como o brasileiro. Isso porque se
um único investidor começar, por exemplo, a comprar grandes quantidades de um
contrato pouco negociado, pode acabar criando uma tendência artificial de alta.
E a eficiência dos algoritmos, é mesmo tão grande? "Os modelos são reavaliados e
aprimorados quase que diariamente para sempre buscar a melhor performance. O
objetivo é garantir a melhor execução possível para a estratégia do cliente",
complementa Valente.
Embora o tipo de operação seja o que determina a adoção de um algoritmo, o
volume operado também é importante. Para que o modelo funcione da maneira
esperada, são necessárias movimentações de grandes quantias. É por isso que,
pelo menos por enquanto, essas ferramentas só estão disponíveis para
investidores de grande porte e experiência no mercado financeiro, que têm
profundo conhecimento sobre os produtos da bolsa.
Por serem produtos mais sofisticados, seus custos podem ser diferenciados. Na
Ágora e na Coinvalores, por exemplo, as operações via algoritmos só podem ser
feitas via mesa de operações e a taxa de corretagem é a mesma das demais
operações realizadas desta maneira. Na SLW, por outro lado, operações de alta
frequência - compra e venda de papéis em prazos curtíssimos de tempo para
aproveitar pequenas distorções de preço - podem ter descontos de até 90% na
corretagem. Já na Link, o investidor opera por meio de uma plataforma online,
cujo acesso pode custar, mensalmente, entre 1.000 e 2.000 reais, da mais básica
à mais automática. A taxa de corretagem também pode ser diferenciada. "A taxa é
estabelecida de acordo com o volume e a quantidade de contratos operados. Quanto
mais se negocia, menor a corretagem, para viabilizar uma boa rentabilidade", diz
Mônica Saccarelli.
O uso de algoritmos por investidores pessoa física ainda engatinha no Brasil.
Apesar de sua especificidade, porém, as corretoras esperam expandir sua carteira
de clientes para esse tipo de serviço. "Já há um grande número de consultas de
investidores sobre os algoritmos", afirma Robson Queiroz, diretor comercial da
SLW. A Link, por exemplo, já está implementando ações educativas para informar
seus investidores sobre o novo sistema e espera, em breve, disponibilizá-lo em
seu home broker. A Coinvalores também estuda essa possibilidade. Para
Francisco Nogueira, esse é um sinal do amadurecimento do mercado brasileiro:
"Temos grande expectativa de aumento do número de investidores pessoa física
para os próximos anos. É natural o amadurecimento deste mercado, tornando-se
fundamental que as ferramentas, serviços e estratégias das corretoras evoluam na
mesma medida", diz o operador.