O livro Axiomas de Zurique, de Max Gunther, que trata das táticas usadas
pelos banqueiros suíços para obter êxito, traz entre seus ensinamentos
aos investidores o “resista à tentação de diversificar”. O argumento usado para
isso é que, desta forma, se reduz o risco, porém também a chance de ficar rico.
Mas quem já começou a investir certamente já ouviu a premissa de que “não é
indicado deixar todos os ovos na mesma cesta”. Diante dessas informações, para o
pequeno investidor, qual estratégia seguir? De acordo com os especialistas
consultados pelo InfoMoney, existe um momento certo de começar e de parar de
diversificar os investimentos.
O começo
De acordo com o superintendente executivo de investimentos do
Santander, Edson Franco, se o investidor é iniciante e tem pouco dinheiro,
talvez diversificar pode tornar as opções mais caras. Isso porque, para tíquetes
maiores de entrada, as instituições financeiras oferecem taxas melhores. “Talvez
não seja recomendada a diversificação até que o patrimônio seja suficiente para
que ele consiga negociar”.
Porém, de acordo com Franco, a premissa da diversificação é sempre válida, à
medida que o investidor comece a formar seu patrimônio.
O educador financeiro Álvaro Modernell concorda dizendo que quem tem pouco
dinheiro precisa gastar menos, ganhar mais e poupar mais. “Quando a pessoa tem
pouco dinheiro, o custo se torna maior. Então, a diversificação se torna
interessante geralmente quando o patrimônio atinge duas ou três vezes a renda
que o investidor possui”.
A estratégia
Conseguido o patrimônio adequado, que permita a negociação de custos, é
preciso analisar de forma correta como diversificar os investimentos, o que,
para Franco, depende de três fatores.
O primeiro deles é o perfil de risco do investidor, que vai levá-lo a
determinadas classes de ativos. “O quanto se coloca em produto conservador ou de
risco vai depender do perfil do cliente”, disse. O brasileiro ainda está
acostumado a investir em operações de alta liquidez, em função da memória
inflacionária, mas isso já está se reduzindo”. Confira, abaixo, a sugestão de
diversificação dada por Franco:
Carteira por perfil de investidor |
Conservador: 70% de produtos conservadores; 15% em previdência privada
com renda fixa; e 15% em produtos diferentes, que pode ser um fundo de
capital protegido (fundo de ação com barreira de queda e de alta). |
Moderado: 50% de produtos conservadores; 15% na previdência privada, com
20% em renda variável; 25% em produtos diferenciados, que podem ser
fundos de capital protegido ou multimercados; e 10% em ações, fundos de
ações ou compradas em corretoras. |
Arrojado: 40% de produtos conservadores; 15% em previdência privada,
pode ser até 49% em renda variável; 25% em produtos diferenciados; e 20%
em ações. |
Fonte: Edson Franco |
O segundo fator a se analisar, para diversificar, é a necessidade de
liquidez. “Todo cliente tem necessidade de dinheiro no curto prazo e no longo
prazo, só aí a diversificação traz vantagens”, ponderou. O que se tem de
analisar, aqui, é quanto irá para os ativos menos ou mais líquidos, tendo em
mente que esses últimos trazem maior retorno.
Enfim, o terceiro fator a analisar é o planejamento tributário. “Quando o
cliente tem parcela do dinheiro no longo prazo, ele pode aproveitar incentivos
fiscais em alguns produtos, que geram retornos melhores que aplicações
tradicionais”, destacou Franco.
Mitigar riscos
Modernell acredita que o importante da diversificação é também mitigar
os riscos, que estão presentes em todos os investimentos, até mesmo a
tradicional caderneta de poupança, que pode ter uma perda de poder aquisitivo
por conta da inflação.
“Uma boa diversificação deve contemplar ativos de curto, médio e longo
prazos, renda fixa e variável, opções conservadoras e arrojadas. A composição e
os percentuais devem levar em conta os objetivos da família e o perfil dos
investidores”, afirmou ele.
O educador ponderou ainda que nada disso adianta se também não se
diversificar a instituição em que se está aplicando. “Seria como distribuir os
ovos em pequenas cestas e colocá-las todas dentro de uma maior. Embora alguns
riscos tenham sido diluídos, o risco de concentração continua”. De acordo com
ele, quatro partes devem estar presentes na maioria das cestas de investimentos:
- Reserva de emergência ou oportunidades em ativos de liquidez;
- Parcela para especulação ou proveitos de curto prazo. “Nesta, as
amarguras e tristezas podem ser muito intensas”;
- Parcela para investimentos de médio e longo prazos, conforme objetivos
da família (lazer, imóveis, estudo, negócio próprio);
- Reservas para a aposentadoria, em planos de previdência, títulos
públicos e ações ou fundos de ações.
O céu é o limite?
Apesar de a diversificação ser indicada para muitas pessoas, ela tem um limite.
Não é apenas ir ganhando dinheiro e colocando em diversas aplicações.
O limite, de acordo com Franco, está na disposição e no tempo que o
investidor tem de fazer o portfólio dele e manter tudo sob controle: “Se é um
cliente que tem conhecimento aprofundado e tempo, pode fazer uma diversificação
maior. Quanto menos dispor de tempo e dinheiro, deve diversificar de modo a não
precisar revisar o balanceamento de ativos o tempo todo, só em casos de mudança
de plano ou de cenário”.
Modernell concorda, dizendo que quanto mais o investidor ganha, mais ele deve
ir diversificando. Porém, se está percebendo perda de dinheiro, seja por custos
ou por desempenho ruim das modalidades, é melhor acender o sinal amarelo para a
diversificação.