Comprar na mínima e vender na máxima é o sonho de todo investidor. Mas, assim
como muitos sonhos, esta é uma operação praticamente impossível de acontecer. Em
tempos voláteis, a recomendação atual da maioria dos analistas é que o
investidor siga observando o mercado do lado de fora, aguardando um sinal de
retomada, para então voltar a operar. Há ainda quem sugira ir comprando aos
poucos, de olho nas oscilações da bolsa.
De fato, identificar a melhor hora para voltar para o mercado exige um pouco
mais de esforço, mas não é impossível. "É difícil, pois quando os sinais de uma
retomada da tendência positiva começarem a ser notados, o melhor momento de
compra já terá passado", contextualiza o economista chefe da Gradual, Alexandre
Perfeito.
Uma alternativa para o investidor, porém, pode estar na análise gráfica. Segundo
os assessores de investimento Lucas Mathias e Tiago Machado, da Geral
Investimentos, dois bons momentos para quem investe em bolsa identificar um
ponto de reentrada no mercado é quando o índice de referência, no caso o
Ibovespa, "estabelece um suporte" ou "rompe uma resistência".
Fique de olho no suporte e na resistência!
Nestes pontos chamados de "suporte" e "resistência", quando atingidos, a
tendência é de que haja uma paralisação nos preços ou ainda que eles mudem de
rumo. Ou seja, de modo simplista, quando um ativo atinge um suporte podemos
dizer que ele chegou a um ponto no qual os investidores querem mais comprar do
que vender, fazendo o movimento de queda parar. Já quando este mesmo ativo
atinge uma resistência, significa justamente o contrário, quando o interesse em
vender é maior que o de comprar.
Para definir estes dois conceitos, especialistas indicam que o investidor
observe um gráfico de oscilação de determinado ativo durante um determinado
período de tempo. Com esta informação em mãos, a dica é observar os fundos e
topos que eles tiveram, ou seja, as variações extremas, tanto de maiores altas
como de maiores baixas. "É essencial que o investidor defina quais os topos e
fundos que o papel teve para, então, definir os suportes e resistências dele. O
melhor suporte é aquele que foi resistência anteriormente", destacou Machado.
Quando o preço da ação atinge um patamar de suporte ou resistência, os
especialistas explicam que eles estão testando estes níveis. E, caso eles sejam
ultrapassados, há um rompimento. "O ponto de entrada e saída do mercado está no
rompimento", disse Machado. Vale dizer que esta é a forma mais simples de
definir os dois conceitos básicos da análise gráfica, também conhecida como
análise técnica.
De acordo com os assessores de investimento da Geral, esta forma de identificar
um ponto de entrada ideal no mercado, ou, no caso, de reentrada, é a mais fácil
para o investidor que não domina os conceitos gráficos. Mas, para aqueles que
são mais estudiosos do mercado, Mathias lembra que através dos ângulos de Gann
também se chega aos suportes e resistências de um ativo.
Avalie o noticiário, mas não se guie por ele
De acordo com Mathias, o noticiário externo, especialmente a questão da
crise fiscal enfrentada por alguns países da Europa, também deve ser considerado
na hora de o investidor optar por voltar a investir na bolsa. Contudo, o
assessor de investimentos chama atenção para o fato de que não é recomendável
guiar seus investimentos apenas com base nisso.
"A reação dos mercados ao noticiário é incerta. Na última quinta e sexta-feira
(dias 2 e 3 de dezembro), o Ibovespa deu um alívio e voltou a fechar em alta. O
problema na Europa deixou de existir? Não. Simplesmente o mercado se aproveitou
de rumores teoricamente positivos de que o FMI (Fundo Monetário Internacional)
teria a ajuda do G-20 para dobrar seu caixa disponível à ajuda de economias em
crise, o que nem foi confirmado, para mudar o clima das bolsas. Na verdade, nada
mudou em relação à situação fiscal na Europa. Os países continuam em crise. Só
que o mercado adiou um problema, que deve voltar a incomodar logo mais à
frente", disse Mathias.
O assessor de investimentos destacou ainda a questão dos dados sobre o mercado
de trabalho nos Estados Unidos, divulgados na última sexta-feira (3), que
mostraram números aquém do previsto no último mês. "O mercado até chegou a cair
um pouco, em um primeiro momento depois da divulgação dos números, mas voltou a
subir logo em seguida. Então, a gente vê que a interpretação do mercado sobre o
noticiário econômico não deve ser a única coisa levada em conta na hora de
decidir tomar posições em bolsa", disse.
Mathias explicou que, "é lógico", se o fluxo de notícias for positivo e o
investidor notar o início de uma tendência de alta ao menos no curto prazo para
o mercado, "ele deve comprar. Mas, não será no melhor momento, pois ele já vai
ter passado".
Quer garantir? Tenha o foco no longo prazo!
Se a análise gráfica exige mais tempo de interpretação do mercado do que
aquele que você tem disponível, não se preocupe, há outra saída. De acordo com o
analista Rossano Oltramari, da XP Investimentos, o investidor pode aproveitar o
atual momento da bolsa, que segundo ele está "muito barata", para tomar
posições, mas com um detalhe: pensando no longo prazo.
"Se a gente for analisar o curto prazo, o cenário é bastante incerto. A questão
da Europa, principalmente, deve continuar trazendo pressões e alívios até que
realmente sejam tomadas medidas efetivas para conter a crise nas economias da
região", disse Oltramari. "Mas, se olharmos para o longo prazo, nós só temos
perspectivas positivas", completou.
O analista ressaltou que o cenário macroeconômico brasileiro tem mostrado
indicadores que confirmam um crescimento sustentável da nossa economia, dando
ênfase para a projeção de um PIB (Produto Interno Bruto) elevado em 2010 e 2011.
Este processo contribui positivamente na expectativa de que o mercado nacional
volte a subir nos próximos anos.