Uma das características que o mercado de trabalho hoje mais preza é a
facilidade que o profissional tem para se comunicar. Ainda assim, profissionais
que ficam isolados na equipe não são tão raros no mercado. A situação pode
parecer apenas um detalhe, mas ela pode gerar danos para o profissional e para a
empresa.
Profissionais mais introspectivos, que preferem o trabalho individual, não
veem problemas na opção de permanecerem quietos no seu canto. Para o gerente de
Projetos em Desenvolvimento de Pessoas do Idort-SP, Danilo Afonso, esse
isolamento consciente, em uma equipe na qual a interação com os colegas é
essencial, não é a decisão mais acertada.
“Existem vários tipos de trabalho. Para aqueles que são mais individualistas,
o isolamento não é o problema, mas nas posições que exigem interação, isso é
grave”, diz. A gravidade deve-se ao fato de a comunicação ser um dos pilares do
desenvolvimento profissional, na avaliação do presidente da De Bernt Entschev
Human Capital, Bernardo Entschev. “O tripé para um bom desenvolvimento da
carreira baseia-se no trabalho bem feito, na ética e na comunicação efetiva”,
afirma.
Os motivos
Exceto para aqueles cujo trabalho exige certo isolamento, as consequências
para os que optam por esse isolamento e os que são isolados são graves e levam
até à saída do profissional. Mas por que isso acontece? Os motivos do
isolamento, segundo os especialistas consultados, têm diversas naturezas.
Para Afonso, o isolamento, quando parte do próprio profissional, pode
sinalizar certa insatisfação. “Muitas vezes, existe uma diferença de valores
muito grande e o profissional acaba se desencantando com o trabalho e começa a
se isolar”, afirma.
Além da insatisfação, outras situações mais graves podem gerar o isolamento
do colaborador, como o fato de ele ser um profissional centralizador.
“Determinados comportamentos destrutivos causam o isolamento”, afirma Entschev.
Para ele, profissionais que competem de maneira desigual, sonegam informações e
agem de modo pouco ético acabam sendo isolados pelos colegas naturalmente.
Outro motivo que leva ao isolamento dos colaboradores é a desatenção dos
próprios líderes. “Muitas vezes, eles não integram aqueles que entram e, com a
correria do dia a dia, eles esquecem de olhar para os profissionais. E, quando
eles começam a olhar, pode ser tarde demais e o profissional já está querendo
sair”, afirma Afonso.
Os efeitos
Independentemente dos motivos que levam muitos profissionais a se isolarem,
essa situação não é saudável. “As consequências são diversas, desde a queda no
rendimento e da motivação até a depressão, dependendo do caso”, afirma Afonso.
No fim, todo esse cenário culmina na saída do profissional ou na acomodação dele
a essa situação.
Os especialistas concordam que um profissional isolado é um profissional
esquecido. “Ele vai ser menos lembrado e vai perder oportunidades”, afirma
Afonso. “Você não é chamado para novos projetos, as pessoas que estão abaixo de
você hierarquicamente podem ter a impressão de que você é arrogante, você é
excluído dos círculos sociais e a sua exposição no mercado fica prejudicada”,
afirma Entschev.
Segundo ele, os riscos do isolamento podem nem ser tão sentidos agora, porque
muitas vezes os profissionais não se dão conta disso. “Mas, na hora de mudar de
posição, por exemplo, você vai perceber que o seu networking está reduzido”,
ressalta o presidente da De Bernt.
Mudanças
Diante de mais desvantagens que vantagens do isolamento, os profissionais
que se encontram nessa situação precisam repensar seu comportamento. “Se a
pessoa foi isolada, aí entra o papel do líder, que tem que conversar e trazer
esse colaborador de volta para a equipe”, afirma Afonso.
Se o problema for o próprio profissional, ele mesmo deve perceber os
prejuízos que esse isolamento pode acarretar à sua carreira. Ainda assim, o
líder pode dar uma forcinha. “O gestor dele é quem deve tentar estimulá-lo ou
mesmo dar treinamento para que ele saiba lidar com as outras pessoas”, diz
Entschev.
No fim das contas, essas mudanças valem mais a pena que a saída de um
possível talento. “Quando isso acontece, o custo é muito maior, porque, além do
treinamento que a empresa terá de dar àquele que entrar, a empresa perde o
conhecimento que o colaborador que saiu está levando”, completa Afonso. “O custo
de treinar o líder para desenvolver as pessoas é bem menor”, diz.