O despertador toca, de alguma maneira ainda sonolento vem o pensamento de que
algo está errado, não pode ser, ainda é muito cedo. As mãos descoordenadas pelo
sono procuram o relógio. Constatam que já é hora de levantar, mais uma vez rumo
a mesma rotina, tudo igual a tantos outros dias. Parece realmente que nada
mudou.
Mas algo definitivamente não está certo, o corpo reclama de cansaço, a
angústia improcedente se alia a falta de ânimo e a uma indisposição persistente
em encarar mais um dia de labuta. Algo foi perdido, ou seja, a maior virtude de
um colaborador, a motivação.
Bem-vindo a um clube que cresce diariamente e assustadoramente de tamanho,
antes restrito e seleto para alguns poucos profissionais que laboravam no
limite, como médicos, bombeiros e policiais, mas que atualmente invade
diferentes ambientes corporativos, o clube da Síndrome de Burnout.
A síndrome de Burnout (do inglês to burn out, queimar por completo), também
chamada de síndrome do esgotamento profissional está relacionada no ambiente
corporativo, ao perfil das pessoas workaholics e ou aquelas com elevadas metas
de desempenho e reconhecimento profissional.
No início os sintomas são leves e podem ser confundidos com milhares de
outras doenças, cansaço excessivo, fadiga incessante, desconfortos, dor de
cabeça, pálpebras pesadas e um leve desânimo marcam o compasso no
desenvolvimento desse distúrbio.
Como nem sempre os sintomas levam as verdadeiras causas, a Síndrome de
Burnout costuma progredir silenciosamente entre os colaboradores das
organizações, nos mais diversos escalões, com especial atenção, aos altos cargos
de gestão. O esgotamento físico e mental levam enfim, essas pessoas a um quadro
depressivo e a comportamentos agressivos e irritadiços para com seus pares e até
familiares, construindo inconscientemente relações nocivas e improdutivas no
ambiente de trabalho e agressivas e egoístas nas relações familiares.
Em tempos de muita retórica a cerca da qualidade de vida dos empregados,
muito pouco tem se feito efetivamente para melhorar as características do
ambiente de trabalho. E a dura realidade competitiva das empresas continua sendo
a de produzir para seus funcionários, metas cada vez mais agressivas, redução no
quadro de colaboradores, consequente incorporação de funções, diminuição da
faixa etária dos colaboradores e aumento de responsabilidades, tudo em benefício
da continuidade e incessante multiplicação das margens, dos lucros e da
rentabilidade.
Nada contra a China, mas outro dia liguei para um CEO, para cumprimentá-lo de
seu aniversário, do outro lado reconheci a voz de um amigo agradecido pela
ligação, mas triste por estar passando o dia de seu aniversário no aeroporto Xi´an
Xianyang, esperando conexão para Varsóvia ou algo assim. Sua desilusão em ter
que ininterruptamente estar à disposição da empresa ao redor do globo e em
contrapartida ser figura cada vez mais rara na vida e no crescimento dos filhos
era evidente e seu desempenho começava a oscilar, nos últimos tempos, tanto
quanto seu humor e seu ressentimento pela situação.
O capital humano e o intelecto que este carrega é o ativo mais importante das
organizações. Como realmente preservar essa riqueza, sem exaurir sua fonte
produtiva?
As mudanças passam por profundas transformações e ações de ruptura na cultura
corporativa de muitas empresas e na ação pessoal, através de uma ambição mais
medida e metas menos agressivas.
O acúmulo de poder, exposição e fortuna de nada valem se não tivermos ao
menos alguns momentos de liberdade em nossas ações e de um convívio harmonioso
com nossos amigos e familiares. A riqueza e o sucesso profissional só fazem
sentido quando alinhados com o equilíbrio entre o ter e o ser. Vivemos em
suposta democracia, mas continuamos escravos dos nossos próprios erros. Abaixo a
ditadura do tudo a qualquer preço!