Muitas perguntas precisam ser respondidas para que os brasileiros percebam
que é preciso planejar seu futuro financeiro. Talvez uma saída para a situação
seja um verdadeiro movimento para a democratização do conhecimento da área.
Ainda que o assunto “previdência” não saia da mídia, não está claro se as
pessoas estão conseguindo compreender o alcance dos problemas, muito menos o que
é necessário fazer para se adequar às mudanças.
Vejamos algumas das perguntas que estão sem respostas:
1) Em que grau os brasileiros estão prontos a aceitar as responsabilidades de
poupar e investir por conta própria para a aposentadoria?
2) Quantas pessoas estão conscientes de que há um forte movimento de
privatização da previdência, que tirará dos ombros dos governos e das empresas a
responsabilidade da segurança de uma renda na aposentadoria?
3) Quantas pessoas sabem que terão de ser investidoras vitaliciamente, condição
indiscutível para garantir as contribuições agora definidas?
4) Quantas estão elaborando suas previsões e investindo para garantir seu futuro
financeiro?
5) Quantas sabem apontar os riscos que estão correndo caso ignorem essas
tendências?
6) Quantas pessoas sabem avaliar, ainda que minimamente o hiato de tempo para o
qual terão que manter suas reservas financeiras? Será que serve como base os 122
anos e quatro meses que viveu Louise Calment, o ser humano mais longevo de que
se tem notícia?
7) Aliás, quantas pessoas sabem quanto custará a aposentadoria e como se
estabelece uma poupança cujo objetivo é ter o futuro sobre controle?
8) Quantas pessoas sabem reconhecer e utilizar com eficiência os instrumentos
financeiros de longo prazo que possuem maior robustez para resistir aos ataques
intermitentes da inflação?
9) De quem é a responsabilidade de se construir um entendimento público sobre a
vulnerabilidade de milhões de pessoas com relação à terceira idade? Governo,
escolas, instituições multilaterais, bancos?
10) O que as pessoas podem esperar do Governo, das empresas e dos agentes
financeiros em relação à previdência?
O problema da falta de dignidade na aposentadoria já é latente no Brasil. A
questão está mais próxima de um mito do que da realidade para a esmagadora
maioria dos idosos brasileiros.
No Rio de Janeiro, por exemplo, conforme dados do IBGE, ainda trabalham, 70,6%
dos idosos entre 60 e 69 anos, 26,4% daqueles entre 70 a 79, e 3% dos que estão
acima de 80 anos. Números, aliás, próximos ao resto do Brasil.
Essas pessoas trabalham por necessidade e não por divertimento! Provavelmente
porque não esperavam viver tanto. Mais provavelmente ainda, porque falharam em
planejar seu futuro financeiro. Erraram nos cálculos da sua própria longevidade.
Evidentemente não planejaram falhar. A verdade é que sequer sabiam que
precisavam planejar, poupar e investir. Os avanços sociais e médicos pegaram
muita gente de surpresa. Mas e quanto as próximas gerações?
Como evitar as vulnerabilidades futuras?
Por mais polêmica que a questão previdenciária seja, apenas tornar público o
problema não é suficiente. O objetivo de curto-prazo dos governos e de seus
parceiros deveria ser aumentar as habilidades do público para lidar com isso.
Alertar as pessoas é bom, mas é preciso ir além.
É necessário aumentar os níveis de confiança dos brasileiros com relação ao
planejamento do seu futuro, através de sérias campanhas de escopo nacional, que
busquem a conquista da cidadania financeira. A sociedade precisa de
esclarecimentos sobre os caminhos que precisam ser percorridos. As respostas às
questões formuladas no início do artigo precisam ser elaboradas e disseminadas.
A necessidade de alfabetização financeira é premente, afinal decisões
financeiras são sempre muito difíceis para as pessoas comuns! Os governos, as
escolas e os agentes financeiros precisam promover a democratização do
conhecimento financeiro, para que todos possam aprender como enfrentar os
desafios de tantas mudanças sociais.