Quem nunca ouviu que é preciso comprar na baixa e vender na alta, quando se
investe em ações? Pois é, mas o problema é que muitos investidores não têm
preparo emocional para lidar com isso, acabam seguindo a manada e amargam
perdas.
Um levantamento feito nos Estados Unidos, pela empresa de pesquisas TrimTabs,
revelou que metade dos norte-americanos que investem em fundos mútuos perdeu ao
menos 25% na última década por fazerem retiradas mesmo quando o mercado estava
em alta. O motivo para eles agirem assim: estavam seguindo o mercado, movimento
que pode ser chamado de efeito manada.
“A década passada foi de perdas para os investidores de fundos mútuos dos
Estados Unidos”, disse o vice-presidente executivo da TrimTabs, Vincent Deluard.
E no Brasil?
E se você pensa que no Brasil a situação é diferente, está enganado. As
pessoas também se rendem ao efeito manada. “Nosso investidor pessoa física é a
turma do pré-trocado”, brinca o estrategista de Investimentos Pessoais do
Santander Asset Management, Aquiles Mosca.
No final do ano passado, quando o cenário era de alta, os investidores
reforçaram as aplicações em ações, o que rendeu compras caras. No primeiro
semestre deste ano, por sua vez, eles venderam papéis por conta do mercado, o
problema é que eles estavam em baixa. Tudo ao contrário do que deveria ser
feito.
“O investidor pessoa física é muito influenciado pela performance. Chega no
banco e pergunta: o que está rendendo bem? Ele é influenciado por essa
informação”, respondeu o estrategista.
E, conforme disse Mosca, esse movimento mostra que os investidores seguem a
manada. Se muitos estão comprando, o preço do ativo sobe, ele rende bem, e o
investidor acredita que deve comprá-lo. “Esse movimento independe de nível de
renda, classe social, educação, porque são totalmente inconscientes. Até mesmo
os mais vivenciados do mercado erram. Tem de ter um grau de consciência muito
grande”, ressaltou.
O que define a manada?
Ir com a manada pode ser prejudicial porque nunca se sabe quando o mercado
vai perceber que está indo no caminho errado e, então, o investidor amargará
perdas. Ir com a manada, no entanto, é confortável. Existem quatro elementos,
segundo Mosca, que determinam seu surgimento:
1 – A necessidade de fazer o que o outro está fazendo. A própria moda é um
exemplo disso. As pessoas seguem o que as outras usam. No mercado, não é
diferente.
2 – A tendência de imaginar que se todo mundo está fazendo, é porque tem uma
razão. Se está todo mundo indo para a bolsa, as pessoas acreditam que tem que ir
também.
3 – Se depois a bolsa cair, a pessoa não perde sozinha. A manada dá uma falsa
sensação de segurança aos investidores.
4 – O medo que as pessoas têm, não é de perder dinheiro, mas sim de não
enriquecer enquanto os demais estão enriquecendo. O ficar para trás incomoda a
muitos.
Como evitar?
E como evitar esse tipo de situação? De acordo com Mosca, existem dois
requisitos mínimos ao investidor: paciência e disciplina.
“Quem está indo para a bolsa tem de ver o longo prazo, para ver a tendência de
alta. Ativos de risco precisam de tempo”, afirmou, dizendo que com o passar dos
anos, as altas da bolsa de valores compensa os períodos de baixa.
Já a disciplina está em definir quanto é adequado para a pessoa investir em
ações, e manter esse percentual. “Mantenha a alocação constante”, ressaltou
Mosca, que exemplificou da seguinte forma:
- se você tem 20% em bolsa e ela cai 50%, terá 10% do patrimônio em bolsa.
Então compre para continuar com os 20% que tinha determinado.
- agora, se você tem 20% em bolsa e ela sobe 50%, terá 30% do patrimônio
em bolsa. Então venda para voltar a ter os 20% que tinha determinado.
Desta forma, apenas de olho no seu patrimônio, o investidor estará comprando
na baixa e vendendo na alta, o que dita o mercado, mas poucos fazem.