Apesar da ampla difusão no mercado, a análise técnica encontra certa
resistência no mundo acadêmico por conta do método peculiar de análise e
trabalhos de renomeados autores, como de Eugene Fama*, com resultados empíricos
negativos em relação à eficiência do instrumental.
A despeito das inconsistências, a ferramenta ganha espaço entre os investidores,
sejam autônomos ou profissionais, a cada dia. Além se mostrar uma maneira
acessível e prática para elaboração de estratégias de investimento, a análise
baseada nos gráficos vem conquistando espaço nas mesas de operações, o que, por
sua vez, ampliou a gama de relatórios sobre o assunto.
Esta expansão, intensificada no final do século XX, abriu espaço para novas
publicações com testes empíricos para verificar a validade dos padrões de
análise técnica, dos quais alguns apresentaram conclusões favoráveis ao
potencial preditivo desses padrões, intensificando o debate acadêmico sobre o
assunto.
Academia
Um destes trabalhos foi elaborado pela dupla Osler e Chang**. O estudo,
baseado em testes econométricos e métodos quantitativos, propõe testar o poder
de previsão dos padrões gráficos, com destaque para os famosos O-C-O (Ombro-Cabeça-Ombro)
e O-C-O-I (Ombro-Cabeça-Ombro-Invertido).
Os dois autores desenvolveram um algoritmo capaz de identificar o padrão em
séries de preços e avaliaram o desempenho da linha sequencial no mercado de
câmbio (utilizando para análise seis moedas) com uma base histórica de 20 anos.
Teste no mercado brasileiro
Em uma adaptação à metodologia aplicada por Osler e Chang, os economistas
Pedro Gabriel Boainain e Pedro Valls Pereira testaram a lucratividade de
estratégias de investimento baseadas na identificação de O-C-O´s e O-C-O-I´s no
mercado de ações brasileiro.
O trabalho, intitulado "Ombro-Cabeça-Ombro: testando a lucratividade do padrão
gráfico de análise técnica no mercado de ações brasileiro", baseou-se em séries
diárias de preços de 30 ações no período de janeiro de 1994 a janeiro de 2009.
Para alcançar seu objetivo, os dois economistas definiram diversas estratégias
de investimento condicionais à identificação do padrão gráfico neste período de
tempo e métodos econométricos para verificar a viabilidade econômica e a
previsibilidade da figura.
Por que o O-C-O?
Um aspecto que favoreceu a escolha do O-C-O como objeto de estudo foi a
facilidade de assimilação do padrão por parte do analista técnico, uma vez que
os conceitos são bem difundidos nos guias de análise técnica, revela Boainain.
Como não é um padrão que ocorre constantemente no mercado, existe a tendência de
se operar pouco, e, com isso, reduzir significativamente os custos de transação
da operação, afirma Valls.
Deste modo, os economistas chegaram à conclusão que o padrão têm poder de
previsão no mercado brasileiro, o que dá suporte a estratégias de investimentos
com base nestes padrões gráficos.
Verificaram também que o algoritmo proposto, baseado em inferências estatísticas
e testes econométricos, foi capaz de identificar os padrões gráficos, dando,
portanto, sustentabilidade matemática ao argumento.
Conclusões do trabalho
Verificada a viabilidade estatística do padrão, Valls e Boainain concluíram
que os resultados a favor do poder de previsão do padrão O-C-O são elevados o
suficiente para que mantenham a sua atratividade, em especial para os grandes
investidores, que conseguem redução de custos operacionais. Ou seja, o padrão
gráfico é aplicável ao mercado brasileiro.
Do outro lado, os economistas verificaram que o O-C-O-I não tem poder de
antecipar o fim de uma tendência de baixa e início de uma tendência de alta, ao
passo que só alguns resultados "meramente do acaso" foram positivos.
Ao final do trabalho, Boainain sugere novos estudos acadêmicos sobre análise
técnica, como o desenvolvimento de estratégias de investimento que tentem se
aproximar ainda mais da forma como um analista técnico toma suas decisões,
incluindo o volume negociado das ações, fundamental para o instrumental.
*FAMA, E.F. e BLUME, M.E. Filter Rules and Stock Market Trading, Journal of
Business, v.39, p. 226-241, 1966.
**OSLER, C.L. e CHANG, P.H.K. Head and Shoulders: Not Just a Flaky Pattern,
Federal Reserve Bank of New York staff report 4, 1995.