A remuneração variável passou por um processo de modernização e adequação ao
contexto organizacional atual. Ela sempre foi conhecida, desde os tempos de
Frederic Taylor, mas, com o tempo, se tornou decisiva para a obtenção dos
resultados das empresas.
"Esta sua propriedade ninguém pode negar: resultados são visivelmente alcançados
e proporcionais à recompensa financeira associada a eles", opina o sócio-diretor
da LCZ Desenvolvimento de Pessoas e Organizações, Luis Felipe Cortoni.
A compensação financeira de fato provoca saltos significativos no desempenho das
pessoas, em termos de produtividade. Entretanto, essa alta performance não é
sustentável por períodos longos. "Diferentemente das formas conhecidas como
recompensas sociais e de interesse pessoal de reconhecimento, com o passar do
tempo, a performance tende a cair, na espera de outro estímulo financeiro".
Ou seja, este tipo de recompensa condiciona a performance a sua presença,
portanto, na sua ausência, a performance cai de freqüência e tende a
desaparecer.
Efeito psicológico
Segundo o sócio-diretor, este tipo de remuneração faz o vínculo do profissional
com a empresa se volatilizar. O motivo é que pessoas altamente orientadas no
sentido das recompensas financeiras transferem esta lógica para a sua relação
com a empresa, condicionando a elas sua permanência, ou não, no emprego.
"Quer dizer, será necessário ganhar sempre para que a performance se sustente.
Quando o ganho não vem, a relação de permanência é questionada. Mais ainda,
sabemos que pessoas que se vinculam exclusivamente a recompensas externas
desenvolvem insuficientemente outros comportamentos desejados na administração
contemporânea, tais como comprometimento com resultados, interesse em inovar e
trabalho com qualidade", explica.
Do ponto de vista de Cortoni, a recompensa financeira não necessita ser extinta,
apesar dos problemas que ela implica. No entanto, é necessário voltar a atenção
a outros incentivos, tais como o reconhecimento individual e coletivo, as
celebrações, a provação das competências e outras recompensas mais humanas, uma
vez que produzem vínculos mais saudáveis e enriquecem os resultados.
Tempo de dedicação ao trabalho
Quanto às disponibilidades dos profissionais para o trabalho, poucos são os que
estão trabalhando menos de 11 horas por dia. "Não se trata de um tema inédito.
Consultores que entram e saem de empresas todos os dias ouvindo pessoas estão
acostumados a esta reclamação, infelizmente. Aqui, a questão torna-se crítica e
um dilema, como tantas outras no ambiente de trabalho dos dias de hoje."
Segundo o especialista, os personagens do enredo - a empresa e os trabalhadores
- ou aceitam as condições dadas, ou transformam essas condições ou se livram
delas. "Parece não existir outra saída e a decisão está sempre na mesma mão para
ser tomada".
"Ainda existe, porém, uma posição assumida por alguns que é a de ficar na
empresa e sofrer, dificultando a própria vida e reclamando de tudo e todos,
menos de si. Esta é, sem dúvida, a possibilidade mais insalubre, embora seja
muito conhecida no cotidiano das empresas. Todos nós conhecemos alguém assim em
algum lugar".
Parece que, nos tempos modernos, as decisões de vínculo, carreira e motivação
são muito mais existenciais do que profissionais tanto para as empresas quanto
para as pessoas.