Aposentadoria - Verdades e mitos sobre a aposentadoria
Se você faz parte dos milhões de brasileiros que estão com mais de 50 anos, e
é de se esperar que já venha pensando sobre como seria a sua vida após se
aposentar.
Porém, se somente agora você começou a refletir sobre o assunto, é bom ficar
atento, pois existem muitos mitos a respeito do tema, que podem atrapalhar o seu
planejamento financeiro.
Uma coisa é certa: muito mudou desde a época em que os seus pais se aposentaram.
De um lado, a Previdência Social vem dando sinais cada vez mais evidentes de
estrangulamento financeiro e, conseqüentemente, reduzindo o valor dos benefícios
concedidos aos aposentados. Por outro, a Previdência Complementar cresceu e se
tornou mais abrangente, o que veio facilitar a tarefa de quem investe no longo
prazo.
Conheça, em
maior detalhe, alguns dos mitos, que há muito deixaram de ser válidos, e que
exigem de quem pretende se aposentar mais esforço e planejamento.
Mito 1. Basta garantir renda por 15 anos
Em primeiro lugar, é preciso entender quando efetivamente você pretende parar de
trabalhar e passar a viver somente da renda que possui. Afinal, a resposta a
esta questão terá um impacto significativo sobre quanto tempo sua reserva
financeira terá que durar.
Segundo os dados do IBGE, no estudo "Indicadores Sociodemográficos Prospectivos
para o Brasil 1991-2003", a expectativa de vida, que era de quase 67 anos em 91,
chegou a 72 anos em 2005 e deve ultrapassar os 78 em 2030.
Em 2000, o equivalente a 3,7% da população brasileira já possuía mais do que 70
anos. Parcela que, como os estudos demográficos vem indicando, só tende a
aumentar nos próximos anos.
Portanto, os dados sugerem que o primeiro mito de que, para ter uma
aposentadoria tranqüila, basta acumular reservas que garantam uma renda por 15 a
20 anos deve ser visto com cautela. O mais provável é que, quando chegar a sua
vez de se aposentar, as novas tábuas de mortalidade indiquem uma sobrevida ainda
maior, principalmente para as mulheres. Assim, quem não quer se surpreender deve
se planejar para ter reservas que durem pelo menos 25 anos.
Mito 2. Certamente vou pagar menos IR
Ao seu aposentar você deixa de contribuir para a Previdência Social e para a
Previdência Complementar. Afinal, sua fase de acumulação termina, e é hora de
sacar os benefícios.
Para fins de declaração de imposto de renda, isso significa que você deixa de
contar com duas deduções importantes, a da contribuição à Previdência Social,
que pode ser integralmente abatida, e a da Previdência Complementar, que é
limitada a 12% da sua renda bruta anual.
Também fica mais difícil justificar deduções com dependentes e educação, já que
seus filhos, ainda que contem com a sua ajuda financeira, provavelmente não são
mais elegíveis como dependentes pela legislação tributária. É bem verdade que
são concedidos incentivos, como a parcela isenta para aposentados com mais de 65
anos, que permite considerar como isento de tributação até R$ 1.313,69 por mês
dos seus rendimentos.
Mas, se considerarmos que esta parcela isenta não é corrigida em linha com a
inflação, o mais provável é que, ao se aposentar, sua alíquota efetiva de
imposto de renda seja bastante próxima daquela que paga atualmente.
Mito 3. Meus gastos devem cair!
Ainda que muitos dos seus gastos eventualmente desapareçam com o tempo, outros
tendem a aumentar, e é preciso ficar atento a isso. Um exemplo prático são os
gastos com remédios e saúde.
Para ilustrar o peso destes itens no orçamento das pessoas de mais idade,
tomamos como base a composição do índice de inflação desenvolvido pela Fundação
Getúlio Vargas, que é voltado à terceira idade: o IPC-3I. A maior diferença na
composição do IPC-3I e o IPC-BR está na parcela dedicada a gastos com saúde e
cuidados pessoais que, no caso do IPC-3I, têm peso de 15% na composição do
índice e, no caso do IPC-BR, têm peso de 10%.
Mito 4. Finalmente, você vai viver de renda!
Isso não é necessariamente verdade, já que a inflação pode comprometer até mesmo
patrimônios feitos para durar por vários anos. Assim, a capacidade que você terá
de viver, ou não, da renda dos seus investimentos, vai depender do tipo de
padrão de vida que você pretende ter.
Lembre-se que deixou de ser verdade a máxima de que os aposentados têm seus
gastos reduzidos, pois não precisam mais arcar com gastos com filhos etc. São
cada vez mais comuns, no Brasil, os casos de aposentados que ajudam os filhos,
pagando escola e/ou plano de saúde dos netos, por exemplo.
Não se deve esquecer que, na fase inicial da aposentadoria, muitas pessoas
tendem a gastar mais com viagens e lazer. Afinal, esta é a hora de aproveitar a
vida. A medida que o tempo passa, e você fica mais velho, é possível que tenha
menos energia para viajar, e seus gastos eventualmente caiam.
Portanto, antes de sair gastando integralmente a renda obtida com seus
investimentos, faça as contas com cuidado. Talvez o melhor, nesta primeira fase
da sua aposentadoria, quando seus gastos ainda não caíram tanto, e você ainda
está disposto, seja arranjar alguma ocupação temporária. A renda obtida pode ser
usada para o sustento, e você pode adiar, por mais alguns anos, o saque os
benefícios do seu plano de previdência, por exemplo.
Mito 5. Nunca mais você vai trabalhar
Além da necessidade de complementar a renda da sua aposentadoria, existem outras
razões pelas quais você deve se manter profissionalmente ativo, mesmo após sua
aposentadoria.
Em primeiro lugar, porque você se mantém mentalmente ativo e alerta, o que, em
última instância, permite que aproveite ainda mais as coisas boas da vida. Você
tem mais flexibilidade e maturidade para experimentar novos desafios, e porque
não aproveitar para colocar em prática antigos sonhos, como dar aulas
particulares, escrever um livro, montar um negócio?
Manter-se envolvido no mundo profissional, mesmo que de maneira limitada, como
um consultor por tempo parcial, lhe abre mais portas, e lhe oferece mais chances
de encontrar uma colocação, caso precise ou queira. A verdade é que ainda são
poucas as pessoas que efetivamente se preparam para esta época de suas vidas, e
aqui não estamos falando em termos financeiros, mas em termos de se manter
ativo.
Procure identificar áreas de seu interesse e, porque não, hobbies, que ao se
aposentar, além de ocupar o seu dia, possam eventualmente se transformar em uma
fonte de renda alternativa. Não se esqueça que as pessoas estão vivendo cada vez
mais, e que muitas delas, frente à maior dificuldade de encontrar emprego,
acabam sendo responsáveis pelo sustento de filhos e netos. Manter-se ativo e
ocupado pode acabar não sendo uma opção, mas sim uma necessidade.
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