Alocar recursos em ações pode ser mais que uma opção de investimento. Para
quem entende de assunto, o mercado de capitais também pode ser mais uma
alternativa de carreira. Não é de hoje que muitos traders mudam suas vidas
profissionais para trabalhar para si mesmos, apenas operando no mercado.
E mudanças não foram poucas na carreira do hoje trader profissional André
Antunes, de 28 anos. De oficial de Infantaria do Exército para gerente de
Tecnologia, a rotina deu uma guinada. Para se tornar um trader profissional,
contudo, ele deu apenas um passo, porque atuava com TI em uma corretora. Nesse
período, André sequer investia em ações. Ele começou a se interessar pelo
assunto aos poucos, para entender o negócio para o qual trabalhava. “Não tinha
pretensões como investidor. Mas vinha aprimorando meus conhecimentos no mercado
de capitais através de cursos e certificações especificas”, conta.
Os conhecimentos que acumulou, somados a uma oportunidade, fizeram com que o
gerente de TI deixasse a área e trabalhasse para ele mesmo. “O trader
profissional é um profissional autônomo e que tem o objetivo de operar apenas
para ele mesmo”, afirma o gerente de Marketing da Interfloat, Otávio Ulisses de
Araújo Sant'Anna, que dá palestras sobre o papel dos traders profissionais.
Ele explica que um trader profissional só atua no mercado de ações e se
sustenta com isso. “Ele tem de acompanhar o mercado o tempo todo”. O que é muito
diferente do trader “amador”. “Esse não está ativo o tempo todo e tem outra
atividade que o sustenta”, explica Sant'Anna. Além disso, o trader profissional,
diferente do “amador”, é especializado. “Cada um tem sua própria técnica e
modelo que fazem sentido. Os profissionais são muito especializados. Eles têm um
objetivo específico, bem diferente do investidor de longo prazo, que precisa
diversificar”.
Liberdade x Empenho
Quando Antunes resolveu se sustentar com a bolsa, ele já não tinha mais
expectativas de carreira na área de TI. “Nessa área, eu já tinha atingido meus
objetivos de carreira”, afirma. “O que me levou a virar um trader profissional
foi a liberdade de não depender de chefe nenhum”, conta. “A partir dessa
escolha, sabia que tudo dependeria apenas de mim. Era eu contra eu mesmo”.
A transição de carreira, para Antunes, foi natural, mas necessitou de um bom
planejamento. “Eu formei um caixa financeiro de seis meses de contas pagas”,
calcula. Para Sant'Anna, se tornar um trader profissional exige mais que um
planejamento financeiro. “Como o objetivo dele é muito específico, ele tem de
conhecer bem o ativo que ele escolheu para trabalhar”, afirma.
E para isso a disciplina é essencial. “A disciplina do trader profissional é
maior que a disciplina do amador. Ele tem que se manter firme no jogo e mesmo
que ele tiver prejuízo, ele tem de continuar, porque é disso que ele vive”,
afirma. Se manter firme no jogo é o que Antunes mais aprende desde que se tornou
trader profissional, em 2008. “No começo, o mais importante foi aprender a
perder”, conta.
Flexibilidade e retornos
Sant'Anna explica que assim que passa a operar de maneira profissional, o
trader começa a ver retorno entre seis meses e um ano. Mas tudo dependerá da
disciplina e do ativo. “Os cursos não serão suficientes. A prática e a vivência
é que moldarão esse profissional, pois cerca de 70% do resultado de um trader
decorre do aspecto emocional, do controle do risco”.
Para Antunes, o retorno veio alguns meses após muitas perdas. “Pensei em
desistir mais de cinco vezes”, conta. Passado o susto, ele diz que a liberdade
de atuar no mercado para ele mesmo já lhe traz ganhos maiores do que o que ele
tinha quando era gerente de TI. Apesar da possibilidade de fazer um horário bem
flexível, Antunes opera em horário comercial. “A rotina depende de como está o
mercado, mas não me prendo a ela”, afirma. Tanto que, se o tempo tiver bom, ele
desce a serra rumo a uma onda perfeita para surfar...no meio da semana.
Erros
Tudo parece bom na rotina de um trader profissional. Mas não é bem assim.
“Muitos começam pensando que vão ganhar dinheiro logo e não se prendem a um
plano de ação. Isso é um erro”, afirma Sant'Anna. “Excesso de ganância e de
otimismo são os erros mais comuns de quem entra no mercado”, afirma.
Se dar bem nessa área, para o especialista, requer uma boa dose de bom senso.
“Ele precisa entender que ele não vai ganhar sempre e precisa saber exatamente o
que quer, definir sua escolha de carreira”.