Você é daqueles profissionais com bom desempenho, que realiza bem suas
tarefas, é elogiado por gestores que estão acima dos seus líderes diretos, mas
sempre que tem uma daquelas ideias que podem melhorar ainda mais os resultados
da equipe e, por consequência, o seu desempenho, ela é barrada, e pelo seu
líder? Cuidado, esse pode ser um sinal de que você representa uma “ameaça” para
ele.
Posturas como essas por parte de alguns líderes, geralmente os mais
centralizadores, não são exceção, na avaliação da diretora de Consultoria da
Ricardo Xavier Recursos Humanos, Neli Barboza. “É possível existir gestores com
essa postura”, acredita. “Mas depende muito da maturidade desse líder”, conta.
Segundo ela, muitos gestores sentem que seu cargo pode ser tomado a qualquer
momento por determinado profissional, principalmente, claro, por aquele que
mostra resultados, tem boa convivência com a equipe e com outros líderes.
Contudo, diz Neli, essa sensação pode ser apenas uma fase pela qual esse gestor
passa, deixando-o mais fragilizado e inseguro.
A headhunter da De Bernt Entschev Human Capital Emmanuele Spaine, por outro
lado, é enfática ao dizer que apenas líderes muito jovens podem enxergar em um
subordinado uma ameaça. “É importante dizer que isso acontece apenas com aqueles
que ainda não desenvolveram a segurança e a experiência para serem líderes”,
afirma.
Defesa do líder
“O bom resultado de um profissional não o torna uma ameaça para o líder. Ao
contrário, o gestor também ganha com isso”, ressalta Emmanuele. Para as
especialistas consultadas, esse é o papel do líder: o de desenvolver o
profissional e possibilitar o crescimento dele. “Desempenho não gera
desconforto. E esse é o papel do líder, o de motivar o profissional para que ele
dê resultados”, afirma a headhunter.
Neli concorda, mas ressalta uma brecha. “Essa é a missão dele, mas muitos
enxergam nisso uma ameaça e esse líder acaba desenvolvendo, ainda que
inconscientemente, mecanismos de defesa”, afirma a diretora. Ela acredita que
esses mecanismos podem chegar a extremos, fazendo com que esse gestor cometa
assédio moral ou mesmo demita o profissional que acabou se tornando seu foco.
Gestores inseguros e imaturos podem acabar restringindo a atuação do
profissional que lhe passa essa ameaça. “Ele começa a colocar freios no
crescimento do colaborador, como forma de se defender”, avalia Neli.
Para ela, esse tipo de comportamento pode ter vários fundamentos. Mas o
principal deles, como afirmou a headhunter, é a falta de preparação, e até de
suporte por parte da companhia. “Se a empresa não tem um plano de carreira para
esse líder, ele vai se tornar mais inseguro”, reforça. Para ela, as empresas
precisam também trabalhar no desenvolvimento dos gestores, e não apenas dos
profissionais, para evitar comportamentos desse tipo.
Profissional como foco
Além da atuação da empresa, as especialistas consideram a atuação do próprio
“profissional-foco” como importante para amenizar essa percepção do líder. Se
ele começar a excluir o colaborador de novos projetos ou mesmo de projetos
antigos, se o tratar com indiferença e, de alguma forma, barrar sua convivência
com outros líderes ou mesmo colegas, pode ser um sinal de que representa uma
ameaça.
Contudo, Neli ressalta que esses sinais podem representar outro tipo de
situação, por isso, o profissional deve ficar atento para não se engrandecer ao
acreditar que é tão bom a ponto de ameaçar o cargo do seu gestor. Ao contrário.
Comportamentos desse tipo devem ser vistos com cuidado pelo colaborador. E mais
vale uma boa conversa do que ficar fantasiando os motivos que geraram tal
comportamento. “O mais certo é falar direto com o líder, para entender o que
está acontecendo”, afirma Neli.
“Se o profissional sentir que, de alguma forma, o comportamento de seu gestor
está o prejudicando, ele precisa se aproximar e se mostrar para que o líder
possa ver nele um colaborador, um parceiro, alguém que vá contribuir para o
trabalho da equipe e do próprio gestor”, acredita Emmanuele.
Já o líder precisa passar por um momento de autoavaliação. “Ele precisa
questionar os motivos que fazem com que ele se sinta ameaçado”, afirma Neli. “De
certa forma, esse tipo de situação ajuda o líder a sair da zona de conforto. É
preciso que ele veja nisso uma chance de se reavaliar”, completa.